Origem: Revista O Cristão – Betel

O Chamado de Jacó para Betel

As quatro principais biografias de Gênesis ilustram quatro grandes princípios do tratamento de Deus com o Seu povo em graça.

Em Abraão é apresentado o princípio da eleição e da graça de Deus; em Isaque, a filiação e herança; em Jacó, a disciplina e em José, temos o sofrimento e a glória. Outras verdades têm seu lugar em cada uma delas, mas esses são os principais pensamentos. É interessante olhar para Betel em conexão tanto com Abraão, o homem de fé, quanto com Jacó, o homem da experiência. Betel e o Deus de Betel são os mesmos, mas há um aspecto peculiar a cada um. Betel era o ponto de encontro de Abrão com Deus, assim como o de Jacó, e também o lugar de seu altar (Gn 12:7-8), mas Abrão O conheceu antes como o “Deus da glória” em Ur dos Caldeus. Este foi o fundamento do chamado que o homem de fé havia obedecido. A trouxe Abrão como um estrangeiro e um peregrino a Betel; já com Jacó, as circunstancias o levaram até aquele lugar. Consequentemente, depois da decaída de Abrão, como homem de fé, houve uma restauração muito mais rápida a Betel do que foi a de Jacó (Gn 13:3-4). Mas é sobre Jacó que queremos falar.

O Deus de Betel 

Em Gênesis 28:10-22 vemos as circunstâncias nas quais Jacó se familiarizou com Betel pela primeira vez. Sua sutileza em procurar obter a bênção que era sua, de acordo com a promessa de Deus, agora o havia tornado um exilado da casa de seu pai. Mas Jacó, com todas as suas objeções e debilidade de caráter, estava ligado a Deus, enquanto Esaú, com todas as características de generosa franqueza, não era senão um homem natural, buscando nada além do que as coisas deste mundo.

Foi quando Jacó era um peregrino sem lar, e tinha seu cajado como seu companheiro, e uma pedra como seu travesseiro, que o Deus de Betel apareceu e entrou em um relacionamento e conexão imutáveis com ele.

Jacó nunca teve uma revelação mais completa de Deus como a que o Deus da promessa e da graça que Betel apresentou, e isso também quando todas as circunstâncias externas eram mais contrárias ainda. A graça penetra em seu coração e então faz um voto dizendo: “Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus; esta pedra, que tenho posto por coluna, será Casa de Deus” (Gn 28:20-22). Mas esta não é a forte apreensão de fé, mas a débil hesitação de uma alma que deve, por muitas tristezas, aprender sobre sua própria fraqueza, antes de tomar Deus somente para ser a sua força. Mas Deus é o Deus de Betel, e sob o poder desta revelação de Si mesmo para Jacó, chamou a ele para caminhar e agir nas cenas que estariam diante dele.

A história dele que se seguiu, antes de ouvirmos novamente sobre Betel, é marcada por um serviço duro e não recompensado, e parece que a atitude de Jacó sob este rigoroso serviço foi pouco conforme o caráter adequado a alguém que conheceu as revelações de Deus de Betel. Mas em meio a essa cena de provação, Deus relembra Jacó a respeito de Betel, pois Deus não havia se esquecido da promessa de Sua graça. Agora Ele diz: “Eu Sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde Me tens feito o voto; levanta-te agora, sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela” (Gn 31:13).

O retorno a Betel 

Este novo chamado de Deus rompe o elo da escravidão de Jacó em Padã-Arã, mas em sua jornada de volta sob a mão de Deus, há muitos exercícios de coração entre ele e Betel. Existe a perseguição de Labão por sete dias, mas também o pilar de Deus entre Jacó e Labão, como havia depois entre os israelitas tementes e os exércitos do faraó que os perseguiam. Mas outro julgamento o espera, trazendo à lembrança pecados anteriores, e levando a exercícios mais profundos diante do Deus de Betel. “Livra-me”, diz o homem trêmulo, “da mão de meu irmão, da mão de Esaú, porque o temo, para que porventura não venha e me fira e a mãe com os filhos. E Tu o disseste: Certamente te farei bem (esta era a lembrança de Betel) e farei a tua semente como a areia do mar, que, pela multidão, não se pode contar” (Gn 32:11-12).

Lutando contra Deus 

Agora vem o último esforço de sua sabedoria em seus arranjos para enfrentar a hora difícil; ele é deixado sozinho com Deus! Mas não é na calma adoração no altar de Betel, mas sim em uma noite de luta contra Aquele que, porque queria abençoar, precisa resistir aos caminhos e aleijar a energia que não foi subjugada pela presença da graça nem sujeita a Deus pelo poder da fé! “Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um Varão, até que a alva subia. E, vendo que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa; e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com Ele” (Gn 32:24-25). Ele “lutou com o anjo e prevaleceu”, mas foi com a aflição do lutador – temendo que a bênção escapasse – que “chorou e Lhe suplicou” (Os 12:4). Ele encontrou Deus e obteve a bênção, mas isso não é adoração junto ao pilar ungido com o Deus de Betel. É Deus em Peniel, e quando ele encontra seu irmão Esaú, ele descobre como Deus havia rendido o coração de seu irmão, sem os presentes que foram designados pelo pobre Jacó para subornar seu amor!

Siquém 

Ele chega a Siquém e ergue um altar ali, o chamando de El-Elohe-Israel. Ele é agora um adorador de “Deus, o Deus de Israel”, mas Deus em Siquém não é Deus em Betel, como Jacó precisa aprender. Por que ele demora aqui e compra um pedaço de terra, quando Deus tinha chamado ele de volta para Betel e mostrou-lhe seu título de toda a terra como sua herança? Ai! Essa nova tentativa de parar antes de chegar ao lugar para o qual Deus o havia chamado faz com que se aprofundasse ainda mais a sua experiência. Se seu pai tinha comprado uma possessão aqui, por que sua filha Diná não poderia “sair para ver as filhas da terra”? Sua corrupção se segue, seguida pela traição e vingança de Simeão e Levi, que destroem o “ponto verde no deserto” do pobre peregrino. Mas Deus aparece, e disse a Jacó: “Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugiste diante da face de Esaú, teu irmão. Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Tirai os deuses estranhos que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as vossas vestes. E levantemo-nos e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e que foi comigo no caminho que tenho andado. Então, deram a Jacó todos os deuses estranhos que tinham em suas mãos e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém” (Gn 35:1-4).

De volta a Betel 

Em toda a experiência de Jacó com Labão não houve nova revelação de Deus, mas após esta provação, quando ele contemplou a jornada a Betel segundo o chamado de Deus, então de repente Jacó percebeu que as coisas da idolatria que se ajuntaram ao redor dele em Padã-Arã não devem estar associados a um retorno a Betel. Os falsos deuses, os brincos e as vestes sujas podem permanecer sem repreensão na Síria, sob o árduo serviço de Labão, mas quando o Deus de Betel nos lembra do brilho de Sua graça, então os falsos deuses não podem mais ser retidos. Neste ponto, Jacó está de volta em abençoada comunhão com Betel e com o Deus de Betel, e como livremente a fonte da graça, amor e fidelidade derrama suas correntes para refrescar seu coração exausto! É o Deus de Betel ainda, apesar de todos os esquecimentos e andanças de Jacó. “E apareceu Deus outra vez a Jacó, vindo de Padã-Arã, e abençoou-o E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação e deitou sobre ela azeite. E chamou Jacó o nome daquele lugar, onde Deus falara com ele, Betel” (Gn 35:9, 14-15).

Tal é o efeito da verdade de Deus. Pode ser conhecida e crida como uma revelação, mas quão diferente quando a mesma verdade é mantida em comunhão viva com Deus e em conformidade moral com Ele!

G. V. Wigram (adaptado)

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