Origem: Revista O Cristão – O Digno Juiz
Cristo Entre os Castiçais (Apocalipse 1-3)
Eu gostaria de meditar nos três primeiros capítulos do Apocalipse, observando a atitude em que Cristo é visto no meio das Igrejas, como nos é apresentado por João. Paulo não poderia ser o vaso usado para revelar este aspecto de Cristo entre aquelas assembleias, pois Paulo revelou o Filho de Deus como um Cristo celestial, seja como Cabeça de Seu corpo, a assembléia, ou como Sumo Sacerdote. João, ao contrário, fala de Deus descendo – um Cristo andando sobre a Terra, seja manifestado ali em graça, como em seu evangelho, ou em Seus procedimentos judiciais, pelo qual Ele fundamenta Suas reivindicações aqui na Terra. O testemunho de Paulo é “celestial”; pois ele é o homem que subiu ao alto. O de João é “divino”, e seu ministério fala mais do Deus que desceu e de Sua manifestação na Terra.
Por isso, João é o instrumento usado para nos mostrar Cristo nesta atitude judicial em relação ao corpo visível que leva o Seu nome. Devemos distingui-Lo cuidadosamente como Cabeça de Seu corpo, ministrando aquilo que iria nutrir por meio de juntas e ligaduras os que são Seus, bem como examinando e julgando a Igreja visível como uma testemunha corporativa na Terra. João está aqui cuidando daquilo que Paulo estabeleceu e nos dizendo o que Cristo fará a respeito disto.
João, embora enviado para o exílio pelo imperador romano, estava no pleno desfrute de seu privilégio Cristão – “no Espírito, no dia do Senhor” (ACF). Devemos ter em mente que o livro do Apocalipse tem em vista especialmente as reivindicações de Cristo sobre a Terra, e assim o rosto de João está voltado com a mente do Espírito para a introdução do reino. Mas antes que o Espírito dê as visões que apontam para esse fim, João é chamado novamente por uma voz atrás dele, e ele se vira para ver a visão. Ele vê o Senhor neste caráter e aprende o que Ele estava prestes a fazer com o corpo sob sua responsabilidade aqui abaixo.
O caráter do Senhor
“E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro”. Eles são descritos como sendo de ouro, porque foram estabelecidos a a partir de uma fonte divina no início. “E, no meio dos sete castiçais, Um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro. E a Sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os olhos, como chama de fogo; e os Seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a Sua voz, como a voz de muitas águas. E Ele tinha na Sua destra sete estrelas; e da Sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o Seu rosto era como o Sol, quando na sua força resplandece. E eu, quando O vi, caí a Seus pés como morto; e Ele pôs sobre mim a Sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu Sou o Primeiro e o Último: e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno [do Hades – TB]” (Ap 1:12-18).
Aqui você encontra o aspecto de Cristo em relação às assembleias, como João apresenta a Ele – Seu caráter pessoal e judicial, como Filho do Homem e, ainda assim, Ancião de Dias – julgando e discernindo entre os castiçais. Você não encontra Suas características relativas, como o Sumo Sacerdote ou Cabeça do Seu corpo, para com a Igreja, pois essa é mais a maneira de Paulo apresentá-Lo.
O Filho do Homem
Como “Filho do Homem” Ele é Juiz de todos e, como tal, você O encontra aqui. “O Pai… deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem” (Jo 5:27). Ele está “vestido até aos pés” (não com Suas vestes “postas de lado” (JND) como por Seu gracioso serviço de amor e lavando os pés de seu povo em João 13) e “cingido pelo peito com um cinto de ouro”. Seu coração e afeto não são vistos fluindo para a Sua Igreja – Sua noiva – mas cingidos com uma veste de justiça, não de graça.
Em Daniel 7, o “Ancião de Dias” é descrito como Cristo é descrito aqui, então o Filho do Homem é o Ancião de Dias, como sabemos por aquela profecia (Dn 7:9, 13-14, 22). Seus “olhos, como chama de fogo”, este é o Seu intenso escrutínio pessoal que alcança a alma. Quando os olhos de Cristo se voltam para nós e nossa consciência não está em repouso, não podemos suportar Seu olhar. Ele detém todo poder subordinado – as estrelas – em Sua mão direita de poder. Sua voz é ouvida em majestade e Ele julga pela Palavra de Deus – a afiada espada de dois gumes – enquanto Seu semblante é como o Sol brilhando em sua força, o símbolo da autoridade suprema. Eu passo os detalhes, desejando apenas apresentar o pensamento geral sobre o aspecto em que Ele é visto aqui.
Jesus como Juiz
“E eu, quando O vi, caí a Seus pés como morto”. Era o mesmo discípulo a quem Jesus amou e que se reclinou em Seu seio durante a ceia em seu próprio lugar familiar, aceito na graça do Senhor. Aqui tudo muda. Este aspecto terrível de Jesus como Juiz faz com que ele caia a Seus pés como morto. Ele é tranquilizado por essas palavras: “Não temas”. Ele era O vivente que havia morrido e segurava em Suas próprias mãos as chaves da morte e do hades, pois Ele nunca desistiu deles. As “portas do inferno [hades]” não poderiam prevalecer contra o Filho do Deus vivo. Cristo tinha as chaves de todos! Ele nunca as deu a Pedro nem a nenhum outro. Ele deu “as chaves do reino dos céus” a Pedro, nunca as chaves da morte e do hades.
Agora Ele envia sete mensagens para sete assembleias na Ásia por meio de João. Havia muitas outras naquelas províncias, mas estas são escolhidas por apresentarem, em seu estado naquele tempo, o que serviria ao Espírito de Deus para nos ensinar, como num quadro mais extenso, a história da profissão do nome de Cristo na Terra e sua responsabilidade, com Seus pensamentos e julgamento desde o início até o fim.
