Origem: Revista O Cristão – Nazireado
Cristo, o Nazireu Perfeito
Em nossa exposição sobre o nazireado em outros artigos desta edição, vimos como o caráter nazireu pode estar em desequilíbrio, com uma característica se destacando de forma marcante, enquanto as outras não são mencionadas. Veremos também como alguém como Sansão poderia falhar em seu nazireado, embora preservado pela graça de Deus ao passar por muitos desvios nos quais ele se envolveu ao longo do caminho. Vimos como João Batista manteve seu caráter nazireu apesar das tentações e foi altamente elogiado pelo próprio Senhor. No entanto, também mencionamos várias vezes que houve apenas Um que exemplificou perfeitamente o voto nazireu e o manteve em perfeito equilíbrio até o fim de Seu caminho aqui na Terra. Mais do que isso, Ele continua esse caráter nazireu lá no céu, como um Homem ressuscitado e glorificado à direita do Pai. Vejamos as três características do verdadeiro nazireu e consideremos como elas foram exibidas na vida de nosso bendito Senhor Jesus.
Um nazireu moral
Antes de começarmos, no entanto, é importante reconhecer que o nazireado de nosso Senhor era completamente moral, e não físico, como dado a Israel em Números 6. Nisso Ele é o Exemplo perfeito para nós, pois nesta dispensação da graça de Deus não somos chamados a exibir as características literais e físicas do nazireu. Em vez disso, aqueles atributos físicos do nazireu do Velho Testamento devem ser para nós figuras das qualidades morais e espirituais que devem ser exibidas em nossa vida hoje.
A primeira característica que deveria fazer parte do voto de um nazireu era separar-se do “vinho e da bebida forte”. Mais do que isso, ele não deveria nem mesmo comer uvas, frescas ou secas, nem qualquer coisa feita da videira. Já foi apontado em outra parte desta edição que o vinho fala de gozo terrenal – os gozos naturais dos quais a natureza pode participar. No entanto, agora que o pecado entrou neste mundo, todas essas alegrias naturais foram tocadas pela morte. Por causa disso, nosso Senhor Se manteve apartado de tudo isso. Toda a Sua vida foi dedicada a fazer a vontade de Seu Pai, e tudo o mais foi subserviente a isso. No entanto, devemos salientar que nosso Senhor também estava em perfeito equilíbrio em Sua separação do mal. Ele não evitou o convívio social, como fez João Batista, mas voluntariamente Se misturou com as multidões e aceitou convites para fazer refeições em vários lares. (Podemos observar, a esse respeito, que não há registro de que nosso Senhor tenha agraciado a mesa de um saduceu com Sua presença, pois eles ensinavam má doutrina e negavam a ressurreição. No entanto, o Senhor foi às casas dos fariseus várias vezes. Esse é um exemplo de Sua perfeita separação e, ainda assim, perfeita acessibilidade.) O Senhor Jesus não Se tornou um recluso para manter uma separação santa, mas Se misturou com os pecadores, enquanto estava completamente separado do gozo terrenal. Ele não provará esse gozo até um dia vindouro, quando Ele o beber novo, conosco, no reino de Seu Pai (Mt 26:29).
Vinho, o gozo terrenal
Por essa razão, Ele não recusou beber vinho, e até mesmo o supriu por Seu poder divino nas bodas de Caná. Com o objetivo de criticá-Lo, os líderes Judeus o chamaram de “comilão e bebedor de vinho” (Lc 7:34). No entanto, sempre houve aquela clara e definitiva separação moral do verdadeiro gozo terrenal, mas combinada com a maior demonstração de amor e graça para com os pecadores. Publicanos e pecadores arrependidos se sentiam em casa em Sua companhia, quando essas mesmas pessoas eram desprezadas pelos líderes Judeus. Alguém expressou isso bem: “Os sacerdotes não devem, em hipótese alguma, afastar-se de sua consagração; portanto, eles devem ser nazireus… Há coisas lícitas, verdadeiras alegrias, que, no entanto, não pertencem ao sacerdócio – alegrias que fluem das bênçãos de Deus e que não mantêm a carne sob controle como faz Sua presença, pois há sempre uma certa restrição ao coração, à natureza e à sua atividade, produzida pela presença de Deus” (J. N. Darby, Synopsis, Vol. 1, pág. 148).
O significado moral do cabelo crescido
A segunda característica do nazireu do Velho Testamento era que ele deveria deixar seu cabelo crescer. Isso falava de abrir mão da própria dignidade, direitos e respeito como homem. Certamente nosso Senhor Jesus fez isso de maneira real, como lemos em Filipenses 2:5-8. Sua humilhação como Homem foi completa, pois como lemos em Isaías 53:2: “não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que O desejássemos”. Mesmo em Sua aparência física, não havia nada que distinguisse o Senhor Jesus de outros homens. Muitas imagens de nosso Senhor feitas pelo homem O retratam como tendo cabelos crescidos, mas não há Escritura para apoiar isso. De fato, é digno de nota que na Palavra de Deus nada é dito sobre a aparência física do Senhor Jesus, dos discípulos ou de quaisquer outros que eram proeminentes na Igreja primitiva. As únicas descrições dadas são morais.
Nosso Senhor sempre ocupou um lugar inferior, recusando-Se a responder aos insultos lançados contra Ele, mas, novamente, com um equilíbrio perfeito. Se Ele respondia àqueles que O atacavam, Ele não Se defendia, mas falava de modo a alcançar cada consciência. Nisso, Ele foi mais uma vez o Exemplo perfeito para nós, de como devemos responder a quaisquer opositores neste mundo.
Não toque em corpo morto
A qualidade final do verdadeiro nazireu do Velho Testamento era que ele “não se chegará a corpo de um morto”. Mesmo dentro de sua própria família imediata, ele não deveria se contaminar dessa maneira. Isso traz diante de nós (em figura) a separação total do mal e de qualquer contaminação pecaminosa. No entanto, como bem sabemos, o Senhor Jesus podia tocar, e tocou, em corpos mortos muitas vezes, não para enterrá-los, mas para dar-lhes vida. Aquele que era o Doador da vida, e cuja obra na cruz do Calvário anularia a morte, não foi contaminado pelos mortos. Em vez disso, Seu toque lhes devolveu a vida que o pecado havia tirado. Tudo isso claramente O marcava como o Messias.
No entanto, no sentido moral de evitar qualquer contato com um corpo morto, nosso bendito Senhor estava completamente livre de qualquer conexão com o mal. Ele podia Se encontrar com a mulher no poço de Sicar, expor o pecado dela e atraí-la para Ele, mas sem pecado. Ele podia expulsar os animais e os cambistas do templo com ira justa, mas nunca permitir que essa ira justa degenerasse em pecado. Ele podia ignorar insultos pessoais, mas responder com fidelidade às observações que refletissem na glória de Deus. Ele podia ser “amigo dos publicanos e dos pecadores”, mas nunca tolerar seus caminhos pecaminosos. De todas as maneiras, Ele viveu e andou entre aqueles que estavam “mortos em delitos e pecados”, e mostrou Seu amor a eles. No entanto, Ele nunca foi afetado pelos caminhos pecaminosos deles, e Seu único desejo era mostrar-lhes o caminho da vida.
Como nazireus, somos chamados a imitar o bendito caminho de nosso Senhor e Mestre, enquanto percebemos o quão longe estamos daquela perfeição que Ele exibiu. No entanto, Ele nos deixou “o exemplo, para que sigais as Suas pisadas” (1 Pe 2:21).