Origem: Revista O Cristão – Babilônia

O Começo e o Fim da Babilônia

Babilônia significa confusão, pois em Babel o homem fez sua primeira tentativa organizada de agir em independência de Deus e, portanto, Deus a confundiu. Posteriormente Babilônia tornou-se a cabeça dos poderes gentios que desolaram Jerusalém, e, por consequência, é frequentemente mencionada como representando o todo. Os profetas por várias vezes também a denunciam com uma linguagem forte por sua descarada idolatria. As ideias, portanto, sugeridas por Babilônia, sejam civis ou religiosas, estão todas contrárias à cidade de Deus. Começou na independência da vontade de Deus; continuou como a opressora do povo de Deus; caiu ao usar os vasos do templo de Deus para honrar seus próprios ídolos.

A cidade da Babilônia há muito que é um monte de ruínas, onde “feras do deserto” se aninham e as “suas casas estão cheias de animais sombrios”. Mas o sistema que a Babilônia representa ainda sobrevive. Politicamente, é a independência de Deus, como se vê na besta; religiosamente, é a idolatria, como se vê na mulher. Ambos concordam em ódio e perseguição ao povo de Deus. Os aspectos civis e religiosos são frequentemente, como na própria Babilônia, interligados, mas todos os elementos malignos estão unidos na Babilônia mística do Apocalipse. Em todos os pontos de vista, está pronta para o julgamento.

A Igreja 

A Igreja pode ser vista tanto em seu relacionamento com Cristo quanto com o mundo. Na primeira visão, nenhuma figura pode ser mais primorosamente apropriada do que a da noiva ou esposa. Na última visão, nenhuma figura pode ser mais expressiva do que a de um objeto marcante em que a habilidade e a beleza são exibidas, como um magnífico templo ou cidade. Assim, a Igreja é apresentada por João no livro do Apocalipse sob os dois símbolos, o da “esposa do Cordeiro” e o da “grande cidade, a santa Jerusalém”. Por outro lado, a falsa igreja, o corpo apóstata que professou ser a noiva de Cristo, é apresentada sob duas figuras correspondentes – como a prostituta ou a falsa esposa em contraste com a verdadeira, e como a cidade profana em contraste com a santa, a cidade da Terra em contraste com a cidade que “descia do céu”, a cidade do homem em contraste com a cidade de Deus, a cidade do trono da besta em contraste com a cidade do trono do Cordeiro. Esses dois aspectos são sucessivamente colocados diante de nós em Apocalipse 17-18.

A mulher (prostituta) 

No capítulo 17, a mulher é vista sentada sobre uma besta de cor escarlate. Ela estava disposta a cometer fornicação com os reis da Terra, a prostituir o poder religioso que ela exercia para alcançar fins mundanos e promover os esquemas dos soberanos mundamos. Ela estava disposta a fazer isso pela besta, precisamente quando agindo sob a inspiração de Satanás. Mas então, uma nova religião surgirá agora, a adoração de um homem, e todos os vestígios do Cristianismo devem ser extintos. Esses soberanos, consequentemente, voltarão seu ódio contra a mulher, que, apesar de terrivelmente pervertida, ainda era chamada pelo nome de Cristo. Por mais que sua influência tenha sido, e talvez ainda seja, sobre os povos, eles decidem por sua destruição total. “E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas. E os dez chifres que viste e a besta [não “na ou sobre a” besta – JND; ARA; TB] são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo. Porque Deus tem posto em seu coração que cumpram o Seu intento, e tenham uma mesma ideia, e que deem à besta o seu reino, até que se cumpram as Palavras de Deus. E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da Terra” (Ap 17:15-18).

Tudo isso é bastante claro e muito instrutivo. Deus pode usar quaisquer instrumentos que Ele queira para realizar Seus propósitos. A malícia de Satanás apenas leva o remanescente do povo de Deus ao deserto, onde Ele os encontra e fala confortavelmente com eles, enquanto reúne os exércitos do mundo para o lugar onde Ele planeja executar o julgamento sobre eles. A besta e os dez reis neste capítulo, apesar de odiarem e blasfemarem contra Deus, são apenas Suas ferramentas, sem nenhum conhecimento ou vontade própria, para realizar Seus desígnios infalíveis. Ele tem o propósito de destruir a prostituta, e esses reis perversos, embora unidos para fazerem guerra” ao Cordeiro, são os instrumentos cegos que Ele usa. Vaidade das vaidades! Eles se rebelam contra Sua autoridade, negam Sua verdade, blasfemam Seu nome, aliam-se contra Seus propósitos e, no entanto, Ele “Colocou em seus corações o cumprimento da Sua vontade”.

A rainha 

Temos visto o julgamento de Deus sobre a Babilônia como a prostituta, aquela que falsamente tomou o lugar da esposa do Cordeiro. Apocalipse capítulo 18:1 a 19:4, nos mostra seu julgamento como cidade ou sistema religioso no mundo. Aqui entendemos os pensamentos do homem sobre isso, e vemos quão diferentes são os sentimentos criados por sua desolação na Terra e no céu.

Neste sistema corrupto, de fato, existem, e sempre existiram, verdadeiros filhos de Deus, pois Sua graça pode superar todas as barreiras. Mas Deus os chama para sair dele, advertindo-os de seu verdadeiro caráter e seu julgamento que se aproxima. “E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus Se lembrou das iniquidades dela” (Ap 18:4-5). Aqui, as pessoas chamadas a abandonarem este sistema maligno, é o povo de Deus, como Ló estava em Sodoma, e Deus nunca deixará que os Seus pereçam. Mas quão diferente é o destino de Ló (salvo “como pelo fogo”, e com a perda de tudo) do destino de Abraão, contemplando o julgamento do alto do monte Hebrom. Tal é a diferença entre aqueles que andam separados do mal, e aqueles que continuam contentes com ele, porque estão seguros da sua própria salvação.

Os reis que se unem contra o Cordeiro, são os instrumentos pelos quais a igreja falsa é despojada de sua glória e riquezas, e deixada desolada; mas nisso eles estão, mesmo sem saber, cumprindo os propósitos de Deus, como Nabucodonosor outrora. Então a voz do céu lhes ordena – “Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a ela em dobro” (Ap. 18:6).

A verdadeira Igreja 

A Igreja foi chamada para ser separada do mundo e para esperar pelo Senhor. “Nossa cidade”, diz Paulo, “está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20). Mas a Igreja logo deixou essa atitude de espera e disse em seu coração: “O meu Senhor tarda em vir”. Atualmente, como vemos no esboço da história eclesiástica fornecida pelas sete igrejas, ela se estabeleceu no mundo, “onde está o trono de Satanás”. O próximo passo é realizado rapidamente. Tendo deixado de ser viúva, ela começou a ser rainha. Abandonando sua apropriada esperança celestial, ela se apropriou das esperanças terrenais dos judeus, que eram mais agradáveis ao seu paladar mundano. Desatenta ao aviso do apóstolo, ela esqueceu que, se fosse infiel, seria cortada. Seu caráter de viúva foi abandonado, e o esplendor e a glória prometidos a Israel, mas totalmente inadequados para a Igreja, foram reivindicados e apossados por ela mesma. Ela se tornou não apenas um grande poder no mundo, mas um poder diante do qual todos os outros devem se curvar. É verdade que suas pretensões despertaram resistência, e os monarcas que se ajoelhavam diante dela por um momento, a desafiariam em outro. Mas, tais eram suas pretensões, reivindicações que ela nunca abrandou, enquanto seu esplendor e luxo excediam todos os limites. Por isso, ela agora é subitamente visitada. O próprio poder em que ela se apoiou, se volta com furor contra ela, e se torna seu assolador. “Porque numa hora foram assoladas tantas riquezas”.

Não é de admirar que haja alegria no céu. “Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas, porque Deus julgou a vossa causa quanto a ela” (Ap 18:20), pois “nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na Terra” (Ap 18:24).

O fim da Babilônia 

A intima conexão moral entre a cabeça das monarquias gentias e a Babilônia mística do Apocalipse, é melhor demonstrada pela semelhança das figuras que descrevem sua queda. Jeremias, atando sua profecia contra a Babilônia a uma pedra, lançou-a no Eufrates, dizendo: “Assim será afundada a Babilônia e não se levantará, por causa do mal que Eu hei de trazer sobre ela” (Jr 51:64). Então, no capítulo que está diante de nós, lemos, “E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada Babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada” (Ap 18:21).

O julgamento é a obra estranha a Deus, mas é necessário limpar o terreno para a bênção, pois os capítulos a seguir indicam para qual evento poderoso e abençoado esse julgamento prepara o caminho. Os vinte e quatro anciãos que participam desta ação de graças são mencionados aqui pela última vez. Eles são, como vimos, uma companhia que representa os remidos, que foram ressuscitados e/ou arrebatados quando Cristo veio para Seus santos e estão agora para sempre com o Senhor. Eles adicionam seu “Aleluia” ao coro de gozo no julgamento da prostituta, e depois vão para as bodas do Cordeiro.

T. B. Baines (adaptado)

Compartilhar
Rolar para cima