Origem: Revista O Cristão – O Cordeiro de Deus

O Cordeiro de Deus

A grande verdade que premeia o Evangelho de João é a Divindade daquele Homem que estava andando sobre a Terra. Não quero dizer apenas em sua declaração explícita sobre Ele, mas naquilo que implica isso constantemente. Assim, Sua glória divina vem à tona das maneiras mais indiretas e inesperadas, pois Jesus em nenhum lugar é mais verdadeiramente Deus do que quando Homem.

Ele era de fato um Homem, mas isso era pouco ou nada em si, a menos que Ele fosse Deus. Então, que verdade, amor e humilhação de Sua parte! Que bênção infinita para o homem, pelo menos para as almas que creem! O Verbo Se fez carne, mas Ele era o verdadeiro Deus, daí é que nós encontramos, sempre que Ele fala ou age, por qualquer meio que o Espírito de Deus O descreva, a Divindade que está lá atrás do véu.

O testemunho de João Batista 

O testemunho de João Batista aqui tem um caráter bastante diferente, em si mesmo e também em seus efeitos sobre a alma, diferente do que encontramos nos outros Evangelhos. Onde mais Ele fala d’Ele como sendo o Cordeiro de Deus? O Messias, o Rei que havia de vir, o Servo perfeito engajado na obra de Deus, a Semente da mulher e o Filho do Homem, estes sim podemos encontrar em outros lugares. Mas aqui nós o temos como o Cordeiro de Deus em uma relação muito mais abrangente do que com o povo antigo e favorecido. Ele é o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Assim é que Ele é apresentado em uma universalidade de bênçãos através de Sua obra que não poderia estar em ninguém além de uma Pessoa divina. É certo que Ele é mostrado aqui habitualmente neste caráter: “Este é o Filho de Deus”.

Por isso é que no Evangelho de João não é uma questão das dispensações que desaparecem ou sucedem uma à outra, mas daquilo que é vital e imutável porque é divino. Daí também, portanto, é quando as dispensações passaram que o pleno significado de uma palavra como esta é reconhecido. Não é particularmente agora nem no século que se segue, mas no estado eterno que será manifesto que Ele é o Cordeiro de Deus que “tira” (não nossos pecados como crentes, mas o pecado em sua totalidade). A expressão não se refere realmente àquilo em que nos encontramos e fomos perdoados pela fé em Seu sangue, mas para quando o mundo será completamente limpo de todo o pecado. O pecado será banido totalmente do universo. Que testemunho para a Sua glória, Aquele que pela Sua obra efetua tudo!

Todo pecado retirado 

Alguns dizem ou cantam: “Cristo é o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”. Mas Cristo é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado”, não os pecados do mundo. A primeira declaração é uma verdade bendita, já a outra é um erro. Isso enfraquece a paz do crente e apazígua os incrédulos com esperanças que arruínam a si mesmos, trazendo desonra a Deus e ao Seu Cristo.

Quão completo e revigorante é o testemunho de Deus – Cristo como Seu Cordeiro tirando o pecado do mundo no devido tempo – o mesmo é Aquele que batiza com o Espírito Santo (Jo 1:29, 33)! Essas são as duas obras do Senhor Jesus, nas palavras de João Batista – Sua grande obra terrenal e Sua grande obra celestial. Não devemos confundir Sua ação de suportar os nossos pecados em Seu próprio corpo sobre o madeiro, com a retirada do pecado do mundo, como Ele irá fazer, abrindo caminho para o novo Céu e a nova Terra. Quando a questão é a de suportar o pecado, são os “nossos pecados” (1 Pedro 2); quando se trata de tirar, é o pecado do mundo. Este é o efeito final de Sua obra. O Espírito olha adiante por João no sentido pleno do que Cristo acabou por realizar, uma obra imensa relacionada com a Sua glória divina. Ele Se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. Hebreus 9 fala do Seu propósito de aniquilar o pecado. Não é a época em que isso seria feito, mas o fim para o qual Ele Se manifestou. A obra foi efetuada na cruz, mas os resultados completos da cruz ainda não foram manifestados.

W. Kelly (adaptado)

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