Origem: Revista O Cristão – A Ressurreição
O Caráter e Poder da Ressurreição
A ressurreição, afinal, é a libertação completa e perfeita de todo o efeito e consequência do pecado. Ao mesmo tempo, mostra que Deus nos predestinou a um estado e uma condição de coisas totalmente novos. Nada é mais importante do que apreender claramente o que Deus está fazendo – se Ele está corrigindo a coisa antiga ou estabelecendo uma coisa totalmente nova. Ora, a ressurreição mostra que Deus não está trazendo uma modificação da cena em que estamos, mas que Ele está trazendo um poder totalmente novo. O discernimento disso tem o efeito mais importante sobre o modo de vida, os modos de procurar fazer o bem e sobre os objetivos e esforços dos Cristãos. Cristo andava fazendo o bem, e é claro que devemos seguir Seu exemplo, mas Cristo corrigiu ou acertou as coisas quando esteve aqui embaixo? Não! O próprio resultado da vinda do Senhor para o meio da nação Judaica foi que eles rejeitaram, odiaram e crucificaram o Príncipe da vida e o Senhor da glória. O Senhor Jesus andou fazendo o bem, mas aparentemente em vão. Ainda assim, nenhum dos conselhos de Deus falhou, mas quanto ao resultado exterior, o Senhor disse: “Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as Minhas forças” (Is 49:4). No que diz respeito à cena exterior, na qual Ele trabalhou, não havia nenhum tipo de restauração, pois quanto mais amor Cristo manifestava, mais ódio do homem para com Ele era despertado. “Em paga do Meu amor, são Meus adversários” (Sl 109:4).
Uma cena inteiramente nova
A ressurreição introduz uma cena inteiramente nova, de modo que Paulo diz: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura [“criação” – JND] é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17). Ora, é uma coisa muito difícil os homens submeterem sua mente a essa verdade, porque isso diz claramente ao homem que, em si mesmo como homem, ele está total e completamente arruinado. É bem verdade que, naturalmente, o homem tem grandes e maravilhosas faculdades. Mas, com tudo isso, o homem moralmente está totalmente arruinado e perdido. Paulo expõe nesse capítulo qual é o caráter e o poder da ressurreição, sendo o assunto a ressurreição do justo, embora a do injusto também seja mencionada. Não é meramente Deus agindo em poder soberano, o qual pode tirar uma coisa morta do estado de morte, mas em virtude da associação com a vida de Cristo, temos participação na ressurreição de Cristo. Não é apenas que somos abençoados, mas abençoados com Cristo. Se Ele vive, também vivemos junto com Ele. “Porque Eu vivo, e vós vivereis” (Jo 14:19). Se Ele é a justiça de Deus, nós n’Ele fomos “feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Se Ele é Herdeiro da glória, somos “coerdeiros [juntamente] de Cristo” (Rm 8:17). Se Ele é o Filho, também somos filhos – “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Somos colocados, pela graça, neste lugar maravilhoso de filhos, de modo que é algo real, e, sendo assim, pela adoção, trazidos de um estado de pecado para o estado de filhos, o Espírito Santo nos é dado como o poder de nosso gozo nisso. Tal é o lugar maravilhoso para o qual somos trazidos, o da eterna companhia de Cristo – “membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos” (ACF).
O homem aqui na Terra luta em vão por seu objetivo, pois, por mais maravilhosas que possam ser suas faculdades naturais, assim que “sai-lhes o espírito, e eles tornam para sua terra [ao pó – ARA]; naquele mesmo dia, perecem os seus pensamentos” (Sl 146:4). O que acontece então com suas maravilhosas faculdades? Tudo se foi, pois não há frutos colhidos por ele. O homem pode ter dirigido o mundo, mas o que vale isso se a morte vem e escreve “não é nada” em todos os seus poderes? Outro pode vir depois dele e melhorar o que ele fez, mas, quanto a ele, tudo se foi para sempre, apesar de o homem ter uma responsabilidade moral em relação a tudo isso.
Imortalidade
Neste capítulo (2 Coríntios 5), o apóstolo estava enfrentando a mente daqueles que duvidavam da ressurreição, mas não da imortalidade. Um homem lançará dúvidas sobre a ressurreição, enquanto falará de sua imortalidade e se engrandecerá nela por causa do “eu”. Sou eu que sou imortal. Mas se sou eu a coisa morta que Deus ressuscita dentre os mortos, e então – onde eu estou? Ora, meu orgulho é abatido e o poder de Deus é trazido e exaltado. Portanto, se estou falando de imortalidade, estou falando de mim mesmo, mas se estou falando de ressurreição, estou totalmente lançado em Deus.
O poder da morte
A ressurreição está ligada à morte (agora falo dos crentes), mas é a entrada do poder de Deus para libertar do poder da morte – não apenas uma forma de escapar dos meus pecados, mas uma completa e perfeita libertação de todas as consequências de meus pecados, para que até o próprio pó do meu corpo seja ressuscitado em glória divina. Na morte de Cristo, também tenho outra verdade, que é a de que minha ressurreição é consequência da morte e ressurreição de Cristo. Partilho dela como perdoado, pois Cristo me vivifica, em virtude de ter tirado meus pecados. “E, quando vós estáveis mortos nos pecados… vos vivificou juntamente com Ele (Cristo), perdoando-vos todas as ofensas” (Cl 2:13). Somos participantes da vida na qual Cristo ressuscitou, de modo que tenho uma vida totalmente isenta de toda a questão do pecado, pois não posso ter vida sem ter perdão e, consequentemente, descanso e paz.
Provas incontestáveis
Cristo teve uma vida imutável como Filho de Deus, mas morreu como Homem, pois havia completa evidência fornecida por muitas provas incontestáveis de que Ele realmente era um Homem morto e de que havia ressuscitado dentre os mortos e visto por muitas testemunhas. Todo o evangelho se baseia na ressurreição de Cristo. Não existe evangelho a menos que haja a ressurreição. Este é um ponto do mais profundo interesse, mostrando como realmente Cristo entrou no caso. Tão verdadeiramente Cristo estava morto em consequência de nossos pecados que, se Ele não ressuscitou dentre os mortos, tudo se foi para sempre. Tão completamente Cristo foi um Homem morto por nós que, se Ele não ressuscita dentre os mortos, nenhum homem jamais pode ressuscitar. E, se os mortos não ressuscitam, então Cristo não ressuscita. No entanto, sabemos que Ele não poderia ser retido pela morte – isso era impossível. Assim, tudo o que poderia ficar entre o pecador e Deus foi totalmente removido; o fardo do pecado sobre a alma, a ira de Deus contra o pecado, o poder de Satanás, a fraqueza do homem na morte. Pela graça, Cristo Se colocou inteiramente em nosso lugar. Será que a morte ainda tem poder sobre Ele? Não, pois Ele ressuscitou no poder de uma vida sem fim. Mas ainda assim Ele esteve lá por causa de nossos pecados e tirou completamente o pecado que O levou para lá, tendo ressuscitado sem eles. O que então pode haver entre mim e Deus, que Cristo ainda não tenha tirado? Nada. Visto que Cristo tão completamente tratou essa condição diante de Deus, a morte não é mais morte para mim; ela perdeu seu poder e seu terror também. Agora a morte para mim é simplesmente partir para estar com Cristo. É “deixar este corpo, para habitar com o Senhor”; é apenas se livrar de um corpo mortal.
Os olhos de Deus repousaram sobre o Bendito que O havia glorificado em relação ao pecado do homem, de modo que Ele O tira de entre os mortos e o leva para Si mesmo. Cristo cumpriu uma justiça na qual Deus colocou Seu selo, na medida em que Deus O ressuscitou dentre os mortos. Tendo nos vivificado juntamente com Cristo, somos feitos participantes da ressurreição. Se não houvesse ressurreição, seria um completo abandono por Deus: “E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação… permaneceis nos vossos pecados” (1 Co 15:14, 17).
Resultados da ressurreição
Mas agora vem uma irrupção completa de testemunho dessa obra realizada: “Agora, Cristo ressuscitou dentre os mortos” (ACF). Assim, o Justo e Amado é ressuscitado dessa cena para uma inteiramente nova, aquela em que Ele Se torna as Primícias dos que dormem, pois se Cristo ressuscitou, Seus santos serão ressuscitados, pois uma Cabeça não pode ser elevada sem um corpo – seria algo anormal. A ressurreição entra, não apenas pelo poder de Deus, mas também por meio de um Homem. “Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um Homem” (1 Co 15:21). É o Homem Cristo Jesus vindo em poder. Toda coisa criada, todo o universo, será totalmente colocado sob este Homem justo, este Homem agora glorificado, o Segundo Adão. Só se excetua Aquele que colocou todas as coisas sob Ele, isto é, Deus Pai.
Todo poder no céu e na Terra é dado a Cristo. Todos devem ser colocados sob Seu poder. Não apenas são os Seus santos que se curvarão diante d’Ele – que o fazem agora com deleite, no poder de uma nova vida, mas Seus inimigos também se curvarão diante d’Ele. Então, quando todas as coisas estiverem sujeitas e Cristo tiver entregado o reino a Deus, o Pai, o reinado mediador chegará ao fim, porque Deus será tudo em todos. No entanto, Cristo, o Homem, nunca deixará de ser “o Primogênito entre muitos irmãos”. Sujeição é a perfeição do homem. Portanto, a sujeição de Cristo como Homem resulta de Sua perfeição. “Então também o próprio Filho estará sujeito”. É muito abençoado que, para todo o sempre, Ele estará em nosso meio – Aquele cujo coração é amor, Aquele que, como o Homem de dores aqui, trouxe o amor de Deus para nós! Ele tomará Seu lugar em nosso meio como o Segundo Adão, como Cabeça, Fonte e Canal de toda bênção.
O poder então que nos livra da ira, do pecado e de Satanás é a ressurreição de Cristo em virtude de Sua justiça consumada, e assim somos levados à comunhão com Ele. Nossa porção, seja no sofrimento aqui embaixo, seja em glória lá em cima, está toda em Cristo, como Aquele que ressuscitou dentre os mortos. Que o Senhor nos mantenha com nosso coração cheio de regozijo, crucificando a carne e, estando mortos para a lei, para o pecado e para o mundo, vivamos para Deus no mesmo poder em que Cristo vive. Que o Senhor nos dê um coração agradecido por Sua misericórdia indizível.