Origem: Revista O Cristão – Comunhão
Comunhão
Sempre foi o desejo de Deus ter comunhão com Sua criatura. Como alguém observou com propriedade: “Deus é suficiente para Si mesmo em tudo, exceto em Seu amor; Ele deve ter objetos para amar”. Sem dúvida, é por isso que, depois de criar os reinos vegetal e animal, Deus disse: “Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança” (Gn 1:26). Mais do que isso, é evidente que Deus desceu para desfrutar de comunhão com Sua criatura, pois está registrado que depois que eles pecaram, Adão e Eva “ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia” (Gn 3:8).
O pecado interrompe a comunhão
Sabemos bem como o pecado do homem interrompeu essa feliz comunhão de Deus com Sua criatura e que, em consequência, ele foi expulso do jardim do Éden depois disso. No entanto, sabemos que muito antes do pecado entrar neste mundo, Deus já havia planejado o remédio para isso, não apenas para trazer o homem de volta à comunhão com Ele mesmo, mas para abençoá-lo muito mais do que se o pecado nunca tivesse entrado neste mundo. Antes de serem expulsos do jardim, Deus anunciou a eles a maravilhosa notícia de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente, sem dúvida referindo-se à vitória final de Cristo sobre Satanás.
Na história que se seguiu do homem, no Velho Testamento, havia comunhão com Deus e vários indivíduos a desfrutaram, em graus variados, embora não fosse característico do homem em geral durante esse período. Homens como Abraão, Moisés, Davi e muitos dos profetas desfrutavam de um íntimo relacionamento com o Senhor. De fato, está registrado que “nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o SENHOR conhecera face a face” (Dt 34:10). No entanto, as pessoas comuns não foram capazes de acessar a presença de Deus de tal maneira, e assim é registrado que durante esse tempo, Deus disse: “O SENHOR disse que habitaria nas trevas” (1 Rs 8:12). Alguns indivíduos se levantaram acima de sua época e desfrutaram, em alguma medida, de uma íntima comunhão com Deus, mas Deus ainda não havia Se revelado em Sua plena glória e caráter.
Reconciliação
Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos Deus enviando Seu Filho ao mundo, e João Batista pôde dizer: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Foi o pecado que interrompeu a comunhão de Deus com o homem, e a obra de Cristo acabaria banindo o pecado de todo o universo. Isso não acontecerá de modo prático até o período conhecido como o estado eterno, mas a obra de Cristo já forneceu a base para que isso aconteça. Isso é mostrado em Colossenses 1:20: “Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio d’Ele reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na Terra como as que estão nos céus”. Entretanto, o próximo versículo nos mostra que não precisamos esperar que isso aconteça, mas podemos desfrutar da presença de Deus e ter comunhão com Ele agora: “A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo, vos reconciliou” (Cl 1:21). O crente no Senhor Jesus está agora reconciliado a Deus – trazido de volta à comunhão com Ele, uma comunhão que foi perdida quando o homem pecou.
A comunhão na qual somos levados é muito mais do que aquela que Adão e Eva perderam, pois enquanto desfrutavam da presença de Deus na viração do dia, podemos dizer que “a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1:3). Nosso lugar é de uma proximidade muito maior do que Adão desfrutou, pois não apenas temos uma nova vida em Cristo, mas temos o Espírito de Deus habitando em nós, nos dando o gozo de Cristo por meio dessa nova vida. De todo modo, o crente hoje é trazido para mais perto de Deus do que ele poderia ter sido trazido, mesmo se o pecado nunca tivesse entrado neste mundo.
Separação do mundo
Esta comunhão maravilhosa necessariamente separa o crente do mundo. Antes da vinda do Senhor Jesus ao mundo, o homem não era tão responsável como ele é agora, e não havia a mesma diferenciação entre o mundo e aqueles que seguiam o Senhor. É verdade que a separação de outras nações foi imposta a Israel, mas eles acabaram provando que não eram moralmente melhores. Em conexão com a Sua vinda ao mundo, o Senhor Jesus pôde dizer: “Cuidais vós que vim trazer paz à Terra? Não, vos digo, mas, antes, dissensão [divisão – ARA]” (Lc 12:51). Sua vinda causou uma separação irrevogável entre aqueles que O aceitaram e aqueles que O rejeitaram. A ruptura com o mundo foi completa, pois aqueles que têm a nova vida em Cristo não têm um terreno moral comum com este mundo, a menos que voltem ao nível do que eram antes de serem salvos. Mas a nova vida é caracterizada pelo desejo de agradar a Deus, enquanto o velho eu pecaminoso só pode fazer o mal. Assim, o crente, se andar com o Senhor, não pode ter comunhão com o mundo. Ele não deve sair do mundo, mas estando no mundo, ele não é do mundo. Ele é enviado de volta ao mundo como uma testemunha viva da graça que o salvou, mas ele não pode ter comunhão com ele.
Nova vida
Já vimos que a comunhão do crente é “com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo”. No entanto, também lemos que “todo aquele que ama ao que O gerou também ama ao que d’Ele é nascido” (1 Jo 5:1). O crente tem uma nova vida que responde ao amor de Deus e, por isso, também responde a outros crentes. Todos os que “andam na luz” (1 Jo 1:7) fazem parte dessa comunhão, pois todo verdadeiro crente está na luz. Assim, o crente tem o maravilhoso privilégio, não somente de ter comunhão com Deus, mas de ter comunhão com outros crentes, pois eles também são filhos de Deus.
Confissão – Perdão
A palavra “comunhão” significa simplesmente “ter pensamentos em comum”, e é porque temos pensamentos em comum com Deus e uns com os outros que podemos ter comunhão juntos. Entretanto, sabemos bem que essa comunhão pode ser interrompida pelo pecado em nossa vida. Quando pecamos, o Espírito de Deus deve nos ocupar com o pecado até o julgarmos, e assim Ele não pode nos ocupar com Cristo. Nossa comunhão não é restaurada até que tenhamos tratado com o pecado, confessando-o. Então, Deus age em perdão e desfrutamos da comunhão novamente.
A unidade do Espírito
Da mesma forma, nossa comunhão com outros crentes pode ser interrompida, pois o pecado conhecido em nossa vida fará com que outros crentes piedosos nos evitem, até que tenhamos tratado com o pecado. Da mesma forma, a comunhão é baseada no que a Escritura chama de “a unidade do Espírito” (Ef 4:3), e é somente na medida em que caminhamos nessa unidade que temos verdadeira comunhão, seja com Deus ou com outros irmãos crentes. Um crente pode ter comunhão com outro crente apenas na medida em que ambos caminham nesta unidade; assim tal comunhão pode ser em maior ou menor grau. Se um crente possui ou ensina má doutrina quanto à Pessoa e obra de Cristo ou se há pecado moral grave em sua vida, teríamos que recusar ter comunhão com ele até que esse pecado seja confessado e tratado.
Está chegando o dia em que todo impedimento será removido, e a comunhão plena existirá, não somente com o próprio Deus, mas com todos os irmãos da fé. Naquele dia, todos os impedimentos exteriores do mundo e Satanás desaparecerão, e nosso ego pecaminoso também desaparecerá. Nós seremos perfeitamente semelhantes a Cristo, e nas palavras do hino: “Habitaremos com o Amado de Deus, pelo dia eterno de Deus” (Hinário Little Flock, nº 48).
