Origem: Revista O Cristão – As Semelhanças do Reino, Parte 3
A Ceia das Bodas
“Então, Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo: o Reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho. E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas” (Mt 22:1-3). Observe o caráter desta parábola. Não é Deus tratando com a consciência natural, nem Sua busca por frutos como o dono da vinha, como nas parábolas anteriores; é o rei pretendendo honrar seu filho com as riquezas de sua própria casa. O rei não está fazendo reivindicações; ele está dando – ele está convidando. Aquele que dá um banquete fornece tudo. Além disso, o rei apresenta as vestes nupciais com as quais os convidados são honrados. Não deve haver nada que o rei não dê – sua generosidade suprirá ricamente tudo.
Honrar seu filho
Embora o pensamento principal do rei seja honrar seu filho, ainda assim ele deseja que os convidados entrem de coração em seu gozo. Ele deseja que haja plena bênção em sua mesa – rostos felizes ao seu redor – corações sem ansiedade. Esses devem ser aquilo que acompanha a ceia das bodas do filho do rei. Quão simples e evidente é a aplicação de tudo isso à luz do que aconteceu antes! O homem falhou completamente, mas Deus tem em Seu propósito, por meio do homem, glorificar Seu Filho, e Seus recursos efetuarão isso, apesar da ruína do homem.
Temos que considerar o tratamento dado ao convite por aqueles a quem foi enviado primeiro, e depois os conselhos posteriores de Deus. Um desígnio da parábola é trazer à tona a implacável inimizade da mente carnal contra Deus, em face dos maiores avanços de Seu amor.
O primeiro convite
O convite de Deus é feito primeiro àqueles que tinham “as promessas” – aos judeus. “E estes não quiseram vir”. Sob tais circunstâncias, não estaríamos inclinados a repetir a oferta, mas Deus a repete. Novos mensageiros são enviados novamente para chamá-los, e os preparativos são detalhados: “Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas. Porém eles, não fazendo caso, foram” pelos seus caminhos (vs. 4-5). Eles foram “um para o seu campo, e outro para o seu negócio”. Ainda pior: “e, os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram”.
A contrapartida de tudo isso pode ser encontrada no livro de Atos. A mensagem dos apóstolos após a crucificação foi: “Tudo está pronto”; a graça abundante ofereceu perdão até mesmo para aqueles que mataram o Príncipe da Vida. A estimativa dos judeus de tais boas novas pode ser encontrada na linguagem de Paulo (então Saulo de Tarso), antes de ser salvo: “E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui” (At 26:10-11). A conduta dos indivíduos pode ter variado, mas em princípio era a mesma. O descuido que faria um pecador menosprezar o convite do Rei para a festa é exatamente o mesmo que o levaria a matar Seus mensageiros, ou mesmo Seu Filho.
Os justos julgamentos de Deus certamente devem seguir, então neste caso, “E o rei, tendo notícias disso, encolerizou-se, e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade” (v. 7).
O segundo convite
Mas agora chegamos a uma verdade muito abençoada. Deus não desistiu de Seu amor ou Seu propósito em relação a Seu Filho. Sua casa deve estar cheia para honrar o casamento de Seu Filho. Novos convidados devem ser encontrados. “Então, disse aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial ficou cheia de convidados” (vs. 8-10). Aqui vemos o envio do convite aos gentios. Seu amor sai em graça simples para encontrar “tanto maus como bons” para participar da bondade de Sua casa. Esse é o princípio segundo o qual Deus está agindo no evangelho hoje.
Quando entendemos que Deus está glorificando Seu Filho Jesus, isso nos faz deixar de lado qualquer outro pensamento. Podemos ser os pecadores mais vis em nós mesmos, mas toda a ansiedade será tirada de nosso coração por causa do convite. É o convite de Deus, e Ele provê tudo o que é necessário.
Qualquer hesitação em aceitar o convite de Deus é desonrar Seu poder ou Seu amor. O convite é nosso único título e, vindo de Quem o conhece bem, merece toda a nossa confiança. É para todos nas “saídas dos caminhos”, quer nos encontre como mendigos ou príncipes. Os servos “ajuntaram todos quantos encontraram”. Nenhuma exceção foi feita; nenhum deveria ser passado sem ser convidado. A ordem do rei é clara: “convidai para as bodas a todos os que encontrardes”. A única pergunta real para aqueles que ouvem o convite do evangelho é: a consciência se submeteu à justiça de Deus? O convite é aceito como uma das mais puras graças? Se for assim, cabe a eles deixar de lado todas as ansiedades que o pecado ocasiona e entrar no gozo do Rei na feliz certeza de que seu lugar é sentar-se à Sua mesa. A bênção é garantida por meio de Sua suficiência e Sua graça.
A veste nupcial
Há um triste incidente que não deve ser esquecido. “E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste nupcial. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu” (vs. 11-12). A graça foi zombada por este homem, pois ele não havia obtido a indispensável veste nupcial, sem dúvida pensando que a sua própria era boa o suficiente. A instrução disso é evidente. Deus, a um custo infinito, providenciou uma veste para nós, como a única adequada para Sua santa presença, e grande de fato é a presunção que despreza esta provisão graciosa. “Ele emudeceu”. O julgamento proporcional à culpa seguirá, e pesadamente cairá certamente nos casos dos quais este é um exemplo. “Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o e lançai-o nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes” (v. 13).
Por outro lado, se reconhecermos nossa culpa e aceitarmos o que Deus nos dá, nossos temores desaparecerão e nossos lábios se abrirão para render a Ele a glória e regozijar-se em honrar Seu Filho. Nosso coração está assim no espírito do casamento? Nossos pensamentos estão em uníssono com os de Deus a respeito de Cristo? Se não, por mais próximos a Ele que imaginemos estar, não temos nada a ver com o casamento. O princípio de todo o assunto em questão é: “como entraste aqui, não tendo veste nupcial?”
O coração de Deus está colocado na glória de Cristo, e essa glória está relacionada com o gozo e bênção daqueles que se submeteram à Sua justiça e acolheram as riquezas de Sua graça. Se nosso coração estiver ocupado com a glória de Cristo, não estaremos pensando, em certo sentido, no que somos ou no que fomos; nossos pensamentos se concentrarão no Abençoador e na bem-aventurança para a qual fomos trazidos.
Christian Truth, vol. 9 (adaptado)