Origem: Revista O Cristão – Os Concertos de Deus com o Homem

Dois Montes

Hebreus 12 fala de dois montes – um que fala da lei e o outro que fala da graça. E é uma questão importante para a nossa alma, para qual desses montes somos trazidos, pois em conexão com um, temos que tratar com Deus fazendo exigências sobre nós, enquanto em conexão com o outro, nos relacionamos com Deus como agindo em graça. “Porque não chegastes ao monte palpável, aceso em fogo, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao sonido da trombeta, e à voz das palavras, a qual, os que a ouviram pediram que se lhes não falasse mais; porque não podiam suportar o que se lhes mandava: Se até um animal tocar o monte, será apedrejado. E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado e tremendo. Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos, à universal assembleia e igreja [e à assembleia – JND] dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança (ou novo concerto), e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hb 12:18-24).

O fracasso da lei 

Deus havia comunicado a lei a Israel no monte Sinai, e a responsabilidade deles estava de acordo com os justos requisitos dessa lei. Nisto fracassaram, e a quebraram totalmente; e nos dias de Eli, a arca – o único elo remanescente entre Jeová e Seu povo – foi tomada pelos filisteus. No final desta carreira de fracasso, Deus em graça escolheu o rei Davi, que, com seu filho Salomão, fundou o templo no monte Sião. Essa era a expressão da graça de Deus para um povo que havia falhado, quando tudo tinha acabado no terreno da responsabilidade sob a lei.

E esta é a graça segundo a qual Deus havia visitado os santos hebreus que aceitaram o Messias. É a mesma graça que nos levantou e que continua conosco dia após dia. Só nesse princípio podemos seguir com Deus. Deus age conosco em graça. Esta é uma imensa verdade para nossa alma apreender, pois somente quando nos apegamos a isso, podemos perceber o caráter de nossos relacionamentos com Deus e uns com os outros como Cristãos, e os princípios que devem nos governar nos nossos caminhos uns com os outros. Nossos pecados foram purificados por meio do sangue de Cristo. Isso é pura graça!

Santidade 

Mas a santidade não é necessária? Sem santidade, nenhum homem pode ver o Senhor, somos informados no versículo 14. Isto também é graça? A necessidade de santidade certamente não é graça, mas se o caráter e a natureza de Deus são tais que ninguém pode estar em Sua presença sem santidade; em graça Ele nos provê santidade, bendito seja o Seu nome! Nós não a temos de nós mesmos ou em nós mesmos, mas Ele nos torna “participantes da Sua santidade”, mesmo que Ele tenha que nos trazer sob aquele exercício de alma no qual podemos receber tudo d’Ele. Toda bênção flui d’Ele em perfeita graça, e nosso lugar diante d’Ele é de recebedores submissos.

Graça de Um para com o outro 

Mas agora, se Deus age em nosso favor no princípio da graça, devemos ser imitadores d’Ele, como filhos amados. A graça é o princípio sobre o qual devemos agir, um em relação aos outros. Percebemos isso suficientemente em nossa alma para praticamente agir de acordo com os princípios divinos? Encontramos no início de Hebreus 12 que estamos numa corrida, e os pesos e o pecado que envolve os pés devem ser deixados de lado, e então Deus entra e nos ajuda pela correção, fazendo-nos participantes de Sua santidade. Ora, não estamos sozinhos nesse caminho. Há uma companhia – toda a companhia do povo de Deus – caminhando juntos em direção a Ele, que terminou a carreira da fé e que Se assentou à direita do trono de Deus, mas que logo Se levantará para receber os Seus. É com essa companhia com que temos que tratar. Não é uma mera corrida egoísta onde apenas um recebe o prêmio. Todos nós estamos peregrinando juntos e, como em um rebanho de ovelhas, há os fracos e os coxos, que não devem ser deixados para trás, mas para serem ajudados. Há “mãos cansadas” e “joelhos desconjuntados”. Como devemos agir em relação a tais? A passagem é simples: “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado” (Hb 12:12-13). Este não é o monte terrível que queimava com fogo; é a pura graça de Deus.

Por um lado, a graça nos leva a ministrar ajuda aos fracos e aos débeis. Por outro lado, ela nos levará a sermos vigilantes, atentos aos nossos próprios caminhos, para que o coxo não seja desviado do caminho. Há coxos no rebanho, e eles não progridem bem, mas o chicote não seria um remédio para eles. Não devemos agir em relação a eles no princípio dos exatores de Faraó para com os filhos de Israel escravos. Este não é o caminho de Deus. Ele age para conosco em graça e nos ajuda em nossas fraquezas, ou se Ele castiga, quando necessário, é “para sermos participantes da Sua santidade”. O que devemos pensar de um pastor que dá chicotadas em uma ovelha pobre e fraca? No entanto, quantas vezes isso acontece entre o rebanho de Cristo! O chicote em vez de graça! Monte Sinai em vez do Monte Sião! A Palavra de Deus é: “Antes, seja sarado”. Não é que a santidade possa ser dispensada e, portanto, está escrito: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Somente nos lembremos, o chicote e o monte ardente não curarão nem produzirão santidade. Só a graça pode produzi-la, e assim é acrescentado: “tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus”. Se eu perder em minha alma o senso daquela graça em que Deus está sempre agindo em relação a mim, fracassarei em manifestar graça para com meus irmãos. E quem pode dizer qual será a perda e dano aos santos? Alguma raiz de amargura aparece, e surge o problema, e muitos são assim contaminados.

Falha em demostrar graça 

Que tristeza às vezes é causada na assembleia de Deus, porque alguém – um líder, pode ser – fracassou na graça de Deus e agiu no espírito da lei em vez do Espírito de Cristo? Ou alguém, por ganância, fez uma barganha ou defraudou seu irmão? Ou alguma palavra foi falada inadvertidamente, e uma semente má foi semeada em algum coração, que surge como raiz de amargura, produzindo problemas, que passa de língua em língua, contaminando assim a muitos. Certamente tal conduta é muito triste, totalmente contrária ao Espírito de Cristo, e se não for julgada de forma severa por aqueles que assim agem, trará sobre eles a mão do Senhor em disciplina.

Oh, perceber no mais íntimo de nossa alma que somos salvos pela graça, que estamos em graça, e que é graça a cada passo do caminho até o fim! E perceber que somos chamados a viver e agir em relação aos outros no poder da mesma graça em que Deus agiu e sempre age conosco.

A. H. Rule

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