Origem: Revista O Cristão – Gideão
Colocando o Velo de Lã
Não é raro que, quando os crentes não têm certeza se devem seguir um determinado curso de suas vidas, ouvimos a expressão: “Eu pus um velo de lã”. Isso geralmente significa colocar perante o Senhor uma certa possibilidade em sua vida num futuro imediato, que ela ocorra de uma maneira particular como um sinal de que é a vontade do Senhor que ele vá em frente. Por outro lado, se não ocorrer dessa maneira, então se supõe ser uma indicação de que tudo o que foi proposto não é a vontade do Senhor. Às vezes surge a pergunta: esse é um modo apropriado de um Cristão determinar a vontade do Senhor?
A expressão vem de Juízes 6:36-40, quando Gideão hesitou em sair contra os midianitas. Já havia sido dito claramente a Gideão: “O SENHOR é contigo, varão valoroso” (Jz 6:12). Foi-lhe dito também: “Porquanto Eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas como se fossem um só homem” (Jz 6:16). Mais do que isso, ele teve o privilégio de oferecer um sacrifício que fora aceito e depois construir um altar. Finalmente, em obediência à palavra do Senhor, Ele havia destruído o altar de Baal e oferecido um novilho sobre o altar. O Espírito do Senhor veio sobre ele e muitos em Israel foram reunidos a ele.
A mente do Senhor
Tendo em vista tudo isso, podemos certamente concluir que foram dados a Gideão mais do que o amplo testemunho da mente do Senhor, e também a promessa de Sua força. Teria ele duvidado de tudo isso, ou foi uma falta de confiança que o Senhor pudesse usá-lo – um homem de uma família pobre e o menor na casa de seu pai? Eu creio que a última opção é a correta. Gideão era um homem exercitado, que realmente sentia a condição de Israel. Além disso, ele não duvidava que o Senhor pudesse salvar Israel. Mas a pergunta dele era: “hás de livrar Israel por minha mão?” (Jz 6:37). Por esta razão, o Senhor teve misericórdia dele e lhe respondeu pelo velo de lã, não uma vez, mas duas vezes.
Os dois incidentes são instrutivos para nós. Na primeira vez, o velo estava encharcado de orvalho, enquanto a terra ao redor estava seca. Certamente isso fala da vida de nosso bendito Senhor Jesus, que em Seu caminho terrenal era “como raiz de uma terra seca” (Is 53:2). Nada ao redor d’Ele Lhe deu qualquer encorajamento, tudo veio de cima.
Na segunda vez, o velo de lã estava seco, enquanto havia orvalho em todo o chão ao redor. Certamente esta é uma imagem dos resultados da morte de Cristo, quando Ele pôde dizer: “A Minha força se secou como um caco, e a língua se Me pega ao paladar; e Me puseste no pó da morte” (Sl 22:15). Mas o fruto de tudo isso foi bênção para todos os que creem, pois Ele pôde dizer: “A água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). O Senhor usou o sinal que Gideão pediu que fosse feito diante de si, que em figura, representa a vida e a morte do nosso bendito Senhor Jesus.
Por que colocar o velo de lã?
Voltando à questão de saber se devemos “colocar um velo de lã”, não podemos dar uma resposta que se adeque a todos os casos. Por um lado, uma vez que somos habitados pelo Espírito de Deus, podemos ir ao Senhor buscando orientação clara, não precisamos ser guiados pelas circunstâncias. Às vezes lançamos um velo de lã porque não estamos andando com o Senhor e, portanto, não podemos discernir Sua mente. Além disso, devemos admitir que às vezes o nosso “velo de lã” está lá porque conhecemos a mente do Senhor, mas queremos uma desculpa para evitá-la.
No entanto, em outras situações, há uma sincera falta de confiança em nós, juntamente com um desejo real de fazer a vontade do Senhor. Em tais casos, o Senhor é gracioso e pode permitir que a situação se desenvolva como pedimos. Nesse caso, nossa fé é fortalecida e, sem dúvida, isso era verdade quanto a Gideão. Deste ponto em diante, ele avança com confiança, e o Senhor ainda lhe dá mais uma confirmação da vitória, no relato do sonho que ele tem o privilégio de ouvir quando desce ao exército de Midiã. Quão gracioso é nosso Senhor para conosco! Ele reprova incredulidade, mas suporta e encoraja fraquezas e debilidades.
