Origem: Revista O Cristão – Aves
A Casa de Deus e o Caminho
Ficamos tão acostumados com certas coisas por seu uso constante que o poder de seu significado começa a ser destruído. Pode ser uma palavra ruim ou uma palavra boa, porém palavras que afetariam profundamente outros não conseguem, no entanto, nos comover. Isso vemos que é por demais verdadeiro com respeito à própria verdade da Escritura. Que efeito aquilo que é anunciado em João 3:16 teria sobre nós – se escutado pela primeira vez e o valor de seu significado percebido! Da mesma forma é com esta escritura diante de nós: “Quão amáveis são os Teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos” (Sl 84:1). Não nos deleitaria e surpreenderia tal pensamento de estar no átrio de Deus, como homens habitando em Sua própria casa, se ouvido pela primeira vez e compreendido o seu significado? Que efeito uma verdade como essa teria sobre nós se crida inteiramente! Deus nos fazendo morar com Ele em Sua própria casa!
“Quão amáveis são os Teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos. A minha alma está anelante e desfalece pelos átrios do SENHOR” (vs. 1-2). O coração que encontrou Deus anseia por uma habitação com Ele. Foi esse desejo que moveu Pedro no Monte da Transfiguração a fazer um pedido de três tabernáculos; eles não podiam suportar a ideia de o Senhor Jesus partir. Ele não pôde ficar, mas deixou a eles e a nós palavras de conforto: “[…] virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:3). Seu povo habitará com Ele. “Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam Comigo” (Jo 17:24).
O lugar de repouso do pardal
O coração que anseia por Deus encontra descanso no altar de Deus. “Até o pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si e para a sua prole, junto dos Teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu” (v. 3). Quão belamente este parêntese nos mostra o terno cuidado que Deus tem por todas as Suas criaturas! Ele não falha em encontrar casa para os pássaros de menor valor e ninho para os mais inquietos. Que confiança isso deveria nos dar! Como deveríamos descansar! Que repouso obtém a alma que se lança sobre o terno e vigilante cuidado d’Aquele que provê tão plenamente às necessidades de todas as Suas criaturas! Sabemos o que a expressão “ninho” transmite, tão bem quanto “uma casa”. É um lugar de segurança – um abrigo da tempestade, um esconderijo para se esconder de todo mal, uma proteção de tudo o que possa machucar, um lugar para descansar.
“Bem-aventurados os que habitam em Tua casa; louvar-Te-ão continuamente” (v. 4). O visitante não conhece tudo o que pertence à casa, mas não se consegue esconder nada de um morador: Ele está em casa e conhece todos os privilégios e bênçãos da casa. No passado, Deus entrou no templo segundo uma ordem judaica, mas o povo estava excluído até mesmo desta glória – o exato oposto de habitar com Deus. Eles não conheciam a constante bênção da casa.
Como é que nos sentimos maravilhosamente mais unidos a um Cristão que conhecemos apenas há meia hora do que a um mero conhecido que talvez conheçamos por toda a vida? Não é a realidade da verdade de que Deus está ali? Oh, que gozo esse conhecimento dá ao coração! Quão completa, quão perfeita é a obra de Deus! Ele nos preparou para esta casa, e temos n’Ele tudo de que precisamos. A comunhão com Deus sempre dá confiança em Seu poder. Esta é a chave do salmo diante de nós. Se meu coração apreendeu o amor que Deus tem por mim e quais são Seus propósitos para comigo, posso confiar que Ele ordenará o caminho. Se meu coração estiver nesta gloriosa habitação, não estarei tão ocupado com a facilidade ou conforto do caminho como estarei em conhecer que é o caminho. A glória da herança será para mim muito mais do que o caráter das coisas que estão ao redor do caminho para ela.
O vale de Baca
“O qual, passando pelo vale de Baca, faz dele uma fonte” (v. 6). O vale de Baca é um lugar de tristeza e humilhação, mas de bênção também. Para Paulo, foi o espinho na carne – algo que foi verdadeiramente humilhante e que suscitou dele uma oração repetida três vezes. Mas quando ouviu o Senhor dizer, “Minha graça te basta”, ele não mais suplicou por sua remoção. Não; antes, ele se gloriou em sua fraqueza, para que o poder de Cristo fosse conhecido. Este foi o lugar de bênção para Paulo: Ele encontrou ali uma fonte. O vale de Baca foi transformado em um local de intimidade indizível e proximidade com Deus. Para alguns de nós, esse vale pode ser a perda daquilo que está mais próximo ao nosso coração, ou a vontade sendo frustrada, mas é um lugar de bênção. Obtemos muito mais refrigério com as coisas dolorosas do que com as agradáveis. Essa é a maneira de Deus de nos mostrar o que Ele é, e assim, ao nos fazer passar pelo vale de Baca, Deus faz dele uma fonte.
Portanto, lemos em 1 Tessalonicenses 5:18, “Em tudo dai graças”. Como fazer isso? Deu Paulo graças pelo espinho – justo a coisa que ele supôs que atrapalharia sua utilidade? Não enquanto estava olhando para a coisa em si – foi apenas quando seus olhos foram fixados no coração e na mão que o fez. Devemos ver o amor que o ordenou e a mão que o designou; então podemos dar graças.
“A chuva também enche os tanques” (v. 6). O Senhor pode fazer fontes no deserto para atender às necessidades do Seu povo ou enviar chuva do céu para suprir suas necessidades. Ele não conhece dificuldades nem impossibilidades; apoiar-se n’Ele é segurança inabalável. Ele conduzirá os Seus em segurança em todas as provações, e cada nova vitória deve aumentar a força da confiança deles n’Ele.
Deus nosso escudo
“Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do Teu ungido” (v. 9). Em cada tristeza, Deus é nosso escudo. Mas alguns podem dizer: “Minha tristeza é causada pelo meu pecado”. Triste que seja assim! Mas, mesmo então, podemos dizer: “e contempla o rosto do Teu ungido”. Deus sempre pode olhar para Seu Filho com deleite; Ele sempre se agrada n’Ele, e podemos alegar o que Cristo é. Não há posição em que um santo possa estar em que ele não possa ir a Deus em busca de ajuda. Não; embora sua própria tristeza seja o resultado de seu pecado, não há outra maneira de se livrar dela a não ser indo a Deus e se escondendo atrás de Seu Ungido. Cristo é o nosso único escudo. Ele é um refúgio em toda tempestade, mesmo aquela que o nosso próprio fracasso trouxe sobre nós.
Há apenas uma outra palavra sobre o caminho. Ora, quais são nossos caminhos? Qual é o nosso andar no caminho para o lugar para o qual estamos indo? Nossos caminhos são adequados ao lar para o qual Deus nos preparou? Estamos nos comportando de forma a nos alegrarmos com o pensamento de que este mundo está desmoronando? É a esperança da vinda do Senhor o nosso deleite diário? Será que ela nos influencia nos dez mil detalhes de nossa vida diária? Ou estamos andando tão de mãos dadas com o mundo que o simples pensamento de Sua vinda nos enche de pesar?
“Bendito o varão que confia no SENHOR” (Jr 17:7).