Origem: Revista O Cristão – Comunhão
A Comunhão da Igreja
Ao olhar para o assunto da comunhão, não há pensamento de ir além da verdade da responsabilidade individual do crente para com o Senhor, que tantas vezes é trazida diante de nós na Escritura. Pelo contrário, não pode haver dúvida de que a verdadeira comunhão no Espírito flui da dependência pessoal no Senhor e percepção da obrigação em relação às Suas reivindicações.
O princípio
É interessante observar que quando o Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes, um novo e distinto caráter de coisas foi produzido. Entre outros, lemos que os santos estavam em “comunhão”. Isso não era conhecido antes, porque a redenção não havia sido realizada. No Pentecostes, os crentes foram batizados em “um só corpo”. As pessoas na Terra eram assim, pelo dom e a habitação do Espírito Santo, unidas a uma Cabeça no céu formando um só corpo. Cristo não Se envergonhou de chamá-los de “irmãos”. Agora eles estavam, pelo Espírito Santo, unidos a Cristo e uns aos outros, em uma unidade divinamente formada. Todos eram participantes da vida ressurreta em Cristo, redimidos pelo mesmo sangue e formados em um só corpo por um só Espírito. Havia agora uma base e um poder pelo qual os santos poderiam agir juntos e caminhar em comunhão, como nunca poderia ter sido conhecido antes. Por isso, lemos que os crentes “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão” (At 2:42). Isso não significa que sua responsabilidade individual para com o Senhor foi diminuída, pois, quando Paulo se dirigiu aos anciãos em Éfeso, ele os admoestou a “Olhai, pois, por vós” antes de dizer a eles que deveriam cuidar dos outros.
Temos comunhão Cristã como resultado da redenção feita por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do dom da vida eterna e da habitação do Espírito Santo e sendo feitos membros de um só corpo. Suas atividades são espirituais. A comunhão é livre e irrestrita em sua operação, mas não dá licença para leviandade ou orgulho. É algo sério e não dá ocasião para a carne. É uma obra divina realizada.
Todo crente é, por graça, chamado por Deus para esta comunhão. “Fiel é Deus, pelo Qual fostes chamados para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1:9). Relações amistosas e associações, mesmo entre Cristãos, que se comportam aquém desse chamado, devem ser mantidas a distância. É fácil ter uma comunhão de pessoas conectadas por diferentes motivos e objetivos, que vem de interesses benevolentes ou filantrópicos comuns.
Expressando a comunhão
À mesa do Senhor, a comunhão é particularmente expressa. A cruz traz diante de nós o fundamento da comunhão. Por isso que o sangue de Cristo é mencionado primeiro e depois o corpo de Cristo neste capítulo (1 Co 10:16-21). O sangue é a base dessa ordem divina de comunhão e é desfrutada por aqueles que conhecem o poder pacificador do sangue, que foi derramado por muitos para a remissão de pecados. Portanto lemos: “Porventura, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?” Isto é comunhão: “[Nós] abençoamos”. Embora nossas histórias possam ser todas diferentes, todos nós éramos pecadores, todos precisávamos de expiação e agora, pela obra consumada de Cristo, todos são colocados no mesmo terreno para adorar e apresentar ações de graças a Deus. Nós agradecemos a Ele juntos, adoramos a Deus no Espírito e nos regozijamos em Cristo Jesus. Os fracos e os fortes na fé, os mais velhos e os mais jovens, encontram aqui um terreno comum de comunhão e louvor.
Pelo único pão na mesa, o caráter da nossa comunhão é estabelecido. É a participação no único corpo. É diferente de tudo que precedeu a Igreja ou que seguirá depois dela, pois há apenas “um corpo”. Ao partir e comer o mesmo pão, expressamos nossa comunhão ou participação conjunta n’Ele: “O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão” (vs. 16-17). Assim, toda vez que nos assentamos à mesa do Senhor e nos lembramos d’Ele, expressamos tanto a base quanto o caráter de uma comunhão divinamente formada, baseada em uma redenção realizada. O princípio da independência é a negação disso e resulta quando as pessoas se unem em alguma outra base que não seja o reconhecimento prático do corpo e do Espírito.
A unidade do Espírito Santo
Nós não somos chamados a criar uma unidade, mas a manter na prática o que Deus tem formado. Devemos nos esforçar para manter a unidade do Espírito no vínculo da paz, com toda humildade e mansidão, suportando uns aos outros em amor (Efésios 4:24). Nada menos do que isso poderia satisfazer o coração do apóstolo, porque ele estava certo de que era o caminho pelo qual o Espírito de Deus estava trabalhando.
Embora a verdade de nossa responsabilidade individual para com o Senhor nunca será mantida com a firmeza necessária, nada pode ser mais contrário à mente do Senhor do que andar de maneira independente. Ou seja, se opor à preservação da unidade do Espírito e ignorar a ação prática do um só corpo e de um só Espírito. Independência é a recusa da comunhão dos santos que é produzida pelo Espírito Santo.
Nem a ruína da Igreja, vista em seu lugar de responsabilidade na Terra com suas divisões quase infinitas, pode ser justificadamente argumentada como uma razão para agir com base no princípio do isolamento, muito menos para a formação de associações humanas não de acordo com a mente do Senhor. Deus nos deu o Espírito Santo e revelou em Sua Palavra que Ele formou a unidade de todos os crentes em Cristo. “Em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo” (ARA). Esta unidade é tão verdadeira como sempre foi para todos os membros do corpo de Cristo, diante dos olhos de Deus, porém, quanto à sua manifestação diante dos homens, onde é que ela pode ser vista? Infelizmente o oposto desse caráter divino é visto hoje pelo mundo. Ainda assim, os princípios de Deus para nossa direção não foram alterados por causa do fracasso do homem.
Esforçando-se para mantê-la
A determinação de que deveríamos, com toda a humildade, sermos achados “procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, nunca foi revogada. É simplesmente uma questão de cumprir a vontade de Deus. Se dois Cristãos caminham juntos “guardando a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, essas duas pessoas estariam cumprindo a vontade de Deus, mesmo que nenhuma outra pessoa na Igreja esteja fazendo isso. Eles não estariam formando a Igreja novamente, nem reconstruindo o que foi praticamente despedaçado. Se andassem em comunhão com o Espírito, eles humildemente reconheceriam que eram parte de uma Igreja que estava em estado de ruína. Eles tomariam o lugar de reconhecida fraqueza e se lançariam na misericórdia e fidelidade do Senhor. Eles seriam obedientes à Sua Palavra, e eles permaneceriam no verdadeiro caráter da Igreja de Deus – “um só corpo e um só Espírito”.
Deus é fiel. Sua Palavra é tão verdadeira como sempre, Seu Espírito habita, e o Senhor Jesus ainda está no meio de dois ou três, quando reunidos em Seu nome. Ele é a Cabeça do corpo, Aquele que enviou o Espírito Santo, o Filho sobre a Sua própria casa, e Ele logo vem para levar a Igreja inteira a Si mesmo.
Cuidados para todo o corpo
A comunhão não se limita aos privilégios e bênçãos que desfrutamos quando reunidos; ela se estende aos vários detalhes do estado e das circunstâncias de cada membro do corpo. Assim, “se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1 Co 12:26). Somos todos exortados a que sejamos inteiramente unidos no mesmo parecer, como também nos é dito: “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram”, e também para levar “as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo”, e que aqueles que são “instruídos na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Veja 1 Co 1:10; Rm 12:15; Gl 6:2, 6).
Quando as almas realmente têm comunhão com o Senhor, tudo corre bem; sem Ele nada está certo. Que nós procuremos apenas agradar a Deus! Onde há o conhecimento da verdade divina, um olho simples e uma vontade sujeitada, aí haverá ação para a Sua glória.
