Origem: Revista O Cristão – A Casa de Deus

Privilégios e Responsabilidades na Casa de Deus

Sempre foi o desejo de Deus habitar entre o Seu povo, tanto para desfrutar da companhia deles como para que eles desfrutem da Sua. É verdade que não encontramos a casa de Deus em Gênesis, mas logo que a redenção foi trazida e o povo de Deus, Israel, foi libertado do Egito, Deus imediatamente pediu que Lhe construíssem um tabernáculo para que pudesse morar entre eles.

De maneira semelhante no Novo Testamento, encontramos Deus querendo habitar entre o Seu povo como a casa de Deus e formando esta casa no dia de Pentecostes. Contudo, há esta diferença, que o tabernáculo foi caracterizado por comunicações de Deus que exigiram algo do homem, enquanto o dia de Pentecostes foi caracterizado pela comunicação de bênçãos de Deus ao homem. Em cada caso, porém, descobrimos que a casa de Deus está conectada tanto com privilégios como com responsabilidades.

Se a verdade da Igreja como o corpo de Cristo leva nossos pensamentos até nossa Cabeça no céu, a casa de Deus traz diante de nós o lugar da Igreja agora na Terra. A responsabilidade é certamente proeminente quando pensamos na casa de Deus, mas é notável que a Escritura traga diante de nós, antes de tudo, nossos maravilhosos privilégios na casa de Deus. Há pelo menos três privilégios que caracterizam a casa de Deus no Novo Testamento, privilégios que não estavam presentes anteriormente.

Privilégio – pecados perdoados 

Primeiro de tudo, os crentes na casa de Deus (pelo menos de acordo com os pensamentos originais de Deus sobre Sua casa) sabem que seus pecados são perdoados, e assim podem estar completamente à vontade na presença de Deus. Pedro pôde dizer: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados” (At 3:19). Os crentes no Senhor Jesus têm a certeza de que o sangue de Cristo aniquilou todo pecado, pois “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1:7). Estamos “em casa” na casa de Deus, pois os que estão naquela casa não têm mais “consciência de pecado” (Hb 10:2).

A presença do Espírito Santo 

Em segundo lugar, a casa de Deus hoje é caracterizada pela habitação permanente do Espírito de Deus, pois “também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2:22). Os crentes não apenas tem o Espírito habitando neles individualmente, mas são trazidos para a casa de Deus onde o Espírito habita. Este é um privilégio inestimável que não fazia parte de qualquer dispensação anterior e não ocorrerá depois que a Igreja for chamada para casa.

O Espírito está ali por dois motivos. Primeiro de tudo, Ele está ali para tornar Deus conhecido ao homem e para ministrar as glórias de Cristo aos redimidos. O Senhor Jesus pôde dizer do Espírito: “Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16:14). Todas as glórias de Cristo são agora reveladas pelo Espírito, como Paulo pôde dizer: “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu são as [coisas] que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo Seu Espírito” (1 Co 2:9-10). Em segundo lugar, o Espírito está na casa de Deus para conduzir nosso coração em louvor e ação de graças a Deus, em resposta ao Seu amor. Pedro nos diz que somos uma “casa espiritual para oferecerdes sacrifícios espirituais” e “para que anuncieis as virtudes d’Aquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:5, 9).

O privilégio do batismo 

Finalmente, os que estão na casa de Deus têm o privilégio do batismo – de assumir de maneira prática a posição de estar morto com Cristo e levar Seu nome neste mundo. Entramos na casa pela fé na obra de Cristo e depois pelo batismo em Seu nome. Que privilégio é levar o Seu nome e honrá-Lo no mundo que O rejeitou!

Responsabilidade – Santidade 

É um princípio de Deus, no entanto, que privilégios sempre trazem consigo responsabilidades. Na casa de Deus, há sérias responsabilidades que acompanham o fato de estarmos lá, e elas não devem ser menosprezadas ou negligenciadas. Primeiro de tudo, a santidade deve caracterizar a casa de Deus. O princípio é claramente afirmado mesmo no Velho Testamento: “A santidade convém à Tua casa, SENHOR, para sempre” (Sl 93:5). Quão mais importante isso se torna à luz do Cristianismo! Paulo escreveu a Timóteo para que ele soubesse como se comportar na casa de Deus (1 Tm 3:15), e assim que Pedro introduziu o pensamento da casa de Deus em sua primeira epístola, ele deu instruções sobre nosso comportamento ali.

A Escritura traz diante de nós a casa de Deus como Ele a construindo, em perfeição, mas também nos mostra o aspecto da responsabilidade do homem em construir. Em conexão com esta responsabilidade, Paulo pôde falar de ter estabelecido o fundamento, mas então emitiu a advertência: “Mas veja cada um como edifica sobre ele” (1 Co 3:10). Neste caso, alguém pode ser um verdadeiro crente, mas construir de tal maneira a desonrar o Senhor, na casa de Quem ele está. Quantas doutrinas e práticas más foram introduzidas na casa de Deus na Terra, e quantos foram introduzidos que nem eram verdadeiros crentes! Isso é muito mais sério do que se alguém fizesse isso sob o guarda-chuva de uma religião falsa, pois está introduzindo o mal no lugar onde o Espírito de Deus habita. A santidade de Deus deve ser primordial, seja em nossa caminhada pessoal ou em nosso trabalho para o Senhor.

O senhorio de Cristo 

Outra responsabilidade está ligada à santidade, a saber, o reconhecimento do senhorio de Cristo. Cristo é “Filho, sobre a Sua própria casa” (Hb 3:6), e os que estão na casa são responsáveis por se submeterem à Sua autoridade. Não podemos nos comportar de maneira desordenada na casa de Deus mais do que poderíamos em uma casa sob a autoridade de um homem. “Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade” (2 Tm 2:19).

A coluna e a firmeza da verdade 

Nos primeiros dias da Igreja, Paulo pôde escrever a Timóteo e usar a expressão: “A casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15). A Igreja, em seu caráter de casa de Deus, é responsável por ser “a coluna e firmeza da verdade”. Essas palavras estão diretamente relacionadas à Igreja como um edifício, pois um edifício que se mantenha de pé deve ter uma base adequada e uma estrutura sólida nessa base. A Igreja em si não ensina, mas é ensinada pelo Espírito Santo por meio da Palavra de Deus e dos vários dons que Deus deu a ela. Então, é responsável para usar o que foi ensinado para apoiar a verdade comprometida com isso.

A história da Igreja mostra quão deficientemente o homem se conduziu na casa de Deus, e na época em que Paulo escreveu a segunda epístola a Timóteo, o Espírito Santo a caracterizou como uma “grande casa” (2 Tm 2:20). Se as fundações não forem mantidas e a estrutura não for construída de acordo com a Palavra de Deus, a casa deixará de ser a casa de Deus e não mais será “a coluna e firmeza da verdade”. O declínio já havia começado enquanto Paulo ainda estava vivo, mas a expressão “uma grande casa” antecipa a completa ruína do testemunho de Deus neste mundo e a resultante “grande casa” chamada Cristandade. O que Deus constrói em perfeição, é claro, nunca pode ser estragado pelo homem, mas o que Deus confiou ao homem em responsabilidade foi tristemente arruinado em sua mão. Por essa razão, a Igreja como tal nem é mencionada em 2 Timóteo; em vez disso, tornou-se a “grande casa” da profissão.

Santificação na grande casa 

A grande casa não tem apenas “vasos de ouro e de prata”, mas também tem “pau e barro” (2 Tm 2:20). Alguns vasos são “para honra”, mas alguns “para desonra”. Um verdadeiro crente não é chamado a deixar a grande casa, nem pode fazê-lo, mas agora ele deve estar preparado para “se purificar” dos vasos de desonra. Só assim ele pode ser um “vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2 Tm 2:21). Quando ele fizer isso, ele se encontrará em companhia de outros que também fizeram isso e que “com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22).

Apesar da casa de Deus ter se tornado uma “grande casa”, os privilégios e responsabilidades ligados a ela permanecem os mesmos. O Senhor é o mesmo, Seu Espírito ainda está aqui até que o Senhor venha, e nós ainda podemos levar o Seu nome diante do mundo. Temos uma responsabilidade na casa, pois a expressão “o homem de Deus” (2 Tm 3:17) é sempre usada em conexão com a fidelidade quando há um afastamento geral de Deus. Sempre será possível agir em fidelidade e desfrutar dos privilégios da casa de Deus até que o Senhor venha e nos chame para casa.

W. J. Prost

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