Origem: Revista O Cristão – A Casa do Pai

A Casa do Pai

Lucas 9:34-36 

Os discípulos tiveram permissão para desfrutar da glória de Cristo antes do momento de Sua manifestação. Naquele momento eles não entenderam a importância da cena que mais tarde serviu para apoiar a autoridade apostólica deles. Não tendo sido chamados a contemplar tal cena sob este ponto de vista, nós só a conhecemos por causa do testemunho dos discípulos; mas também estamos na possessão presente de uma cena de glória, pois é dito: “Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3:18).

A glória do monte e da nuvem 

No entanto, o monte santo não é apenas a cena da visão futura, ou a presente contemplação da glória, mas dá aos discípulos uma porção próxima de Cristo. Pedro, que alguns dias antes provocou desagrado ao Senhor, é trazido pela graça com seus companheiros, onde o homem nunca havia entrado antes. Uma nuvem ofuscou os discípulos e eles entraram nela com Jesus. Para um judeu, era uma coisa terrível. O que eles poderiam sentir além de medo de penetrar na nuvem que era o sinal da presença de Jeová? Como não estremecer tendo a lembrança de que mesmo o sumo sacerdote, para não morrer quando entrava no santuário de Deus, tinha que se envolver com uma nuvem de incenso? Mas os discípulos puderam ser tranquilizados; a nuvem não era mais para eles a morada do SENHOR de Israel, mas a casa do Pai. A presença de Cristo com eles na nuvem era o meio de revelar-lhes o nome d’Aquele que habitava nela. Eles se tornaram companheiros não apenas do Filho do Homem em Sua glória, como Moisés e Elias, mas do Filho na casa do Pai. Habitar na glória é de fato uma bênção futura que nem mesmo um dos santos que dormiram já alcançou; habitar na casa do Pai é uma porção presente e futura. Se eu puder dizer, falando do futuro, “habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23:6 – ARA), eu também posso clamar ao falar do presente: “Uma coisa pedi ao SENHOR e a buscarei: que possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR e aprender no Seu templo” (Sl 27:4). O filho pródigo foi levado à casa do Pai quando se converteu; vestido com o melhor manto, e permanecendo na dignidade de um filho, a ele foi dado que compartilhasse de todas as posses do Pai, e no gozo que Ele tinha em comunicá-las a ele. Esta casa é a morada secreta da comunhão. Muitas coisas atraíram o olhar dos discípulos na transfiguração; o rosto de Cristo brilhando como o Sol; Suas vestes brancas como a luz; Moisés e Elias, dois homens célebres, aparecendo em glória. Não havia nada disso na nuvem. Como Paulo, levado ao paraíso, os discípulos nada viram, pois Moisés e Elias desapareceram; mas foi para que os discípulos pudessem dar atenção total a uma palavra na qual toda a mente de Deus é resumida.

A preeminência de Cristo 

Pedro se esqueceu da preeminência de Cristo enquanto ele via Moisés e Elias. Ele disse: “façamos três tendas”. Ele queria colocar a lei e os profetas no mesmo nível de Cristo associando-os a Ele; e existem muitos Cristãos que inconscientemente fazem o mesmo. Pobre Pedro! Quão indigno ele se mostrou de ter esta visão! Sua linguagem, seu sono e seu grande medo, traíam o estado de sua alma, e quanto mais a perfeição de Jesus brilhava, mais as imperfeições de Pedro se multiplicavam. E vemos que isso é assim a todo o momento, até que Pedro tenha se julgado totalmente. O Espírito lhe dá poder, a carne o priva dele; o Espírito ilumina seu entendimento, a carne mostra sua ignorância, acima de tudo, concernente à cruz; o Espírito dirige seu olhar para a glória do reino, a carne reduz essa glória ao nível do homem falido. O mesmo acontece na cena do dinheiro do tributo, na ceia, no Getsêmani e na corte do sumo sacerdote, até que Pedro aprende o que é a carne e recebe o poder do alto. A glória excelente, longe de repelir os discípulos, os atraiu a Cristo e os colocou a Seus pés como discípulos, dizendo-lhes: “a Ele ouvi”. Assim, Pedro, com o restante, foi levado a desfrutar dos pensamentos do Pai em relação ao Filho do Seu amor, e a casa do Pai foi o cenário dessa revelação. Os discípulos, como dissemos, ouviram uma palavra, a breve expressão do que a presença do Filho fez brotar nos lábios do Pai, mas é uma palavra que nos permite penetrar nos segredos do Seu coração: “Este é o Meu Filho amado; a Ele ouvi”.

Essa é a nossa presente bênção. Nós fomos autorizados a compartilhar o segredo do Pai. Ele nos trouxe agora para a intimidade com Ele, a qual não pode ser excedida nem mesmo no estado eterno, embora, naturalmente, será desfrutada com mais perfeição. Veremos toda a exibição da glória de Cristo e seremos vistos nesta glória; mas agora somos os depositários dos pensamentos do Pai, revelando o Filho, o Pai revelado pelo Filho. “E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só”. Ao ouvirmos essa voz, aprenderemos mais e mais o que o Pai é para Ele e para nós.

H. R. de Christian Friend

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