Origem: Revista O Cristão – Compartilhando com Cristo

Compartilhando Ódio de Deus pelo Pecado

No último versículo de 1 João 2, o assunto da nossa justiça é introduzido. Vimos que Deus é justo em 1 João 1:9. Que verdade maravilhosa é essa que Deus é declarado Fiel e Justo para perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça! Deus é capaz de agir não apenas graciosamente em nosso favor quando não o merecemos, mas também age para perdoar, de forma justa, aquilo que é tão ofensivo a Ele como pecados. É verdade que, quando nascemos de Deus, também evitamos os pecados; aprendemos a condenar o próprio pecado e a nós mesmos por termos sido culpados de pecados. Não é isso que acontece desde o início quando o crente se volta para Deus? Estando diante d’Ele, abomina a si mesmo e aos seus pecados. Quando a obra do Senhor Jesus é recebida no poder do Espírito, bem como em Sua Pessoa, então, até mesmo o novo convertido vê as coisas claramente, como elas são aos olhos de Deus. Ele começa a conhecer não somente as coisas sob a visão de Deus, mas o próprio Deus, em Seu sentimento de perfeito amor para com aqueles que são Seus.

Justiça – novo nascimento 

Aqui, no entanto, nossa justiça é declarada como algo inseparável do nosso novo nascimento. Isso muitas vezes alarma qualquer um imaturo na fé, porque ele naturalmente logo se volta para olhar para dentro de si. Mas o que temos que fazer é descansar em Cristo, que para nós é feito justiça. Não há proveito algum para a fé olhar para nós mesmos; isso traz apenas o conhecimento de nossa fraqueza absoluta. Somente quando nosso olhar espiritual é preenchido por Cristo, Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza. Então, de fato, haverá a justiça prática.

Embora no último versículo ele tenha introduzido a justiça, o escritor (João) imediatamente parece se afastar dela nos versículos iniciais do capítulo 3, onde ele, de repente, irrompe naquelas palavras maravilhosas: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai” (ARA). Assim, ele recebe o amor presente do Pai e a glória futura no mesmo supremo favor aos filhos de Deus em ser como Cristo, “porque assim como é O veremos. E qualquer que n’Ele [Cristo, fundado sobre Ele] tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele [Cristo] é puro”. Sendo Cristo o Padrão, e sendo Ele absolutamente puro, faz com que o Cristão sinta que deve purificar-se de tudo o que é indigno d’Ele. Desnecessário será dizer que, quando olhamos para a conduta diária, muitas vezes há fracasso. Mas João não está ocupado com a falha como regra geral, mas com o princípio e, portanto, ele a coloca em toda a sua simplicidade, de forma abstrata.

Ódio do pecado 

O crente é justo como sendo nascido de Deus e, consequentemente, compartilha com Cristo o ódio de Deus pelo pecado, pois nossas ações são resultado do que somos. E todo aquele que pratica a justiça é nascido de Deus, e assim sabe que tem proximidade no relacionamento por ser o objeto do amor do Pai. Assim, a natureza e o relacionamento dão as mãos e caminham juntos, e é isso que o apóstolo nos explica aqui.

“Qualquer que comete o pecado também comete iniquidade [rebeldia – AIBB], porque o pecado é iniquidade [rebeldia – AIBB] (v. 4). “cometer pecado” aqui significa tanto o princípio do homem quanto sua prática também, pois isso é exatamente o que o homem natural faz aos olhos de Deus. O lugar do homem está no pó como pecador, pois seu pecado é rebeldia – o princípio da vontade própria e da total independência de Deus.

O pecado é rebeldia 

“Qualquer que comete o pecado também comete iniquidade [rebeldia – AIBB], porque o pecado é iniquidade [rebeldia – AIBB]. O pecado não é transgressão da lei (como traz a versão ARA e a KJV), mas rebeldia; esse é o verdadeiro sentido. Nenhuma outra interpretação é possível legitimamente. Fazer da lei, em vez de Cristo, a regra de vida para o Cristão é um erro. “E bem sabeis que Ele Se manifestou para tirar os nossos pecados; e n’Ele não há pecado” (1 Jo 3:5). Imediatamente o apóstolo introduz exatamente o oposto. Onde encontrar alguém totalmente livre da rebeldia? Havia apenas Um, e Ele era tão evidente que era desnecessário nomeá-Lo. Sim, sabemos que o Senhor Jesus foi manifestado para tirar nossos pecados. Quão adequado a uma Pessoa divina, mas ao mesmo tempo um verdadeiro Homem! Ele realmente abominou o pecado e, como é dito imediatamente após Sua obra, “n’Ele não há pecado”. Não é simplesmente “não havia” antes de Seu advento, e “não haveria” depois de Sua ressurreição, mas “n’Ele não há pecado”. É uma verdade absoluta. Como nunca houve pecado em nenhum momento, então nunca poderia haver. E ainda, Aquele sem pecado foi exatamente Aquele a Quem Deus fez pecado, para que nós, que realmente éramos pecadores, pudéssemos ser feitos justiça de Deus n’Ele. Por um lado, isso se refere ao objetivo e ao ato sem igual de Sua morte expiatória; por outro, refere-se ao caráter imutável e santo de Sua vida, tão singularmente manifestado e particularmente testado neste mundo. Assim, isso foi manifesto a todos os olhos, a menos que fossem cegos ou não enxergassem direito.

Nenhum outro remédio 

“Qualquer que permanece n’Ele não peca” (1 Jo 3:6). Não há outro remédio contra o pecado a não ser permanecer n’Ele, constantemente dependente e confiante. A proteção ou preservação não estão em quem invoca o nome do Senhor. É coisa excelente agir assim, mas muitos que hoje dizem “Senhor, Senhor” serão ignorados naquele dia. Permanecer em Cristo é a prova para uma fé viva em Cristo, que não é vazia ou vã, mas, pelo contrário, opera por amor, como foi dito aos gálatas que estavam sob influência da lei. E isso nem poderia ser de outra maneira. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, O Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20). Ele não Se envergonha de nos chamar irmãos, Ele provou Seu amor por nós até o fim. Nem o Pai nem o Espírito Santo jamais foram encarnados para mostrar obediência absoluta em vida e em morte ao suportar o juízo por nossos pecados sob as mãos de Deus. Cristo sim. Há para nós um motivo de poder abundante, particularmente porque há uma natureza justa comunicada, bem como um relacionamento de tal proximidade com Deus, como somente o amor supremo do Pai poderia conceber e conceder.

W. Kelly (adaptado)

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