Origem: Revista O Cristão – Tempo e Eternidade
O Conceito e Criação do Tempo
Todos estamos muito bem cientes do tempo e usamos constantemente a palavra em nosso falar, pois vivemos e nos movemos em um mundo caracterizado pelo tempo. No entanto, se começarmos a falar sobre isso para tentar defini-lo, podemos achar difícil essa tarefa. Embora uma boa definição de tempo possa ser bastante complicada e ilusória, o dicionário Webster define o tempo como “o período medido ou mensurável durante o qual uma ação, processo ou condição existe ou continua”. Essa definição é razoável, mas muitos acham que não abrange todos os aspectos do tempo. Ao longo dos séculos, muitos cientistas e filósofos debateram o significado do tempo, e não é nosso objetivo entrar em detalhes sobre seus pensamentos. No entanto, gostaríamos de salientar que diferentes culturas geralmente têm ideias muito divergentes sobre o tempo e seu significado. Por exemplo, o mundo ocidental geralmente olha o tempo de maneira linear, mas no Oriente ele é mais frequentemente visto como cíclico ou circular. Isto é especialmente verdade onde religiões orientais, como o hinduísmo e o budismo, são dominantes. A mente ocidental quer fazer as coisas, enquanto a mente oriental olha mais para a qualidade da interação do que para a quantidade. Outras culturas parecem estar a meio caminho entre essas duas, talvez enfatizando a multitarefa, em vez de se concentrar em fazer uma coisa de cada vez. Além disso, o homem, às vezes, se faz de bobo quando considera o tempo. Há alguns anos, o Dr. George Wald, da Universidade de Harvard, escreveu um artigo sobre “A Origem da Vida” (que foi publicado no periódico Scientific American) defendendo a geração espontânea da vida. Aqui está a explicação dele:
“Por mais improvável que consideremos esse evento [a origem acidental da vida], ou qualquer uma das etapas que ela envolve, se houver tempo suficiente, isso quase certamente acontecerá […] O tempo é de fato o herói da trama […] Dado tanto tempo, o impossível se torna possível, o possível se torna provável e o provável praticamente certo. É preciso apenas esperar, o próprio tempo realiza os milagres”.
Quase não precisamos comentar sobre a ridícula falta de lógica nesse raciocínio, e somos lembrados em Romanos 1:22: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”. Quando o homem abandona a Deus, não é incomum que ele perca até o seu bom senso. Como alguém comentou apropriadamente: “Falamos de bom senso, mas o homem esquece que é Deus Quem o deu e Deus Quem mantém isso para ele”. Quando o homem descarta Deus como sendo irrelevante em seu mundo moderno, Deus pode permitir que ele veja o fim abismal de seu curso, na perda de sua razão.
A visão bíblica do tempo
Quando nos voltamos para a Palavra de Deus, encontramos a revelação clara e definitiva sobre o tempo, como veio a existir e quanto tempo durará. As Escrituras apoiam claramente uma visão linear do tempo, embora reconheçam que os eventos que aparecem neste mundo às vezes são cíclicos. Lemos em Eclesiastes 3:15 (JND): “O que é, há muito tempo já o foi e o que deve ser, já tem sido; e Deus traz de volta o que é passado”. Mas devemos lembrar de que Eclesiastes apresenta uma visão do mundo como “debaixo do Sol”; isto é, traz diante de nós um mundo visto através dos olhos do homem natural e, portanto, a aparente futilidade e nulidade de tudo o que este mundo tem a oferecer. Sem a revelação da Palavra de Deus, o mundo realmente parece cíclico e os mesmos eventos parecem ocorrer repetidamente.
O fim dos tempos
Mas o mundo nem sempre será assim, nem o tempo existirá indefinidamente. O próprio Senhor Jesus falou do “último dia” (Jo 12:48), enquanto Paulo falou do tempo em que o Senhor Jesus entregará o reino a Deus Pai, usando as palavras: “Depois, virá o fim” (1 Co 15:24). Ambos são uma clara referência ao fim do que chamamos de tempo. O tempo pode ser representado como uma era histórica, começando com a criação atual e terminando com os últimos julgamentos no final do Milênio, quando a atual ordem mundial será encerrada (veja 2 Pe 3:10-13). Deus criou o tempo como um parêntese na eternidade, durante o qual Ele está usando este mundo como o teatro para honrar e glorificar a Seu Filho amado, bem como para trazer os crentes à bênção. Alguém expressou isso bem: “Todo o tempo foi uma espécie de parêntese na eternidade, no qual tudo o que estava eternamente na mente e no caráter de Deus, operado na Terra durante o tempo, deve ser trazido em seus gloriosos resultados e manifestação – Sua glória e sua realização no Filho na eternidade futura”. Quando este mundo atual, e também o tempo, tiverem cumprido seu propósito, eles serão dispensados e a eternidade seguirá novamente.
A eternidade passada
Antes da criação deste mundo, não podemos falar de tempo, mas devemos usar o termo “a eternidade passada”. Não podemos falar de tempo, a menos que haja algo pelo qual possamos medi-lo, pois, sem nenhuma medida, o conceito de tempo não tem sentido. Assim, Deus criou dia e noite (Gn 1:5), e mais tarde criou o Sol e a Lua, dizendo: “Sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos” (Gn 1:14). O tempo havia começado, pelo menos nesta criação atual, e o homem seria capaz de medi-lo, pois Deus o havia dado os meios para fazê-lo. Finalmente, o homem foi criado, e ele recebeu privilégios e responsabilidades em um mundo limitado pelo tempo.
Embora o homem viva em um espaço de tempo no mundo e tenha uma mente limitada pelo tempo, é claro na Escritura que ele foi feito para a eternidade. Está registrado que “Deus […] soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2:7). Ao contrário de todo o resto do reino animal, o homem tem um espírito – uma parte consciente de Deus em seu ser – e existirá para sempre. Embora o pecado tenha trazido a morte, o homem anseia pela imortalidade, e sua arte, literatura e música clamam pelo paraíso eterno que ele perdeu quando pecou. Isso é evidenciado por Eclesiastes 3:11: “Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo [o infinito, ou o eterno] no coração deles”. O coração do homem, limitado pelo tempo, não pode ser permanentemente satisfeito por nada neste mundo, pois ele foi criado para a eternidade, “à imagem e semelhança de Deus”.
As coisas que são eternas
Vivendo em uma cena dentro de um espaço de tempo, o homem não pode ficar satisfeito com o que está disponível no tempo, mas sua mente também não pode compreender e imaginar a eternidade. Não, somente Deus vive e Se move na eternidade, e a mente do homem, embora entenda o conceito de eternidade, não pode imaginá-la, embora anseie por isso.
Somente a graça de Deus pode nos levar àquilo que é eterno, por meio da fé no Senhor Jesus Cristo. Com uma nova vida em Cristo e habitada pelo Espírito de Deus, podemos viver tendo em vista da eternidade, não apenas para o tempo, embora ainda limitados pelo tempo enquanto estivermos neste mundo. Verdadeiramente, “as [coisas] que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4:18). Deus quer que olhemos para as “coisas invisíveis” – as coisas que são eternas.