Origem: Revista O Cristão – Castigo
O Consolo de Deus
No Salmo 94, vemos, primeiro, o tumulto dos inimigos e, então, que Deus fez isso. Assim é constantemente com o santo na provação: ele vê a obra de Satanás, então vê a mão de Deus nela e recebe benção. Todo o presente efeito destas condutas do “ímpio” é: “Bem-aventurado é o homem a quem Tu castigas, ó Jeová, e a quem ensinas da Tua lei, para lhe dares descanso dos dias maus, até que se abra a cova para o ímpio” (Sl 94:12-13 – JND). A cova ainda não foi aberta; o trono da iniquidade ainda não foi derrubado. Se, por castigo, o poder do adversário está contra nós, o objetivo do Senhor em tudo isso é dar “descanso dos dias maus”.
Não falo apenas de sofrer por Cristo. Se somos envergonhados por causa do nome de Cristo, é somente para alegria e triunfo, e glória para nós, mas também me refiro àquelas coisas em que pode haver a “multidão de […] pensamentos dentro” (ACF), porque vemos que temos andado de forma inconsistente e descuidada nos caminhos de Jeová. Ainda assim, “Bem-aventurado é o homem a quem Tu castigas, ó Jeová”. Jeová não castiga de bom grado sem necessidade para isso. E, quando houver fracasso ou inconsistência que trazem castigo, Ele transformará a ocasião do castigo em remoção do mal do coração que precisa ser castigado. No castigo, Jeová lança o coração de volta sobre as fontes que ocasionaram o mal. Com isso, a alma é despida para a aplicação da verdade de Deus nela, para que a Palavra possa voltar para casa com poder. Ela é ensinada por que foi castigada, e não apenas isso, mas também é trazida para o segredo do coração de Deus; ela aprende mais do caráter d’Ele, o Qual “não rejeitará o Seu povo, nem desamparará a Sua herança” (v. 14). O que Deus deseja para nós não é somente que tenhamos privilégios a nós conferidos, mas que tenhamos comunhão com Ele próprio. Por meio desses castigos, toda a estrutura do coração é colocada em associação com Deus. E isso o estabelece e firma na certeza da esperança que a graça oferece.
Olhe para Pedro depois que o inimigo o cirandou (peneirou). Embora sua queda tenha sido extremamente humilhante e amarga, por meio dela ele obteve um conhecimento mais profundo de Deus e um conhecimento mais profundo de si mesmo, para que pudesse aplicar a seus irmãos tudo o que aprendeu.
Descanso da adversidade
O Senhor dá à nossa alma “descanso dos dias da adversidade” pela comunhão com Ele – comunhão não apenas na alegria, mas na santidade. Somos assim trazidos para o segredo de Deus. As circunstâncias são usadas apenas para derrubar a porta e deixar Deus entrar. Deus está perto da alma quando Ele, na certeza do amor, entra nas circunstâncias e é conhecido como melhor do que qualquer circunstância.
Jeová nunca castiga sem razão para isso, e mesmo assim, “Bem-aventurado é o homem a quem Tu castigas, ó Jeová”. Não existe palavra mais maravilhosa do que essa! Não digo que um homem consiga dizer isso sempre enquanto debaixo de castigo, porque, se a alma estiver se julgando, frequentemente haverá angústia e tristeza, entretanto os efeitos são abençoados. O que queremos é que todos os nossos pensamentos, maneiras e ações da vontade sejam removidos e que Deus seja tudo. Todo castigo deve ter, em princípio, o caráter de governo nele, porque é Deus tratando com Seu povo em justiça (conforme é dito, “Se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um” – 1 Pe 1:17), e não nas soberanas riquezas da graça. É Deus não permitindo nada no coração que seja inconsistente com essa santidade da qual o crente foi feito participante. É, de fato, a mais abençoada graça que carrega todas as dores conosco, mas esse não é o caráter que o castigo assume.
Intimidade com Deus
O que precisamos, mais do que qualquer coisa, é de intimidade de alma com Deus, descansando com tranquilidade n’Ele, ainda que tudo seja confusão e tumulto ao nosso redor. Quando o homem deste salmo teve Deus perto de seu coração, embora a iniquidade abundasse, ela foi apenas o meio de tornar as “consolações” de Deus conhecidas à sua alma, como é dito, “Na multidão dos meus pensamentos dentro de mim, Tuas consolações deleitam a minha alma” (v. 19 – KJV). Nossa porção não é apenas conhecer as riquezas da graça divina, mas o segredo do Senhor – ter intimidade de comunhão com Ele em Sua santidade. Então, por mais adversas que sejam as circunstâncias, a alma repousa tranquila e firmemente n’Ele.
Se quisermos ter plena paz, desimpedida, e profundidade de comunhão com Deus e uns com os outros, se quisermos enfrentar as circunstâncias e tentações sem sermos perturbados por elas, deverá fluir disto: não apenas do conhecimento de que todas as coisas são nossas em Cristo, mas da familiaridade com o próprio Deus, conforme é dito, “frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1:10).
Que possamos, por meio da capacitação da graça, deixar Deus fazer tudo o que Ele quiser em nosso coração.