Origem: Revista O Cristão – Batalha Espiritual

O Capacete da Salvação

Efésios 6:10-18 

O capacete da salvação e o escudo da fé estão intimamente ligados, embora sejam perfeitamente distintos. O último é a confiança no que Deus é, o primeiro no que Ele fez. O escudo transmite a ideia de uma confiança mais geral no próprio Deus, o capacete de uma mais especial garantia pessoal na libertação que Ele operou, para nós, em Cristo Jesus. Assim, como vimos, um é sobre todos, o outro coroa a todos. Nossa armadura defensiva está completa. Podemos levantar nossa cabeça com santa ousadia no dia da batalha; podemos enfrentar o inimigo mais forte, ou todas as hostes do inferno, com coragem invencível. Colocamos “toda a armadura de Deus” e estamos cobertos com a força e a salvação de Deus. Bendito seja o Senhor! Somos completos n’Ele, que é a “Cabeça de todo principado e potestade”. Que inimigo pode nos prejudicar, que inimigo pode nos alcançar lá? Estando na luz como Deus está na luz, os governantes das trevas deste mundo nunca se aventurarão lá [nos lugares celestiais]. N’Ele, somos elevados até acima dos anjos que nunca pecaram. Maravilhosa, abençoada, gloriosa verdade! Que possamos usar isso para Sua glória, bênção de nossa alma e derrota de nossos inimigos!

Uma salvação conhecida 

Mas será que consideramos bem que o nosso “capacete” é uma salvação conhecida? É mais, muito mais, do que simplesmente esperar ser salvo no final. O inimigo logo tiraria tal capacete da nossa cabeça. Mas alguns podem perguntar: Não é bíblico esperar pela salvação? O que o apóstolo quer dizer quando diz: “Por capacete a esperança da salvação?” (1 Ts 5:8). Certamente nada pode ser mais claro do que isso. Verdade, mas o apóstolo está falando em 1 Tessalonicenses 5 da esperança da vinda do Senhor, não do nosso perdão e aceitação. Nesse contexto, isso, é claro, inclui a glória pela qual esperamos. Alguns pensam que sempre, e onde quer que a palavra “salvação” for usada, ela deve significar a salvação da alma do pecado e do inferno. Esse é um grande erro, e tem sido o meio de confundir a muitos e levar muitos à falsa doutrina. A referida passagem é extremamente bonita. “Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação” (ARA). Aqueles aqui mencionados são os filhos da luz e do dia – os que estão caminhando em comunhão com Deus na “fé e amor”, e com os olhos brilhantes que veem de longe a “esperança”, fixada mais especialmente em Cristo, que está vindo para nos levar para estar com Ele em glória. Esta é a verdadeira e apropriada esperança do Cristão – a esperança da vinda do Senhor. Temos tudo agora menos a glória. Nós ainda estamos no corpo natural, portanto, temos esperança, esperamos, sem nenhuma incerteza, pelo corpo glorioso, graças ao Senhor; E nos “gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 5:2; Fp 3:21). Mas há outra passagem que parece ensinar, como muitos dizem, que uma salvação conhecida é impossível neste mundo – que devemos esperar até chegarmos ao tribunal antes de sabermos com certeza como isso será conosco. É este: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2:12 – ARA). Aqui, argumenta-se que podemos trabalhar bem por um tempo, mas infelizmente falhamos no final e finalmente não estaremos à altura.

Nossa libertação final do combate 

Como na outra passagem, o erro surge de não se considerar o significado da palavra “salvação”. Para ver a sua aplicação, o contexto deve ser considerado. Tanto no versículo 12 quanto em toda a epístola, “salvação” é considerada como uma coisa futura. O próprio Paulo diz: “Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito” (Fp 3:12). Isso, é claro, ele não poderia ser até que estivesse com Cristo em glória. Claramente, então, nossa libertação final de conflitos de todo tipo está implícita na palavra “salvação”, como aqui usada. Portanto, Cristo é mencionado como um “Salvador” no mesmo capítulo, quando Ele vem para transformar nosso corpo de humilhação. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20 – ARA). Aqui não é apenas uma questão da salvação da alma do pecado, mas do corpo de humilhação. O erro surge da suposição de que “salvação” tem apenas um significado no Novo Testamento. Aqueles que pensam assim devem muitas vezes sentir-se em dificuldade. Por exemplo, em Romanos 13 lemos: “porque nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” (v. 11). Como se explica isso? Simplesmente pelo contexto. Aí está a dificuldade. Achamos que a conexão aqui é com “o dia”, mas o dia não havia chegado – o dia da glória. Estava, porém, cada vez mais perto. Daí o coração é animado e encorajado, no combate, pela Palavra do Espírito que se segue: “Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13:12).

Trabalhando a nossa salvação 

Podemos perguntar, então, qual é o verdadeiro significado destas palavras: “operai [desenvolvei – ARA] a vossa salvação com temor e tremor”? Procure cuidadosamente o que acontece antes e depois dessas palavras. Assim, vamos encontrar o significado para a passagem. Paulo deixou os santos em Filipos, e Deus está com eles. Não que Deus estivesse ausente quando Paulo estava presente; essa não é a questão. Deus nunca deixa, nem abandona o Seu povo. Mas quando um pai está presente e faz tudo por seus filhos, eles estão predispostos a apoiar-se nele; quando ele está longe deles, eles devem pensar e trabalhar por si mesmos. Assim tinha sido, até então, com os filipenses. E Paulo disse: “Assim pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”. O apóstolo que havia trabalhado entre eles estava agora longe, prisioneiro em Roma. Ele não estava mais presente para ajudá-los com seu conselho e energia espiritual. Eles foram, então, lançados mais diretamente sobre o próprio Deus. Então ele diz, “porque Deus é Quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”. Portanto, eles deveriam trabalhar ainda mais fervorosamente, mesmo com “temor e tremor”, visto que Deus estava operando neles. Ele os exorta a “temer e tremer”, não para que caiam e se percam, mas para que não desonrem a Deus por qualquer falta de zelo, de diligência, de fervor ou de fidelidade, no dia da provação.

Tinham agora de enfrentar as ciladas do inimigo sem a ajuda da presença de Paulo, mas Deus agia neles; por isso a sua perda se converteu em grande ganho. Eles foram lançados inteiramente sobre Deus para toda ajuda, todo conselho e toda orientação necessários. No lugar de enfraquecer o crente, isso o encoraja para o serviço e para a batalha. Ao mesmo tempo, não devemos esquecer que há um aviso profundo e solene nas palavras do apóstolo. É como se ele tivesse dito: “Vocês têm muitas dificuldades e perigos para enfrentar e superar em seu caminho através do deserto. O combate é sério: Vocês têm os esforços de um inimigo poderoso, sutil e ativo contra quem lutar, e eu não estou mais com vocês para ajudar com o meu conselho, para exortá-los e estimulá-los com o meu exemplo. Vocês devem orar mais, ser mais vigilantes, mais sóbrios, mais pessoalmente dependentes dos recursos do próprio Deus”. “ porque Deus é Quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade”. Assim eles foram coroados, e assim todos os guerreiros deveriam ser coroados, no dia da batalha, com uma conhecida e apreciada salvação.

Salvação conhecida e apreciada 

O apóstolo é nosso nobre exemplo em tudo isso, bem como nosso sábio conselheiro. Foi esse capacete de salvação que lhe deu, quando prisioneiro e acorrentado, tanta ousadia e energia no meio de seus inimigos. Sem medo do poder do mundo que estava diante dele, ele ergueu a cabeça no gozo consciente de seu relacionamento com Deus e desejou sinceramente que seus juízes e seu público fossem tão felizes quanto ele. “Assim Deus permitisse”, disse Paulo a Agripa, “que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias” (At 26:29). Ele não estava pensando em si mesmo, pois não tinha nada a temer por si; nenhum golpe do inimigo poderia privá-lo de seu capacete. Foi assegurada pela cruz e pela glória de Jesus, e brilhava diante de todos. Essa salvação presente e conhecida libertou-o para pensar nos outros, cuidar do bem dos outros e apelar ao coração dos outros, em palavras de ardente eloquência. Assim, que possamos guerrear e lutar, com a salvação como nosso capacete, por meio do poder de um Espírito Santo não entristecido.

Things New and Old, Vol. 14 (adaptado)

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