Origem: Revista O Cristão – Fruto do Espírito

Carne e Espírito

Reflexões Sobre Gálatas 5:13-18 

Até este ponto do livro de Gálatas, o apóstolo tem insistido na liberdade absoluta do crente em relação à lei no que diz respeito ao seu relacionamento com Deus. Agora ele mostra que ela não é de forma alguma a regra da vida prática e do caminhar do Cristão. A lei não tem lugar com o crente nem para justificação nem para santificação. Entender isso tem uma importância muito grande. Muitas almas sinceras estão confusas e equivocadas aqui. Muitos na Cristandade repudiariam veementemente (e com muita razão) a lei como um meio de justificação diante de Deus, afirmando que a fé em Cristo e Sua obra consumada são as únicas que têm valor. Mas as mesmas pessoas, em muitos casos, acreditam perfeitamente que o Cristão deve assumir a lei como uma regra de piedade. Esse é um grave erro, e seus resultados rebaixam o padrão adequado do Cristianismo.

A lei foi dada aos homens na carne para testar a carne, mas o crente não está na carne (embora a carne esteja nele), mas está no Espírito. Os homens celestiais precisam de um padrão diferente e mais elevado, e isso encontraremos na passagem agora diante de nós.

Liberdade 

“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos” (Gl 5:13-15 – ARA). Os gálatas buscaram poder contra a carne para mantê-la sob controle e, para isso, recorreram à lei. E qual foi o resultado? Qual foi o resultado prático? Uma condição tão baixa e contenciosa que a própria lei os condenava, pois se não ensinava os homens a servirem uns aos outros em amor como Cristo, a lei dizia pelo menos “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Isso os gálatas evidentemente não estavam fazendo, mas o contrário; daí a enérgica palavra de advertência do apóstolo. Como Romanos 7 mostra, a lei, em vez de subjugar a carne, a provoca e extrai toda a sua maldade. A lei é, portanto, a força do pecado, não da santidade, embora seja em si mesma santa, justa e boa (Rm 7:7-13).

Onde então os gálatas, ou onde os Cristãos podem agora, encontrar o poder? “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis” (Gl 5:16-17). Aqui está o segredo do poder. O crente agora recebe de Deus o dom do Espírito Santo. Esta é uma das grandes bênçãos características do Cristianismo, cujo valor e importância ninguém pode estimar devidamente. E tendo dado o Espírito a nós, Deus espera que andamos no Espírito. Isso é permitir que Ele habite em nós sem ser entristecido para que Ele possa ser livre para agir e continuar Sua graciosa obra de nos conformar à imagem de Cristo em glória. Se isso é verdade quanto a nós, se vivemos não somente no Espírito, mas andamos no Espírito, a carne não age; suas concupiscências não se cumprem. Não nos envolvemos nas obras da carne, mas, ao contrário, produzimos o fruto do Espírito.

A carne 

É importante ver que o apóstolo considera carne e espírito como existentes dentro do crente. É uma noção bastante equivocada de que a carne foi removida, embora alguns tenham sido induzidos nesse engano. É igualmente falso que ela seja de alguma forma melhorada. A carne é incuravelmente e irremediavelmente má, e isso permanece até a transformação na vinda do Senhor. Suas tendências naturais permanecem inalteradas. Ela deseja até mesmo ganhar poder sobre o crente e conduzi-lo ao pecado e à loucura, como o Espírito, por outro lado, deseja conduzir nos caminhos da santidade e da verdade. Mas a fé considera a carne como morta e se recusa a aprová-la ou a dar ouvidos às suas sugestões, e para isso o Espírito que habita no crente é o poder divino.

Muitos supõem que o ensino de Gálatas 5:17, seja substancialmente o mesmo que em Romanos 7, quando, na verdade, é exatamente o oposto. Em Romanos 7 temos as lutas de uma alma vivificada que não tem conhecimento da libertação. Quando o bem é desejado, o mal é encontrado presente e bem poderoso. Mas esse não é o ensinamento de Gálatas 5. Aqui o apóstolo está mostrando o poder que o crente realmente possui. Temos o Espírito Santo de Deus, e Ele age dentro de nós para que não façamos as coisas que faríamos.

Isso elimina toda a necessidade da lei em relação àqueles que estão em Cristo Jesus. “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5:18). É impossível estar sob o poder de dois princípios. Não precisamos de dois guias ao mesmo tempo. É característico do crente que ele é conduzido pelo Espírito; Para isso a lei não tem nada a dizer. Portanto, não é nada inteligente colocar os crentes sob qualquer forma de lei. Quem o faz não entende nem o que diz nem o que afirma. A lei não foi feita para os justos, mas para os “transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos” (1 Tm 1:7-10 – ARA). Deus considera o crente justo por meio da morte e ressurreição de Cristo. Todos esses têm o Espírito como poder, e Cristo como vida e objeto.

Bible Treasury, Vol. N1

Compartilhar
Rolar para cima