Origem: Revista O Cristão – Mudança
A Contradição da Mudança
Provavelmente ninguém vivo iria discordar da observação de que vivemos em um mundo que está em constante mudança. De fato, mudanças têm sido parte do nosso mundo em toda a história da humanidade. Guerras e outras forças resultaram na ascensão e queda de impérios, novas formas de governo têm tomado o lugar das formas mais antigas, e grupos de pessoas se mudaram de um lugar para outro. Juntamente com essas mudanças de larga escala, outras coisas como línguas, costumes, cultura, estilo de vestuário e o formato de prédios têm sido alterados, pois a mudança dos tempos tem trazido um desejo por algo novo. Novas descobertas e novas tecnologias têm sua vez também, e às vezes, uma nova invenção traz uma mudança tremenda, alterando o curso da história.
No entanto, há uma contradição em toda essa mudança. Por um lado, o homem quer mudanças. Desde a queda de Adão, o homem natural tem buscado achar a felicidade nas coisas deste mundo, e visto que ele tem um coração que nada neste mundo pode satisfazer, ele procura constantemente por algo novo ou diferente. Deus “pôs o mundo no coração deles” (Ec 3:11), e a palavra “mundo” também pode ser traduzida como “eternidade” (ARA) ou “infinito”. Esse aspecto da forma de ser do homem tem alimentado sua incansável procura por algo novo que ele espera que irá, ao menos, prover uma satisfação permanente para seu coração. Uma vez que ele deixa Deus fora da cena, inevitavelmente ele confirma o veredito do rei Salomão: “eis que tudo era vaidade e aflição de espírito” (Ec 1:14).
Resistência à mudança
Por outro lado, existe uma teimosa resistência à mudança no coração do homem natural – uma resistência que se ressente com tudo aquilo que invade sua “zona de conforto” ou altera a maneira como ele está acostumado a fazer as coisas. Assim, não é incomum ouvir pessoas reclamando das mudanças, já que elas pressionam as pessoas a revisar seus padrões de pensamento, realizar suas tarefas de uma forma diferente, e talvez até mesmo ajustar completamente todo seu estilo de vida. Mudanças podem ser tão significativas que indivíduos, e, às vezes, populações inteiras precisam ser reeducadas, encontrar novos empregos, e talvez até mesmo mudar para uma nova área. Mesmo que a mudança não seja tão importante, alguns ainda se sentem desconfortáveis com o mundo que não é “como costumava ser”. A Palavra de Deus reconhece essa dificuldade, porque no mesmo Livro de Eclesiastes lemos a seguinte afirmação: “Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque nunca com sabedoria isso perguntarias” (Ec 7:10). Normalmente são pessoas mais velhas que tendem a olhar para os dias passados pensando que as coisas eram melhores antigamente, enquanto se esquecem das dificuldades e problemas dos “bons dias passados”. No entanto, até mesmo os mais jovens podem ter esse tipo de pensamento, e então vemos Donald Trump eleito com o slogan, “Make America Great Again” (Fazer a América Grande Novamente).
O ritmo da mudança
Em nenhum lugar essa contradição é mais visível do que em nosso mundo moderno. Embora mudanças tenham afetado este mundo, na maior parte da história da humanidade as mudanças vieram relativamente devagar, especialmente se tratando de tecnologias e invenções. Os governos mudaram, trazendo com eles novas leis e ocasionalmente alguns ajustes maiores, mas na maior parte da história a vida continuou como tinha sido anteriormente. Gerações viviam e morriam, vivendo de uma forma bem parecida com seus antepassados. No entanto, esse ritmo de mudança começou a acelerar no século XVIII com a Revolução Industrial, e se acelerou ainda mais no século XIX. A generalização do uso de motores a vapor mudou radicalmente o estilo das viagens, tanto em terra quanto no mar, porque até o uso da locomotiva a vapor, nada na terra jamais havia viajado mais rápido que um cavalo. Invenções como o telefone, o motor de combustão interna e a fotografia, tiveram todo um tremendo impacto no mundo, assim como a produção e distribuição de energia. Com o século XX vieram o avião e o uso extensivo do automóvel, bem como rádio, televisão, submarinos e a energia nuclear. A descoberta dos antibióticos e outras drogas poderosas revolucionaram a prática da medicina, enquanto o uso de computadores, e finalmente a internet, alteraram radicalmente nossas vidas. O século XXI trouxe com ele o iPhone, Facebook e o YouTube, para nomear uma forma mais refinada de tecnologia. Na esfera política, muitos países conquistaram o status de soberania, ao ponto que entre os anos de 1900 e 2000 cerca de 140 nações foram adicionadas ao total de nações independentes.
Moral e espiritual
Mais importantes têm sido as mudanças morais e espirituais que aconteceram. Por outro lado, o século XIX viu um avivamento tremendo, não apenas na pregação do evangelho, mas também na recuperação da verdade sobre a Igreja. Porém, Satanás estava trabalhando também, e como a fonte dessa recuperação foi gradualmente sendo abandonada durante os últimos cinquenta anos, os padrões morais também têm mudado drasticamente. Essa tendência decadente acelerou em proporções gigantescas durante os últimos dez anos. Muitos se perguntam onde tudo isso irá acabar e se sentem como se estivessem sendo levados por uma corrente na qual não têm controle.
Tecnológico e político
As mudanças tecnológicas têm trazido benefícios e por isso são ansiosamente abraçadas, ainda assim existe um desconforto que, de alguma forma, as coisas estão “saindo do controle”. A vida tem se tornado tão complicada e com um ritmo tão acelerado, que muitos são incapazes de acompanhá-la. Mudanças políticas e quedas de impérios têm liberado alguns dos males do colonialismo, mas a proliferação de nações soberanas no mundo tem promovido outros dilemas e, às vezes, crises devastadoras. Existe um forte desejo em quase todos os grupos étnicos de ter seu próprio governo e status neste mundo, porém, em alguns casos existem falta de sabedoria, recursos e habilidade para usar dessa liberdade. O homem quer as mudanças, porém, descobre que as mudanças não resolvem seus problemas, ao invés disso, traz novos enigmas de uma forma diferente.
Há inúmeras razões para essas mudanças. Talvez a primeira seja a tecnológica. Como citamos, durante séculos o homem viveu de uma maneira muito igual à de seus ancestrais, porém, nos últimos duzentos anos uma explosão virtual de descobertas tem mudado o mundo. Quer seja na esfera militar, quer na esfera comercial, ou na área da mídia social, a tecnologia que Deus permitiu que o homem inventasse teve um impacto que não se poderia esperar. O Senhor disse a Daniel que no “fim do tempo … muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará” (Dn 12:4). Certamente, isso está acontecendo nos dias de hoje.
Inquietação
Em segundo lugar, a inquietação das nações é um dos maiores fatores nas mudanças neste mundo. O Senhor Jesus nos disse de antemão que chegaria um tempo onde haveria “angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas” (Lc 21:25). O mar é frequentemente uma figura das nações em agitação, e apesar de sabermos que o cumprimento dessa profecia está no futuro, podemos ver o começo do cumprimento já hoje. Como um exemplo durante o século XX, é bem conhecido que os hindus, os muçulmanos e os siks viviam juntos na Índia por séculos, frequentemente no mesmo estado, cidades e vilas. Porém, depois de dois anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a violência e a sangria que surgiu lá pelo fanatismo religioso não pôde ser controlado. A Grã-Bretanha foi forçada, não somente a garantir a independência à Índia, mas contra o desejo de muitos, até mesmo da Índia, também dividi-la e criar o Paquistão como um estado primariamente muçulmano. A crise foi tão séria que aquela importante tarefa foi efetuada em poucos meses.
Outros fatores contribuíram para essa mudança, como a decadência moral, que já mencionamos. O crescimento populacional também afetou este mundo de uma forma real. Desde 1900 a população do mundo quadruplicou, drenando, assim, os recursos que são finitos.
Os propósitos de Deus
Mas talvez a maior razão para mudança neste mundo é que Deus está cumprindo Seus propósitos, porque Ele tem diante de Si a honra e a glória do Seu Filho amado. O Bendito que veio a este mundo em amor e graça foi rejeitado pelos homens. Mas, Ele será vindicado no mesmo mundo que O rejeitou, e Paulo nos lembra de que “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de Seus pés” (1 Co 15:25). Estamos nos aproximando do tempo do fim, Deus está pondo todas as coisas em seus devidos lugares para que Seu Filho possa julgar este mundo e reinar em Sua glória milenar. Os homens podem ter seus propósitos, porém, como alguém disse de maneira correta, “Os caminhos de Deus estão por trás dos bastidores, mas Ele move todas as cenas em que Ele está por trás. Temos que aprender isso e deixá-Lo trabalhar e não pensar sobre os movimentos ocupacionais humanos: Eles realizarão os propósitos de Deus – o resto deles irá perecer e desaparecer. Temos somente que, na paz, realizar Sua vontade”.
Nós, como crentes, podemos ser gratos porque o Senhor Jesus disse a nós, “tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo 15:15). Como aqueles que sabem onde tudo isso irá terminar, podemos continuar caminhando em paz, procurando os interesses de Cristo aqui e confiantes “Porque todas quantas promessas há de Deus são n’Ele sim; e por Ele o Amém, para glória de Deus, por nós” (2 Co 1:20).
