Origem: Revista O Cristão – Aves
O Cheiro Suave de Animais e Aves Limpas
Os sacrifícios de animais, instituídos por Deus antes do dilúvio, continuaram depois dele; Noé, ao sair da arca, ofereceu holocaustos na recém-ordenada Terra. Aprendemos que ele ofereceu holocaustos (Gn 8:20), mas apenas de todo animal limpo e de toda ave limpa. Antes do dilúvio, Noé evidentemente conhecia bem animais limpos e impuros (Gn 7:2), embora os meios pelos quais ele aprendeu isso não tenham sido registrados. Com a lei sendo dada, mais ensino em referência ao sacrifício foi revelado, mas antes disso nos deparamos com holocaustos, e com sacrifícios que, em caráter, se assemelhavam um pouco à oferta pacífica do ritual mosaico, e libações. Depois do dilúvio, cada pai de uma nação deve ter levado consigo, desde o berço da raça, o conhecimento de que tais sacrifícios poderiam ser oferecidos a Deus. Por mais importante que fosse esse ensino, não era tudo o que Deus pretendia transmitir. Antes de chamar Israel para fora do Egito e dar-lhes um ritual em que os sacrifícios ocupavam lugar de destaque, o Senhor deu a conhecer o que pensava do holocausto, e algo também do que era, aos Seus olhos, entregar à morte um Filho único. Aprendemos essas lições com as histórias de Noé, Jó e Abraão.
Noé, ao sair da arca, ergueu seu altar e ofereceu seus holocaustos. Pode ter sido um culto silencioso, pois não lemos sobre nada que Deus tivesse ouvido, mas apenas sobre o que Ele cheirou. Um culto silencioso talvez, porém quão cheio de significado para Ele e de instrução para nós; pois o intuito é claramente que nossa atenção esteja fixada nos sacrifícios então oferecidos, nos quais repousavam os olhos do Senhor e que Lhe eram tão agradáveis.
Suavidade ao Senhor
Um cheiro suave! Esta é a primeira vez que encontramos tal expressão. “E o SENHOR cheirou o suave cheiro e disse em Seu coração:” (antes de falar com Noé, Ele falou Consigo mesmo) “Não tornarei mais a amaldiçoar a Terra por causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice; nem tornarei mais a ferir todo vivente, como fiz. Enquanto a Terra durar, sementeira e ceifa, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão” (Gn 8:21-22). O Senhor mudaria Sua maneira de lidar com o homem e instituiria, enquanto a Terra durasse, uma ordem permanente de coisas. Mas por que esses pensamentos e propósitos de Deus? Por causa do cheiro suave do sacrifício. Vendo tudo o que ainda permanecia da raça humana vivo na Terra, Deus declarou que o próprio homem não tinha mudado. Como filhos de Adão, então, não temos nada do que nos gloriar diante de Deus.
A punição, então, seja sofrida ou testemunhada, não muda o homem. O anúncio, portanto, de uma mudança no trato de Deus com o homem não surgiu de nenhuma melhoria nele, seja presente ou futura. Surgiu simples e exclusivamente do cheiro suave que Deus cheirou. Dessa forma, nos é permitido ver o que Deus pode fazer pelo homem em virtude da morte de Seu Filho. Era isso o que estava diante d’Ele quando Ele cheirou um cheiro suave e imediatamente comunicou Consigo mesmo.
Deus abençoa Suas criaturas
Lemos que, além de falar Consigo mesmo, o Senhor abriu Sua boca para permitir que os que estavam ao redor do altar aprendessem Seus caminhos em bondade. Deus abençoou Noé e seus filhos. Isso era algo completamente novo. Ele havia abençoado Adão e Eva quando em inocência. Ele havia abençoado o sétimo dia e o santificado; mas nunca, pelo que lemos, Deus abençoou uma criatura pecadora, até Noé tomar de cada animal limpo e de cada ave limpa e os oferecer como holocaustos ao Senhor. Ele, então, não esperou um só momento. Foi estabelecida, em figura, a base sobre a qual Ele poderia abençoar, e Ele abençoou. Ele abençoou Noé e seus filhos. Antes do dilúvio, Deus falou a Noé, mas nunca dirigiu uma palavra aos filhos dele. Depois que o holocausto subiu a Ele, Ele falou a todos eles e reconheceu a todos como tendo um lugar diante d’Ele. Ele abençoou a todos plenamente no que diz respeito às coisas terrenas, e, como criaturas da Terra, embora fossem pecadores, puderam desfrutar de Sua bênção.
Alimentos fornecidos
Noé, apesar de pai de todos os vivos sobre a Terra, não ocupou esse lugar na criação que Adão tinha preenchido. Mas o que Deus nunca deu a Adão, Ele concedeu a Noé e a seus filhos. A Adão foi dada, para mantimento, toda erva que dá semente e toda árvore em que há fruto de árvore que dê semente (Gn 1:29). Após a queda, Deus permitiu que eles comessem apenas da erva do campo (Gn 3:18). Mas, ao aceitar a oferta queimada de Noé, Deus deu ao homem tudo na Terra para mantimento – tudo o que crescia e tudo o que vivia na Terra, no ar e no mar, com exceção apenas do sangue. E Deus nunca revogou isso. O que Deus então disse se mantém válido até hoje. A concessão é tão livre quanto sempre foi (1 Tm 4:4-5).
Portanto, ao exercermos nossa liberdade quanto aos alimentos e especialmente a carne, estamos participando da concessão que o Senhor então fez com base no cheiro suave do sacrifício. Se a concessão dependesse, para a sua continuidade, da obediência do homem, ela teria sido perdida há muito tempo. Se tivesse sido prometida com base em qualquer melhoria a ser feita na natureza do homem, nunca poderia ter sido desfrutada. Mas dada unicamente, como foi, em cima da aceitabilidade do sacrifício, sua continuação não dependia de condições que o homem tivesse que cumprir. Enquanto esse sacrifício, do qual os holocaustos de Noé eram apenas tipos, permanecer aceito diante de Deus, pelo tempo em que os homens precisarem de tal mantimento, essa concessão pode continuar. Vemos nisso uma ilustração de um princípio de grande importância para nós. Tudo depende, para a bênção do homem, disto: Qual é o sacrifício aos olhos de Deus? Que abençoado fundamento é esse sobre o qual se apoiar! Aqui, Deus pode agir de acordo com os ditames do Seu próprio coração. Aqui, o homem, por mais indigno que seja, pode receber, rica e incondicionalmente, de Deus.
Christian Friend, Vol. 6 (adaptado)