Origem: Revista O Cristão – Fraqueza e Força

A Carne é Fraca

Vejamos o franco, sincero e íntegro apóstolo Pedro. Fervoroso em seu amor a Jesus, ele ignorava a falsidade de seu coração. Os olhos do Senhor podiam olhar adiante e ver Pedro no meio de uma cena em que ele ainda não havia sido colocado. O companheiro diário de Jesus, testemunha de Seus milagres, participando de Suas instruções mais secretas quando expôs a Seus discípulos Suas parábolas, conhecendo experimentalmente o cuidado de Jesus em prover a ele e a Seus companheiros quando os enviou sem bolsas: Seria ele como um cão? Será que O negaria? O pensamento é repelido com indignação honesta. “Ainda que me seja necessário morrer contigo, não Te negarei” (Mt 26:35). Foi para Pedro que o Pai fez uma revelação especial da glória da pessoa do Senhor, que Ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo. O quê?! Pedro negaria sua própria confissão e a honra depositada sobre ele na revelação feita a ele pelo Pai? Impossível!

Confiar em nossas intenções 

Assim, o erro de Pedro e o de todos nós é tomar como certo que conhecemos nosso coração, assim como o Senhor o conhece. Confiamos na integridade de nossas intenções e “entramos em tentação”, sem saber que somos levados ao local onde a integridade de nossas intenções deve ser testada. Vamos mudar a cena para onde Pedro estava dormindo no jardim quando o Senhor estava em agonia. O Senhor impôs um limite que seria perigoso para Seus discípulos tentar cruzar com suas próprias forças. “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Fraco na realidade, embora forte aparentemente, Pedro despertou do seu sono para a confiança carnal, “estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha” (Mt 26:51). A ação de lutar sozinho contra uma multidão é corajosa, mas vigiar, orar e não confiar na carne é muito mais difícil. Jesus foi abandonado por seus discípulos, desprezado e rejeitado pelos homens. Pedro iria permanecer com sua antiga confissão? Não, ele se equivoca, nega, amaldiçoa, jura: “Não conheço tal homem”. O Senhor então mostrou que conhecia o coração de Pedro melhor do que ele próprio. Ele o restaurou com um olhar, mas Pedro saiu e chorou amargamente.

A história de Pedro nos mostra a conexão entre o engano e a maldade desesperada do coração. Mal sabia ele que xingamentos e maldições estavam prontos para explodir na ocasião em que fossem desbloqueados. Existe um Cristão com alguma experiência que não conheça a vergonha de confessar Jesus perante os homens como sendo algo mais poderoso do que a resolução, que para tais homens, pareça ser a mais correta? É relativamente fácil quando estamos entre muitos que reconhecem Jesus, também reconhecê-Lo, mas para Cristo ser o único objeto, é necessário a cruz. Se não tomarmos como certo que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso”, de modo que somos levados a vigiar e orar, entraremos em tentação.

Cristo em rejeição 

Muitos são os exemplos de resolução humana destemida, mas a resolução humana não é o espírito daquele que é a testemunha de Jesus. Ele precisa ser quebrado e saber que é apenas fraqueza. Se o Senhor tivesse corrido para a batalha à frente de Seus seguidores, com toda a probabilidade Pedro o teria seguido, indiferente ao perigo. Mas essa ousadia é fraqueza, pois o caminho da fé, em vez de seguir Jesus para a batalha, deve segui-Lo até a rejeição. Esse era o caminho do Mestre: “Porventura não importa que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória?” Quando Pedro aprendeu o verdadeiro segredo de transformar a onisciência do Senhor em um relato pessoal prático dizendo: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo” (Jo 21:17), então ele não estava mais preparado para a glória em sua “sabedoria” ou em “sua força”. O Senhor “disse isso significando com que morte havia ele de glorificar a Deus” e disse: “Segue-Me”. O que Pedro não pôde fazer em seu próprio tempo, caminho e força, o Senhor o capacitou a fazer em Seu tempo, Seu caminho e Sua força.

O fim e o objeto de Deus 

O que temos, então, a dizer sobre essas coisas?” Primeiro, um Cristão habitualmente deve vir “para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo 3:21). Isso impedirá não apenas a atuação de um caráter, mas também a cilada sutil de usar o caráter que ele tem, entre outros, como um cego usaria para ocultar suas próprias falhas. Segundo, devemos lembrar que o fim e o objetivo de Deus não é de nos glorificar, mas a Seu próprio Filho Jesus Cristo. Esse é sempre o objetivo do Espírito Santo, e quando Ele escreve a história de Seu povo, Ele não hesita em registrar seus pecados, falhas e defeitos, às vezes até sem criticar, para que possamos aprender a impossibilidade de qualquer carne se gloriar diante do Senhor. Se isso for aprendido de maneira imperfeita aqui, será muito evidente quando conhecermos, assim como nós mesmos somos conhecidos. Mas, por fim, somos ensinados, tanto histórica quanto doutrinariamente (pode ser experimentalmente), que essa é a fraude do coração, que nenhum presente da mais alta ordem, nenhuma graça recebida pela plenitude de Jesus, nenhum zelo honesto por Seu nome, nenhuma devoção ao serviço passado e nenhuma atividade do serviço presente são uma salvaguarda contra isso. Só podemos ser “guardados na virtude de Deus, para a salvação” (1 Pe 1:5). E a regra não anulada prescrita para nossa segurança por Jesus é: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9:23).

A carne 

A carne no santo é mostrada em seu mal temível por sua própria proximidade com o Espírito. Mas o coração, enganosamente, pensa que não precisa ser continuamente protegido, e prontamente dá novos nomes a velhas concupiscências e paixões, mas o veredito permanece inalterado: “A carne para nada aproveita” (Jo 6:63). Embora a vigilância e a oração sejam sempre necessárias, somente será irrepreensível, sem culpa e sem ofensa, aquele que anda na convicção solene de que deve temer a eclosão dos pecados mais graves, a menos que sua alma esteja ocupada com Jesus. O pecado do qual seu coração recuaria, se deliberadamente apresentado, pode ser aquele ao qual ele é insensivelmente levado de um passo de tentação para outro. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, ao único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, seja glória e majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém” (Judas 24-25).

J. L. Harris (adaptado)

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