Origem: Revista O Cristão – A Casa de Deus
A Casa de Deus Traçada pela Escritura
O tabernáculo no deserto
Está claro na Escritura que Deus não habitou na Terra antes da redenção de Israel do Egito. Ele visitou Adão no paraíso e apareceu a Abraão, Isaque e Jacó. Ele também Se revelou a Moisés no deserto e no monte de Deus. Mas depois da redenção do Egito, o Senhor disse a Moisés: “E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25:8). Esta é realmente a primeira menção de uma morada para Deus na Terra.
O pensamento de habitar no meio do Seu povo veio primeiro do próprio Deus, e isto está em harmonia com os Seus próprios propósitos de graça na redenção. Nós lemos que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo “nos elegeu n’Ele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d’Ele em caridade [amor – ARA]” (Ef 1:4). Naquela eternidade passada, Deus habitou na perfeição de Sua própria bem-aventurança, mas na plenitude de Sua graça propôs cercar-Se de um povo redimido que deveria ser para Seu próprio gozo e para a glória de Seu amado Filho. Gradualmente, Seus propósitos foram revelados em figuras e sombras, em Seus caminhos com Abel, Enoque, Noé e os patriarcas, e finalmente na libertação dos filhos de Israel do Egito. Daí em diante eles eram um povo redimido.
Tendo agora escolhido e redimido um povo para Si mesmo, o Senhor anuncia Seu desejo de habitar entre eles. No entanto, enquanto a Sua morada no meio de Israel indicava toda a verdade da redenção, era apenas uma sombra do cumprimento de todos os Seus conselhos de graça na eternidade. Foi apenas uma antecipação do tempo em que o tabernáculo de Deus (a Igreja, a cidade santa, preparada como uma noiva adornada para seu marido) estará com os homens, e Ele habitará com eles, e eles serão Seu povo (Ap 21).
O templo de Salomão
O tabernáculo foi levado pelos filhos de Israel para Canaã e foi armado em Siló. Aqui foi chamado “a tenda da congregação” (1 Sm 2:22), mas também “o templo do SENHOR” e “a Casa do SENHOR” (1 Sm 3:3, 15). Esses últimos nomes prenunciavam a casa que mais tarde seria construída em Jerusalém. Enquanto os filhos de Israel eram peregrinos, o próprio Deus habitou em uma tenda, mas quando Ele estabeleceu a glória do reino, foi erigida uma casa que em certa medida deveria ser a expressão de Sua majestade.
Assim como no tabernáculo, o plano do templo foi divinamente comunicado. Tudo o que Salomão fez estava de acordo com as instruções que recebeu. O próprio local tinha sido escolhido por Deus, assim como o design e a maneira de construí-lo. Embora confiado a mãos humanas para ser erigido, o edifício era divino, pois pensamentos humanos e concepções humanas não devem se intrometer nas coisas de Deus.
O templo após o retorno da Babilônia
O templo de Salomão durou até a sua destruição por Nabucodonosor, e Ezequiel descreve a partida da glória do Senhor, mesmo antes de ser consumido pelo fogo pelos caldeus. Mas depois de setenta anos, o Senhor despertou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, “para edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá” (Ed 1:2). Esta casa tomou o lugar daquela que Salomão havia construído. Houve, no entanto, diferenças importantes. Nenhuma nuvem ou glória do Senhor encheu esta casa, como no caso do tabernáculo e do primeiro templo, e nenhum fogo desceu do céu para consumir seus sacrifícios, como com Moisés e com Salomão. É este fato que torna o paralelo entre este remanescente e a Igreja tão interessante, que a posição deste débil remanescente nos tipifica. Deus aceitou seus sacrifícios e habitou em Sua casa, mas era inteiramente uma questão de fé baseada na Palavra de Deus. Da mesma forma, a presença do Senhor Jesus Cristo no meio daqueles reunidos ao Seu nome é apreendida apenas pela fé (Mt 18). Mas o Senhor considerou esta como Sua casa e, por meio do profeta Ageu, Ele a identificou com aquela que a precedeu. A casa era apenas uma na mente divina e, portanto, a habitação de Deus igualmente com o templo de Salomão.
Esta casa existiu até o tempo de Herodes, o Grande, que a reconstruiu em uma escala de grandeza e magnificência. É um fato muito notável que, mesmo que este templo tenha sido construído por um rei estrangeiro, o próprio Senhor o reconheceu como sendo a casa de Seu Pai. Ele não a abandonou até Sua rejeição por Seu povo. Então Ele pronunciou a sentença: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” (Mt 23:38).
A Igreja – a Casa de Deus
Nós traçamos a história da casa de Deus desde Êxodo até o fim da dispensação mosaica. Durante a vida de nosso Senhor na Terra, contudo, houve premonições da mudança vindoura. Falando aos judeus, Ele disse: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei… Mas…”, o evangelista nos diz: “… Ele falava do templo do Seu corpo” (Jo 2:19, 21). Ele disse a Pedro, além disso, em sua confissão de que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16:18). Se passarmos para o dia de Pentecostes, vemos que Deus começou então a habitar na Terra de um modo novo e duplo. O Espírito Santo desceu de acordo com a Palavra do Senhor. O efeito foi que Deus, pelo Espírito, fez Seu templo no crente individual (veja 1 Co 6:19), e Ele fez Sua habitação com os crentes coletivamente, como Paulo escreve aos Efésios, “Vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2:22). A casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, foi agora formada.
Em Atos 2, temos não apenas a construção da casa de Deus, mas também o modo de entrar nela. Quanto à construção da casa, no dia de Pentecostes os discípulos estavam todos unidos em um só lugar. O mesmo poder divino que os salvou pela fé no Senhor Jesus os reuniu neste dia juntos e os colocou silenciosamente em seus lugares designados na única pedra fundamental para formar a habitação de Deus na Terra por meio do Espírito. Assim, o edifício foi erguido. Outros poderiam entrar e, de fato, seriam trazidos para formar parte da casa – “E todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles que se haviam de salvar” (v. 47) – mas ainda assim a casa de Deus foi construída. Neste aspecto, a casa de Deus é sempre vista como completa, embora outros crentes sejam continuamente trazidos para ocupar seus lugares designados no edifício.
Havendo a casa de Deus sido construída, encontramos o caminho muito claramente indicado pelo qual as almas deveriam ser trazidas para ela. Duas coisas devem ser feitas – elas deveriam se arrepender e serem batizadas ao nome do Senhor Jesus. Eles não deveriam apenas acreditar no testemunho sobre Sua morte, ressurreição e lugar presente à destra de Deus, mas elas também devem ser identificadas com Ele em Sua morte. Aceitando a morte por si mesmos (por meio do batismo), eles seriam, assim, em figura, dissociados do homem e trazidos ao terreno da associação com a morte de Cristo. De agora em diante, eles aceitariam para si o lugar de estarem mortos – morto com Cristo – neste mundo. Uma vez que esta morte com Cristo é o terreno Cristão, e uma vez que o batismo é o modo divinamente designado de entrada nela, não há, consequentemente, outro caminho para a casa de Deus na Terra. Portanto, era necessário que esses judeus se arrependessem e fossem batizados ao nome do Senhor Jesus. A fé em Cristo seria produzida pelo Espírito de Deus operando por meio do testemunho que haviam ouvido, enquanto que pelo batismo eles seriam publicamente separados da nação que havia crucificado o Senhor Jesus. A partir daquele momento, eles deixariam de ser judeus e seriam trazidos para a casa de Deus.
A casa construída pelo homem
Em 1 Coríntios 3, Paulo mostra a responsabilidade dos obreiros de Deus na obra confiada aos seus cuidados. Ele diz: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (vs. 10-11). Duas coisas vão ao mesmo tempo atingir o leitor em contraste com o que foi considerado anteriormente. Primeiro, o apóstolo fala de si mesmo como quem colocou o fundamento, e segundo, ele fala de si mesmo e de outros como construindo sobre ele. Isso é algo muito diferente daquele contido nas palavras do Senhor a Pedro: “sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja”. É essa diferença que explica os dois aspectos da casa de Deus. A obra de Cristo na edificação de Sua Igreja deve necessariamente ser perfeita. Sendo Ele mesmo o fundamento, toda pedra que Ele coloca nela deve ser uma pedra viva. Mas como essa Escritura em 1 Coríntios ensina, Ele também confia a obra de edificação a Seus servos e os responsabiliza pelo caráter de seu trabalho. Paulo pode dizer: “Pus eu o fundamento”, pois ele foi o primeiro a proclamar o evangelho em Corinto, e assim foi o meio de formar a assembleia de Deus naquela cidade. Ele estabeleceu o fundamento como um sábio mestre-construtor, e adverte os outros quanto à maneira como eles poderiam construí-lo.
O aspecto final da Igreja
O último aspecto da Igreja como a casa de Deus na Terra é apresentado em Efésios 2:21 e Apocalipse 21:23. O templo em Efésios 2 ainda não está concluído. O apóstolo diz: “o qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (v. 21). O templo estava em processo de construção – estava crescendo.
O templo neste aspecto inclui todos os santos de Deus desta dispensação, desde o dia de Pentecostes até a volta do Senhor, enquanto a casa ou a habitação de Deus, como foi explicada antes, é considerada completa em qualquer momento dado. Se nos voltarmos para Apocalipse 21, encontraremos os mesmos dois aspectos – a Igreja como a noiva de Cristo e como o tabernáculo (não como o templo aqui) de Deus. “E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa [noiva – ARA] ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus” (vs. 2-3) O primeiro céu e a primeira Terra haviam passado, e um novo céu e uma nova Terra haviam surgido, onde a justiça poderia eternamente habitar. A nova criação foi consumada. A Igreja como a noiva, a esposa do Cordeiro, agora desce sobre a nova Terra, e em conexão com isso é feita a proclamação: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens”. Sua morada havia sido na Terra por meio do Espírito, e agora, completada como o templo, tornou-se Seu tabernáculo para a eternidade, um privilégio especial, que não é permitido aos santos de outras dispensações compartilhar. Eles cercam o tabernáculo, e Deus os levará ao desfrute do relacionamento com Ele mesmo e será o seu Deus.
