Origem: Revista O Cristão – O Cordeiro de Deus
O Cordeiro de Deus
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Será que alguma vez já contemplamos o Cordeiro de Deus, cuja Pessoa e obra são trazidas diante de nós nesta passagem? A Palavra Eterna – o Criador, a Luz, a Vida, o Verbo – feito carne, o unigênito do Pai é aqui nos mostrado como o Cordeiro de Deus!
Este não era um título estranho para os que ouviam a João. Este foi o deleite de Deus antes que Seu Filho viesse ao mundo para colocar de antemão os sinais fiéis pelos quais eles poderiam ser encorajados, enquanto estavam cercados de trevas e impiedade.
Assim como as placas de sinalização encorajam um viajante cansado enquanto ele atravessa uma área solitária, dizendo a ele que a estrada que ele percorre leva ao fim desejado, da mesma forma esses brilhantes raios de luz nos tempos do Velho Testamento nos dizem que Deus não Se esqueceu de Seu povo e que Ele fará valer Sua declaração, dita a Adão, do Libertador, a semente da mulher que feriria a cabeça da serpente.
A oferta de Abel
Vamos considerar alguns desses raios de luz – vejamos Gênesis 4, por exemplo. O pecado havia entrado no mundo quando “o Cordeiro da provisão de Deus” é trazido, em figura, à cena. Abel, em essência, reconhecendo a distância que existia entre o homem e Deus e inclinando a cabeça para a justa sentença de Deus quanto ao pecado, reconhece que nada valerá para Deus senão a vida de uma vítima sem pecado. Portanto, ele apresenta como oferta os “primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura”. Ele viu que a justiça de Deus exigia um substituto para o pecado, o qual, sendo sem pecado, poderia suportar o julgamento na morte. Ele se submeteu a essa justiça, e seu “maior sacrifício” obteve para ele o testemunho de que foi considerado justo de acordo com a estimativa de Deus de sua oferta (Hb 11:4).
Será que temos nos curvado diante de Sua justiça e aprendido que Deus aceita o pecador, fazendo isso de acordo com os Seus pensamentos quanto ao sacrifício do Cordeiro que Ele mesmo proveu – Seu próprio Filho amado?
Abraão e Isaque
Vamos meditar sobre outro. O momento havia chegado para se provar a fé de Abraão, e o filho, em quem as promessas de Deus estavam centradas, deveria morrer. Obediente à Palavra de Deus, o pai não hesitou por nem sequer um momento, logo no início da manhã ele partiu em sua dolorosa jornada para oferecer seu único filho. A fé triunfa sobre as dificuldades. Ele acreditava que “Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar”. Em simples crença, então, ele confiou em Deus e, em resposta à pergunta de Isaque, ele diz: “Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22:8).
O momento decisivo chegou! O altar foi construído e a madeira foi colocada em ordem. Isaque foi amarrado e colocado sobre o altar, e a mão estendeu-se para matar seu filho, quando a voz de Deus deteve o golpe: “Não estendas a tua mão sobre o moço”. E virando-se, ele viu “um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato”, outro sacrifício é providenciado para ser oferecido em vez de seu filho, e ele corretamente nomeou o lugar “o SENHOR Se proverá”.
O Cordeiro Pascal
Em Êxodo 12 encontramos Deus nos mostrando outra figura de Sua provisão de graça para proteger o homem do julgamento iminente. Aquela noite Ele estava prestes a atravessar a terra do Egito para executar o julgamento. Mas Seu povo deveria ser poupado e, portanto, um modo de proteção do julgamento é proposto a eles, aspergindo nas ombreiras de suas casas o sangue do “cordeiro… sem mácula”. Eles creram no julgamento vindouro e obedeceram às instruções dadas, tomaram o cordeiro e o mataram. Então, com o sangue nas ombreiras e na verga da porta, assentaram-se em segurança e se alimentaram daquele cujo sangue era o único fundamento de sua segurança naquela noite do terrível julgamento. Eles descansaram simplesmente na palavra d’Aquele que disse: “vendo Eu sangue, passarei por cima de vós”. Quão claramente isso nos aponta para o “Cordeiro imaculado e incontaminado”, por cujo precioso sangue Seu povo é redimido (1 Pe 1:18-19)!
O Cordeiro de Deus
Nós estamos no fim de nossa jornada, pois essas figuras e sombras nos conduziram ao brilho da presença do próprio “Cordeiro de Deus”. Figuras agora não são mais necessárias. Placas de sinalização são coisas do passado e esquecidos na presença da glória do Cordeiro de Deus. Em obediência à vontade de Seu Pai Ele havia vindo (Sl 40:7-8). Em obediência à mesma vontade “como um cordeiro, foi levado ao matadouro” (Is 53:7) e crucificado. Deus O apresenta assim como um Objeto de fé para todos os que O receberem.
Mas havia uma diferença importante entre os sacrifícios dos tempos do Velho Testamento e o Cordeiro de Deus. Nos tempos antigos o ofertante tinha que trazer seu cordeiro, ele era atuante no processo, e sem sua atividade não poderia haver sacrifício. Não é assim que acontece agora, pois foi Deus que providenciou, Deus que trouxe o Seu Cordeiro e Deus que O aceitou. O homem não poderia ter participação nesta obra, pois o plano tinha sido concebido por Deus e realizado por Deus. O sacrifício é da provisão de Deus e, portanto, a aceitação do pecador é de acordo com o valor que Deus coloca sobre o Seu próprio Cordeiro.
Será que a realidade disto entrou em nossas almas para que possamos dizer: Eu sou aceito de acordo com o valor que Deus coloca em Seu Cordeiro, que em amor Ele proveu para mim?
Observe agora o caráter de Sua obra, pois é duplo. Ele “tira o pecado do mundo” (Jo 1:29) e “batiza com o Espírito Santo” (Jo 1:33). Pode alguma coisa ser mais completa e mais adequada à natureza de Deus do que esta? Não apenas vejo meus pecados removidos, mas vejo o próprio pecado tratado em Cristo, quando Ele, como o Cordeiro de Deus, levou o juízo pelo pecado, curvou Sua cabeça e morreu! Que obra completa! O próprio pecado é tratado em toda a sua horrível monstruosidade! Somente pela incredulidade o pecador é privado de ter interesse na obra realizada pelo Cordeiro de Deus.
Mas isso não é tudo. Sua obra sendo consumada, Ele ressuscita e sobe para onde Ele estava com o Pai, para nos dar uma bênção mais abundante do que antes. Aqueles que O receberam agora foram batizados pelo Espírito Santo, sendo assim unidos à Sua Cabeça e Senhor que está ausente. “Em um só Espírito fomos batizados todos nós em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres” (1 Co 12:13). E assim nós, que cremos, estamos ligados a Cristo e uns aos outros.
A recepção do testemunho de Cristo
Agora observe a maneira pela qual aqueles que primeiro ouviram a mensagem das boas novas a receberam, e por permanecerem com Jesus, receberam força para testemunhar d’Ele: “E os dois discípulos ouviram-nO dizer isso e seguiram a Jesus” (Jo 1:37).
Quão simples e belo. “Fé” veio “por ouvir” (Rm 10:17). Eles ouviram a Palavra, O receberam, creram em Seu nome, e todas as coisas foram consideradas como perda apenas por ter a excelência do conhecimento d’Ele. No caso de Paulo, as sete coroas de glória da carne (Fp 3:5-6) foram deixadas de lado na presença da mais excelente glória do Cordeiro de Deus. Eles receberam “poder de serem feitos filhos de Deus”, eles O seguiram e permaneceram com Ele. Este foi o lugar que Maria escolheu (Lc 10:39-42). Este foi novamente o lugar que João tomou, não porque ele tinha um direito melhor do que Pedro, mas porque ele amava esse lugar mais (Jo 13:23). Este é o lugar que temos o mesmo direito de compartilhar, pois Jesus diz: “Permanecei em Mim” (Jo 15:4 – ARA).
Aqueles de nós que sabem algo disto podem cultivar a proximidade habitual do coração a Cristo, dependência contínua d’Ele, e constante fluxo de afeição por Aquele cujo amor imutável nos foi assegurado. Cultivando isso, amados, o resultado será a paz que flui “como um rio” e a abundante fecundidade. Lembre-se, sem Ele nada podemos fazer, e o serviço, embora exteriormente deslumbrante, é inútil se não fluir da comunhão contínua com Ele e da proximidade habitual do coração a Cristo!
O testemunho deles
Agora vem o testemunho deles: “Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois… Este achou primeiro a seu irmão Simão e disse-lhe: Achamos o Messias… E levou-o a Jesus” (Jo 1:40-42).
Que possamos aprender nossa lição com isso também e sairmos da presença de nosso Senhor para ganhar aqueles que estão “sem Deus no mundo” para Cristo. Podemos muito bem ter prazer em contar sobre Aquele que encontramos. Certamente, como a mulher de João 4, podemos dizer: “Vinde e vede um Homem que me disse tudo quanto tenho feito”, ou como Maria Madalena em João 20, podemos contar sobre Aquele que agora foi elevado a Seu Pai e para nosso Pai e ao Seu Deus e nosso Deus. É assim que conhecemos nosso Senhor que foi elevado ao céu. Que possamos testemunhar d’Ele para que os que nos rodeiam possam conhecer o Cordeiro de Deus nas glórias de Sua Pessoa e nas virtudes e excelências de Sua obra!
