Origem: Revista O Cristão – Conhecimento

O Conhecimento do Pai

“Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai” (1 Jo 2:13 – ARC).

O que é esse conhecimento do Pai que faz com que os filhos mais novos que estão em Cristo recebam esse título (de filhos) intransferível? E se o mais novo filho em Cristo tem tal direito, eu e você também podemos desfrutar desse privilégio inestimável? É claramente algo mais do que saber que somos filhos de Deus, embora nosso coração possa muito bem ser tocado ao contemplarmos o modo do amor que nos foi concedido, a fim de podermos ocupar o lugar das crianças diante do Pai, como nascidos d’Ele e possuindo o Espírito de Seu Filho (1 Jo 3:1).

Relacionamento e Conhecimento 

O relacionamento é uma coisa, já o conhecimento do Pai, cujo filho eu sou, é outra. Se considerarmos um relacionamento natural, a diferença é óbvia. O relacionamento permanece o mesmo, seja qual for o caráter do pai, mas quanta diferença faz para os filhos! O pai pode ser amoroso e compreensivo ou muito distante e frio e a diferença para a criança é incalculável. É suficiente, então, que saibamos que somos filhos de Deus? Não devemos desejar também nos tornar familiarizados com os pensamentos e sentimentos do Seu coração, o amor de Sua natureza e Seu caráter (se posso, assim, usar esta palavra com a maior reverência), quando Ele torna esse conhecimento de Si mesmo o privilégio de Seus pequeninos? Mas podemos perguntar: “Como eu devo conhecê-Lo”? Só pode ser como Ele se revela. Vejamos o modo como a Escritura apresenta essa abençoada revelação para nós.

Revelado aos Pequeninos 

Mateus 11 nos dá a primeira sugestão de tal revelação no ministério do Senhor Jesus. Foi uma época de profunda provação para Ele. A incredulidade de um coração duro encontrou-O nas cidades onde a maioria de Suas poderosas obras foram realizadas, obras que atestaram quem Ele era. Mas isso só veio à tona, na perfeição do bendito Senhor, o que o conhecimento do Pai era para Ele. Ele sabia de onde receber tudo o que O pressionava tão fortemente, pois podemos ler: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11:25).

Ele não viu nada além da perfeição da sabedoria e amor do Pai quando foi rejeitado naquelas cidades. Se na sabedoria divina essas coisas foram ocultas aos sábios e prudentes, havia pequeninos a quem elas foram reveladas em graça infinita. Ele conhecia o amor do Pai, e nisto Ele encontrou o lugar de descanso perfeito, o submeter-se a Si mesmo, absolutamente em tudo, à Sua vontade. Isso é claramente mostrado nas palavras: “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve”. Estas duas coisas vêm a nós, então, na experiência do bendito Senhor: a fonte de Seu descanso era no conhecimento de Seu Pai e na Sua perfeita submissão à vontade do Pai. Ele nos introduziria a ambas, pois esta é a conexão das palavras que se seguem, muitas vezes esquecidas. No verso 27 todas as glórias de Sua Pessoa, do lugar dado a Ele e Sua obra, no mais profundo caráter dela, aparecem diante d’Ele. Não apenas o reino messiânico, mas “todas as coisas” na supremacia universal são entregues a Ele pelo Pai. A maravilhosa glória de sua Pessoa é conhecida nestas palavras: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai”, e então como a razão mais preciosa para o Senhor se fazer carne: “e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Ele veio para revelar o Pai, isso vai muito além da glória em que Ele foi apresentado a Israel até este ponto deste evangelho. Mas é quando a divina e inescrutável glória de Sua Pessoa, como o Filho, é revelada, que Ele insinua Seu propósito de revelar o Pai.

Talvez agora fiquemos ansiosos para perguntar a quem Ele revelará o Pai. Seria somente a quem o Filho viu e conheceu? A resposta vem imediatamente nas preciosas palavras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Quantos passaram pelo mundo com toda sua labuta e cansaço e não encontraram nada para os satisfazer! O Senhor Jesus também passou por isso, mas Ele tinha uma fonte secreta de descanso perfeito. E nos chama a Ele para que possa revelar esse lugar. Essa fonte de descanso é o Pai e o Seu coração de infinito amor. O Filho nos daria descanso revelando-O, e então temos apenas que aprender d’Ele, o manso e humilde. Temos que nos submeter absolutamente à Sua vontade para encontrarmos esse descanso perfeito que pode ser percebido em praticamente todas as circunstâncias. Tanto o Pai quanto o Filho foram vistos em operação prática neste lugar abençoado que o Senhor tomou, conforme expresso em, “Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve”. Quando alguém na fé reconhece que todos os seus fardos são permitidos pelo Pai e se submete a eles como, “assim Te aprouve”, então o jugo da submissão é fácil e o fardo é leve.

É Necessário Dar Descanso 

Quão abençoada é então, a confirmação de que conhecer o Pai não é uma experiência avançada que pertence apenas àqueles que estiveram há muito tempo no caminho Cristão. Descobrimos que é a primeira coisa diante do Senhor que era necessário para dar descanso e situar o coração que confiava n’Ele tendo em vista as consequências de Sua rejeição. Mas, para o pleno desenvolvimento de tudo o que flui da glória divina de Sua Pessoa, devemos nos voltar para o evangelho de João, onde desde o princípio isso brilha em toda parte, embora velado na forma humilde de Sua humanidade.

E o Verbo – o Senhor Jesus, que era por natureza Deus – se fez carne e habitou entre nós, de modo que o olho aberto da fé contempla Sua glória, a glória de um unigênito junto ao Pai, o único objeto estimado pelo Pai para Seu deleite (Jo 1:14). É isso que dá competência a Ele para tornar o Pai conhecido, assim como lemos no versículo 18: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este O fez conhecer”. Somente Ele, como o Filho que permanece em Seu seio, foi tão apto a tornar o Pai conhecido, pois Sua proximidade e intimidade com o Pai sempre O caracterizaram enquanto falava e agia como Homem entre os homens.

As Palavras e Obras 

São em Suas palavras e obras, agrupadas pelo Espírito no evangelho de João, que vemos como a revelação do Pai vem a nós através do Filho. Somente aqui, em toda a Escritura, o Pai é totalmente revelado. Todas as Suas obras foram, então, as obras do Pai, a expressão da natureza e da vontade do Pai fluindo desta comunhão divina. Em Suas obras, o Pai foi revelado. Daí as Suas palavras solenes em João 10:37-38: “Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em Mim, e Eu, n’Ele”.

Foi o mesmo a respeito de Suas palavras, como João 12: 49-50 mostra maravilhosamente: “Porque eu não tenho falado de Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele Me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar […] Portanto, o que Eu falo, falo-o como o Pai Mo tem dito”. Com que novo e precioso interesse Seu caminho inteiro é investido, quando aprendemos que pelas palavras e obras Ele está expressando o Pai, para que possamos ser levados a conhecê-Lo como perfeitamente Ele é revelado. Daí também flui a revelação da casa do Pai, nunca mencionada nas Escrituras.

J. A. Trench (adaptado)

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