Origem: Revista O Cristão – O Caráter Moral dos Últimos Dias

Características dos “Últimos Dias”

“Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos” (2 Tm 3:1); isso se refere ao tempo de encerramento da Cristandade. Judas também se refere a este tempo quando fala do “último tempo” (ARC), quando haveria escarnecedores (v. 18). Agora é importante que saibamos quais são as características que o Espírito de Deus descreve como associadas a esses “últimos dias”.

Nesta Epístola de Judas, encontramos duas marcas distintas pelas quais o Espírito Santo descreveu a hora final desta dispensação: (1) o espírito da liberdade intelectual, ou o pensamento livre, que rejeita os mistérios de Deus; e (2) a prevalência da frouxidão moral.

Em 2 Pedro 3, somos informados de “que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da Sua vinda?” Aqui, “os últimos dias” são marcados por um espírito de escárnio, e o objeto disso é um dos preciosos mistérios de Deus – a segunda vinda do Senhor.

Se nos voltarmos para a primeira epístola de João, encontramos a mesma coisa mencionada como o espírito do anticristo, que já estava operando e que despreza os mistérios da verdade. “Filhinhos”, diz ele, “é já a última hora” (1 Jo 2:18), e depois descreve o que caracteriza a última hora – a negação de que Jesus é o Cristo – a negação do Pai e o Filho. Agora, por essas duas testemunhas (Pedro e João), temos um caráter muito definido dos últimos dias. Eles serão marcados por um espírito escarnecedor e infiel que zomba da vinda do Senhor e que nega o grande mistério das Pessoas da Divindade.

Frouxidão moral 

Se formos à Epístola de Judas, descobriremos que não são essas características que marcam “os últimos dias” ali, mas um estado terrível de frouxidão moral, como Paulo nos dá em 2 Timóteo 3. É sobre a frouxidão moral de que se fala nessas duas epístolas. De acordo com o testemunho de Paulo, os homens são “amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons. traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”. Esta é uma imagem horrível. E lembre-se, é a Cristandade que é descrita. Eles nos instruem de antemão que os últimos dias da Cristandade devem ser marcados por uma terrível condição moral, ou prática, bem como por um espírito infiel e escarnecedor que rejeita os mistérios da verdade.

Agora você pode me perguntar: o que temos a ver com essas coisas? Ah! amados amigos, devemos lidar com eles. Devemos conhecer os inimigos contra os quais temos que lutar – as formas do poder de Satanás contra as quais temos que vigiar, e não adianta escapar de uma das armadilhas e cair na outra. Não será suficiente apenas guardar os mistérios da verdade; devemos vigiar todo o nosso comportamento, para não cairmos na condição prática geral dos “últimos dias”. É muito provável que as duas características descritas não se apliquem à mesma pessoa. O intelectual moderno de pensamento infiel pode ser moral e amável, enquanto o homem de conduta ímpia pode ser alguém que professe um credo ortodoxo. Judas não vê aquilo do que João fala.

Santidade prática 

Agora, desejo ser prático – direcionar sua atenção especialmente para um ponto. Quando o Espírito Santo toma Sua direção legítima, Ele fala de Cristo – da salvação comum. Seu trabalho é “tomar as coisas de Cristo e mostrá-las para nós”. Mas Ele está no lugar de serviço na Igreja e, portanto, quando há problemas às portas, Ele Se afasta e exorta “a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”. Não é pela ortodoxia[1] que os santos são exortados aqui a lutar, mas pela santidade da fé. Somos exortados a batalhar “pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos” (AIBB), contra os “homens ímpios” descritos como “que convertem em dissolução a graça de Deus”, os “homens ímpios” que negam, não o Pai e o Filho, mas o “Senhor” Jesus Cristo. Note! que negam Jesus Cristo, não como Salvador, mas Jesus Cristo como SENHOR; isto é, aqueles que de forma prática se opõem à Sua autoridade – que “rejeitam a dominação (senhorio – JND) – que rejeitam restrições. Judas não está falando de Jesus como Salvador, mas de Jesus como Senhor. Seu governo aqui é o pensamento na mente do Espírito Santo. Deveríamos recebê-la como uma palavra sólida e salutar. Acaso, não é mau quando um santo não exerce esse julgamento contínuo de seus pensamentos, sua língua, seus feitos? Não devemos dizer que nossos pensamentos, lábios, mãos ou pés são todos eles nossos. Devemos entendê-los como estando debaixo de senhorio. Não devemos desprezar o domínio.
[1] N. do T.: Ortodoxia provém da palavra grega “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. É a qualidade daquilo que está em conformidade com a doutrina tida como verdadeira.

A Epístola de Judas coloca todos nós em uma santa torre de vigia, para vigiar, não contra um espírito que despreza os preciosos mistérios de Deus (as palavras de Pedro e João fazem isso), mas contra as tendências do coração natural de buscar se satisfazer a si mesmo. Se Pedro nos coloca olhando em uma direção – vigiando contra as formas e ações da mente infiel – Judas ergue outra torre de vigia, da qual devemos olhar e nos proteger contra os modos de indulgência própria e contaminantes que enfraqueceriam toda a vigilância moral – uma guarda que protege contra o espírito que contradiz o senhorio de Jesus sobre os pensamentos, os feitos e os caminhos de Seu povo.

Lombos cingidos 

Então ele continua e diz: “Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré”. Aqui você observa como o Livro de Deus é maravilhosamente proveitoso na instrução. Nós recebemos instruções da história do céu que o Espírito em Judas nos dá (v. 6). Ele então desce o curso da história divina desde o princípio e reúne esses vários exemplos para pressioná-los sobre nós, advertindo-nos contra um estado de frouxidão moral. E observe como ele descreve esses desprezadores ímpios das dominações. “Estes são manchas em vossas festas de amor apascentando-se a si mesmos sem temor”. A ausência desse “temor” indica esse estado de frouxidão moral do qual falo.

Ó amado! Gostaria que essa palavra na qual estamos meditando nos incite a “cingir os lombos” de nossa mente. Imaginamos que temos o direito de seguir nosso próprio caminho? Não temos direito de fazer isso. Como já foi dito: “No momento em que você faz algo porque é sua própria vontade, você pecou”. Fazer a nossa própria vontade, porque é a nossa própria vontade, é a própria essência da rebelião contra Deus.

Ele então volta à profecia de Enoque. Esta profecia é para executar juízo sobre os ímpios, “por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram”. É sobre a impiedade que se prevê que o juízo caia. E se você e eu olharmos a Cristandade em redor, mesmo agora, não veremos uma prevalência de impiedade suficiente para provocar o juízo do Senhor?

Mas tomemos esta palavra para nós mesmos. Que o Espírito a aplique à consciência. Se eu tomar minha própria vontade como regra de minhas ações e, assim, desprezar “a dominação”, estou (no princípio da minha mente) à caminho do juízo o qual Enoque profetizou.

Ó amado! que possamos ser cuidadosos e vigilantes em nosso comportamento e maneiras morais. Jesus é tanto o nosso Salvador como Senhor. “Amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé”.

O amor de Deus 

Novamente, há o mesmo assunto de advertência. Os santos são exortados a edificar-se em sua “santíssima fé”. “Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus”. E qual é o “amor de Deus” nessa passagem? É o amor de Deus em João 15. “Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; do mesmo modo que Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e permaneço no Seu amor”. É o gozo complacente do amor de Cristo. Isso torna legalista o caminho de um santo? Não; apenas liga o coração a Jesus com um novo cordão como a nova fonte de nossas afeições – o Objeto de todo o nosso desejo.

E novamente: “e salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne”. Acaso ele fala aqui do espírito infiel? Não, mas tome cuidado para que a roupa manchada pela carne não se envolva em você.

“Ora, Àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar,” isso é, não significa cairmos da verdade mas sim, cairmos da santidade da verdade, porque é acrescentado “e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória, ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”.

Comodismo e egoísmo 

Em conclusão, permita-me repetir, que possamos acolher esta palavra de advertência. Gostaria que isso soasse aos ouvidos de todo o povo de Deus. Que eles saibam que estamos vivendo um dia de comodismo e egoísmo. A profissão Cristã está se enchendo de mil favorecimentos. Cada hora está multiplicando os meios e as oportunidades da natureza indulgente. As concupiscências da mente (Efésios 2) são grandemente nutridas. Habilidades e trabalhos de toda a espécie estão sendo requisitados para contribuir para a indulgência deles. “Os desejos da carne” são todos semelhantes a isso. Oh! Que nós, em meio a tudo isso, amemos o senhorio de Jesus! Vamos nos curvar ao Seu cetro. Vamos beijá-lo cada vez mais e, em vez de dizer: “Este é o meu prazer – essa é a minha vontade”, oremos para que Jesus possa reinar em nosso coração.

“O Senhor de todos os movimentos ali” 

Mas novamente, deixe-me lembrá-lo, é Jesus que deve ser nosso Senhor – Aquele que nos amou e Se deu a Si mesmo por nós – Aquele que salvou Seu povo. E Ele deve ser servido, não no espírito de servidão ou na mera observância de ritos e mandamentos religiosos, mas no espírito de liberdade e amor – um espírito que pode confiar n’Ele em todos os momentos e que pode levar toda a consciência de insuficiência e fracasso a um trono de graça por meio d’Ele, com feliz ousadia. Ó amado! seria apenas uma pobre retribuição por Seu amor e salvação vigiar de alguma maneira como que contra Ele, e não inteiramente por Ele, porque Ele “não nos deu o espírito de temor, mas de amor”. Que possamos vigiar, portanto, para que Ele seja glorificado em nós pelo serviço livre e feliz agora, enquanto Ele estiver ausente, e que nós possamos ser glorificados n’Ele quando Ele vier para nos levar para Si mesmo (João 14:3).

Christian Truth, 21:304 (adaptado)

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