Origem: Revista O Cristão – Consciência

A Consciência e a Cruz

A obra de Cristo na cruz traz o Cristão a uma possessão real da herança de bênçãos que os santos do Velho Testamento só poderiam contemplar de longe. Das muitas bênçãos que a morte de Cristo traz aos que creem, não é menor o alívio que ela traz à consciência deles. A consciência, sendo a faculdade do julgamento moral do homem, é uma parte muito importante da natureza espiritual, e exerce grande influência em sua experiência. A aprovação ou desaprovação de si mesmo é aquela que contribui mais do que qualquer outra coisa para a felicidade ou miséria de sua vida interior. Alguns têm chamado a consciência de voz de Deus no homem, e outros, o árbitro de Deus na alma. Pode fazer o rosto do homem ficar mortalmente branco bem como corar de vermelho. Uma consciência má ou boa fará um covarde do pecador ou um herói do santo.

A tendência geral da religião judaica era trazer à atividade a consciência do homem, resultando no que é chamado de “consciência dos pecados” – uma consciência iluminada quanto às reivindicações de Deus e, portanto, devido ao estado caído do homem, sobrecarregado com um senso de pecado. Não apenas a moral, mas a lei cerimonial, e até os próprios sacrifícios oferecidos, contribuíram para “recordação de pecados”. Isso, por si só, criou um estado de escravidão, do qual até um homem pagão seria comparativamente livre. Sem a lei, o homem está, em certo sentido, vivo, mas sob a lei sua natureza pecaminosa revive, e a consciência, fiel à sua função, age apenas para condenar.

Libertação 

É a libertação dessa condenação que a cruz de Cristo traz. O sangue de Jesus purifica essa consciência culpada tão perfeitamente que não resta “consciência de pecado” (Hb 10:2). O sangue de Cristo é eficaz não apenas para a completa remoção da consciência dos pecados, mas também para purificar a consciência das obras mortas.

Quando as reivindicações de Deus e do homem são pressionadas na consciência humana, o homem recorre a vários recursos para acalmá-la. De fato, as atividades dos homens, nas tentativas de aliviar a própria consciência dessa maneira insatisfatória, contribuem com grande parte de toda a história da Igreja. Por motivos de medo e com vistas ao mérito, eles construíram igrejas, saíram como missionários e se engajaram em todos os tipos de empreendimentos religiosos. Mas, à luz da cruz, tais esforços são infrutíferos. Nossas más ações não devem ser expiadas por um número correspondente de boas ações. Tais esforços de justificação própria diante de Deus são maus em si mesmos, e a extrema repulsividade de tais atos só pode ser expurgada da consciência pelo sangue expiatório do Filho de Deus. É somente após essa limpeza que a consciência está apta a servir ao Deus vivo. Antes de serem purificados, os motivos são legalistas, e não Cristãos.

Consciência imperfeita 

A consciência dos adoradores judeus era imperfeita, porque a imperfeição estava estampada em todos os sacrifícios que eles ofereciam, mas é a perfeição o que o sangue de Cristo traz à consciência do Cristão. O que a obra expiatória de Cristo faz pela consciência do crente não poderia ser melhorada, pois nada pode ser acrescentado à perfeição da obra de Cristo. Quando Ele disse, “Está consumado”, incluiu nessa maravilhosa expressão o alívio divinamente perfeito que Sua propiciação traz à consciência do pecador.

Sabemos que todas as graças santas e celestiais, em toda a sua variedade, serão finalmente produzidas perfeitamente em nós, pois somos predestinados a ser conformados, moral e corporalmente, à imagem do Filho de Deus. O erro é que os homens frequentemente buscam essas coisas antes de estabelecerem a paz. Deus não começa com o caráter; Ele começa com a consciência, e no gozo da paz que Cristo fez pelo sangue de Sua cruz, o bebê em Cristo cresce para a maturidade e perfeição Cristãs. Nada além dessa paz pode capacitar o crente a suportar calmamente as grandes responsabilidades da vida e do dever Cristão. Mas o crente em Cristo, no instante em que crê, é imediatamente tornado mais alvo que a neve, para a presença e adoração a Deus, por causa da eficácia divina do sangue de Cristo.

De todo está limpo 

Essa perfeição permanece. A consciência não precisa ser purificada pelo sangue de Cristo uma segunda vez, pois enquanto, por um lado, o que Cristo fez ao morrer pelo pecador, Ele fez para sempre, por outro, o novo relacionamento no qual o crente é trazido não pode jamais ser quebrado. Por uma questão de fato, o Cristão em sua caminhada, embora sincero, não é perfeito. Ele precisa da lavagem da água pela Palavra. Mas por meio do sangue de Cristo, “no mais todo está limpo” e “necessita de lavar senão os pés” (Jo 13:10). É quando alguém esquece que foi purificado de seus pecados antigos (não quando se lembra disso e adora a Deus por isso) que se diz que ele “é cego, nada vendo ao longe” (2 Pe 1:9); consequentemente, há falta dos frutos em sua vida.

Não significa que um judeu piedoso não tivesse uma boa consciência. Sempre houve entre os que pertenciam ao povo, indivíduos que fizeram o que era reto aos olhos do Senhor, conforme a condição das coisas em que eles, então, viviam. No entanto, o que era apropriado para a consciência do judeu não será para o Cristão. A consciência do santo do Velho Testamento era boa por causa de sua condição moral e por esperar ansiosamente por Cristo, não por ser aperfeiçoada para sempre pela oferta do corpo de Jesus. O Cristão agora desfruta da resposta de uma boa consciência para com Deus pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos; nenhum dos patriarcas ou profetas tinha isso.

Consciência iluminada 

A cruz de Cristo é divinamente adaptada à consciência do homem que crê. A consciência iluminada, em vista da morte de Cristo, entra em um novo campo de julgamento e fica extremamente satisfeita com a perfeita adaptabilidade da morte de Cristo às necessidades mais profundas do homem. Em vista dessa morte, está agora tão pronta para justificar o crente quanto antes para condená-lo. A consciência do homem nunca ficará satisfeita com mais nada, pois a cruz de Cristo é o resultado da sabedoria de Deus, para suprir essa necessidade. Por outro lado, a eterna reprovação da consciência do que a rejeita será, não apenas que ele pecou, mas também que ele rejeitou o remédio que Deus providenciou para seu pecado. É essa consciência purificada que faz a diferença em vista da morte, a diferença que existe entre os santos do Velho Testamento e os dos tempos do Novo Testamento.

Cristo morreu para que, pela morte, Ele aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos a servidão. Homens piedosos como Davi e Ezequias foram submetidos a escravidão por medo da morte; isso não aconteceu com o apóstolo Paulo. Não deveria ser assim com nenhum Cristão. O apóstolo estava desejando “antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor”. Sem a “consciência de pecado”, mesmo em vista da eternidade e da presença imediata de Deus, não há mais nada a temer. Cristo morreu por nossos pecados e somos purificados por Seu precioso sangue de uma vez por todas.

Gospel Gleanings, Vol. 1 (adaptado)

Compartilhar
Rolar para cima