Origem: Revista O Cristão – Consciência

Consciência

Somente o homem, entre as criaturas nesta Terra, tem consciência. Sem dúvida, alguns animais podem ser instruídos em obediência por seus donos, mas a inteligência e a memória da criatura não são consciência. Mas para quem está consciente de seu ser pecaminoso, isso é uma realidade terrível. A consciência estraga os prazeres do pecado, torna miserável o homem próspero e mau, assusta o cético e força a muitos, contra seus julgamentos e sentimentos, a confessar seus crimes e a se render à justiça.

Não negamos que o homem possa se endurecer até que, apesar de sua consciência, ele se torne como os animais e evite o mal apenas por causa de suas consequências. Pior ainda, sua consciência pode ficar como queimada com um ferro quente e ficar tão embotada contra toda influência de justiça que até seus semelhantes o considerem brutal para a sociedade deles. No entanto, a consciência permanece apesar de tudo isso. Podemos perguntar o que é a consciência e como o homem age por meio dessa poderosa força interior.

O sentido moral do certo e do errado 

Consciência é o senso moral de certo e errado que é inato no homem. Faz parte do seu ser, tanto quanto a razão ou a vontade. Podemos descrever a consciência como o olho do ser moral no homem, ou compará-la a uma voz interior dele lhe ordenando a respeito do certo e do errado.

A consciência não capacita o homem a saber abstratamente o que é certo e errado; não é em si um padrão do que é correto. Antes, se o homem recebe a lei do certo e do errado, a consciência o atrai de acordo com a lei que ele conhece. A consciência precisa de instrução, não instrui e, de acordo com a fidelidade à instrução da consciência, suas declarações serão mais, ou menos, justas. Assim como o olho responde à luz natural, a consciência responde à luz moral.

A consciência de um pagão não se dirige a ele como a de um homem que conhece a Palavra de Deus. A consciência de um Cristão, instruída no espírito da vontade de seu Pai, fala de maneira muito diferente daquela que conhece apenas a letra da Escritura. Assim, mesmo entre os Cristãos verdadeiros, há uma grande diferença na sensibilidade da consciência. A consciência é como uma janela, que pode estar limpa ou suja. Alguns trabalham para manter a janela limpa; outros são desleixados e o corpo destes não está completamente cheio de luz.

Responsabilidade 

A responsabilidade do homem está de acordo com seu conhecimento do certo ou do errado. Tendo ouvido o que é certo, somos obrigados a obedecer, e a consciência falará sobre a questão. Os pagãos têm o livro da natureza diante de seus olhos. “Porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1:20). Mais do que isso, “quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm 2:14-15). Nosso instinto moral, nosso senso de certo e errado, testemunham sobre o Deus invisível.

Como o homem passou a ter essa voz dentro dele? Deus fez o homem moralmente bom e o colocou em uma cena do bem – o Jardim do Éden, onde não havia mal. O homem não tinha conhecimento do mal, seu estado era belo e ele era feliz. Mas inocência não é perfeição, e atualmente o homem perdeu essa simplicidade; ele é desenvolvido, tem consciência, o que é uma coisa boa, mas que foi obtida de maneira ruim. O homem agora conhece o mal, mas como uma criatura caída; ele ama o mal e não pode fazer o bem. Quando dizemos caído, queremos dizer caído daquela condição em que Deus o colocou. O homem ganhou conhecimento por meio de sua queda. “Disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de Nós, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:22). O conhecimento é inquestionável, mas junto ao conhecimento existe uma natureza contrária a Deus, que ama a iniquidade.

Justiça e santidade 

Para o Cristão é dito: “Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:22-24). Isso não é inocência recuperada, mas justiça e verdadeira santidade. O homem adquiriu o conhecimento do bem e do mal para nunca o perder, mas em Cristo ele não está mais sob o poder do mal. E no futuro o crente possuirá o conhecimento do bem e do mal, mas sem um desejo pelo mal e se regozijará no bem; isso será perfeição.

Assim, o homem adquiriu sua consciência pela desobediência. Ele roubou seu conhecimento e, quando seus olhos foram abertos para o conhecimento fatal do mal, ele temeu e fugiu de Deus. O conhecimento do homem o condenou, e ainda o condena. O único passo acima da linha de fronteira o colocou onde reina a escuridão. O homem agora está acostumado com o mal; isso vem naturalmente para ele sem necessidade de aprendizagem, pois ele nasceu em pecado e foi moldado em iniquidade. É somente quando ele é instruído no que é correto e ensinado por Deus que ele se torna sensível ao errado.

No entanto, mesmo a consciência sensível e refinada não é força. É uma luz para os pés que estão paralisados: “mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18). A consciência torna o homem infeliz. Quando o Espírito de Deus trabalha dentro de um homem, Ele começa com a consciência, e quanto mais profunda a consciência é trabalhada, mais firme será a construção. A primeira vez que o homem se escondeu de Deus foi por causa de sua consciência, e Deus começa com o homem onde o homem O abandonou. Aquele tipo de pregação do evangelho que deixa a consciência isolada ou apenas lida suavemente com ela, produzirá conversos irreais ou fracos. A consciência deve estar correta diante d’Ele, e até que o Espírito de Deus aplique a Palavra viva à consciência, um homem não está mais perto de Deus do que Adão estava quando estava se escondendo. Assim é com o Cristão; a menos que sua consciência esteja correta diante de Deus, ele não pode ter comunhão com Deus.

Consciência Cristã 

A consciência Cristã é a sensibilidade ao certo e ao errado, e à medida que o sentido da coisa em si aumenta dentro de nós, aumenta também a nossa sensibilidade a ela. À medida que o crente cresce na graça e no conhecimento do Senhor, sua consciência se torna mais aguçada. Ele lamenta os pecados da alma. Não é um castigo que ele teme, mas lamenta ter feito algo errado contra seu Deus. Foi essa consciência aguçada que fez Paulo se exercitar dia e noite, mantendo a consciência limpa diante de Deus e dos homens. Existe o risco de haver muito pouco exercício para manter a consciência limpa. O sangue de Cristo purificou nossa consciência. Conhecemos o bem e o mal, mas não tememos a Deus, pois sabemos que o sangue de Seu Filho satisfez a justiça de Deus. Não temos medo de Deus, pois Ele é inteiramente por nós. Ele deu Seu Filho, que derramou Seu sangue por nós. Nossa consciência, instruída pelo Espírito de Deus sobre a morte de Cristo, sabe que Deus não tem nada contra nós. Essa clareza de consciência na presença de nosso Deus santo e gracioso certamente leva ao aumento da consciência de todo tipo de coisa má. A janela da alma do Cristão não se fecha; ele deseja que a luz brilhe, e seu desejo sincero é manter todas as impurezas e manchas fora do vidro daquela janela.

H. F. Witherby (adaptado)

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