Origem: Revista O Cristão – Cristo para o Coração
Eu Ainda Te Amo
Há uma tendência crescente para frouxidão e relaxamento entre os crentes, e isso geralmente assume a forma de mundanismo nas diversões, no vestuário, no mobiliário de nossa casa, nas nossas afiliações e nossas companhias.
Outrora nos gloriamos na cruz, como estando crucificados com Cristo, vendo de um lado um mundo morto, e do outro lado um “eu” morto. Agora vemos a cruz simplesmente como a transação na qual nossos pecados foram postos de lado, e ali paramos, não inclinados a aceitar a cruz como o fim de nós mesmos para o mundo e o fim do mundo para nós. “Mas longe esteja de mim gloriar-me” (Gl 6:14) deixou de ser a nossa oração. Não queremos ver o mundo como um objeto de desprezo e vergonha para nós, nem queremos ser vistos assim pelo mundo. No entanto, é aqui que a cruz nos deixa.
O começo do declínio
Temos perdido Cristo, talvez não como o Objeto de nossa fé, mas como o Objeto de nossas afeições. Todo o declínio começa aqui. Para muitos de nós parece ser suficiente conhecê-Lo como nosso Salvador. Estamos dispostos a usar Sua aflição e sofrimentos para nos separar de nossos pecados, mas não queremos que eles nos separem de nós mesmos e daquilo que nos cerca. Com o indivíduo assim como com a Igreja, estamos sobre a acusação de “que abandonaste o teu primeiro amor”, e somos solenemente exortados: “Lembra-te, pois, de onde caíste” (Ap 2:4-5). Deve haver muito em nós que Ele possa elogiar, mas se Ele perdeu o Seu lugar em nosso coração, se as afeições são afastadas, nós estamos “caídos”. Isto nos sonda e temos uma solene acusação! E o que é a Sua Palavra para nós? “Arrependa-se”!
Não é o bastante estarmos “no terreno” e “ter a verdade” . Repetimos o pecado dos fariseus quando nos tornamos satisfeitos e complacentes com o exterior. A verdade deve nos dar um estado que atenda e concorde com o lugar no qual estamos. Se isso é efetuado, não andaremos da mesma forma que o mundo do qual Sua Cruz nos separou.
Terá o bendito Espírito sido tão entristecido que já não pode mais fazer valer aquilo que é verdadeiro para nós em Cristo? Será que perdemos o sentido de Sua preciosidade para nossas almas (1 Pe 2:7)? Qual disposição ou desejo podem ser satisfeitos longe de Cristo em Quem toda a beleza, todo o encanto, e toda a glória são encontradas? Tudo deve ser decepcionante, efêmero e vazio. Corremos o risco de deixar para traz o gozo que estamos procurando, quando viramos as costas para Ele. Outrora considerávamos as paixões e prazeres deste mundo, o seu ouro e a sua glória nada mais é do que perda por causa da excelência do conhecimento de Cristo Jesus nosso Senhor. “Qual é, logo, a vossa bem-aventurança?” (Gl 4:15). A Iniquidade é abundante, e o amor de muitos está esfriando.
Ele é o mesmo
Mas Ele é o mesmo e nossas falhas não diminuíram Sua plenitude, que ainda é por nós. Ainda que meu coração esteja frio ou tenho sido rebelde em minha caminhada, posso ouvi-Lo dizer “Eu ainda te amo”! Não existe uma mensagem da cruz, onde a mais doce história de amor foi completamente contada, onde nos tornamos Seus por um preço tão terrível, onde Ele nos comprou tão carinhosamente?
Quanto você está perdendo O deixando fora de sua vida! E quanto Ele está faltando! A próxima coisa para estar com Ele lá é tê-Lo conosco aqui, ter Sua presença consciente, e então ter parte com Ele. Quando tudo estava escorregando, Paulo escreveu para Timóteo: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito” (2 Tm 4:22). Será que conseguimos entender isso? É o primeiro passo para já estarmos no céu. Ele foi dado por nós – glória ao Seu nome! Mas será que O perdemos como Aquele que Se entregou por nós? Oh, que perda, já que “Cristo é tudo” (Cl 3:11). Ele, O exaltado, “que subiu acima de todos os céus”, e nós, não apenas o objeto de Suas considerações, mas também de Seu amor!
Será que começamos a apreender o quão alto Ele foi elevado, “acima de todos os céus?” Ele tem a preeminência em todas as coisas, e “eu sou do meu Amado, e Ele me tem afeição” (Ct 7:10). Que mistério nós fomos inclusos, um mistério que os anjos não podem conhecer! Que nós possamos esperar diante d’Ele até que Ele nos preencha com Sua própria plenitude. Por um olhar para Ele ali, Paulo considerou “por perda todas as coisas” (Fp 3:8). Não é de se admirar que ele tenha entrado em êxtase e esteve fora de si. Estevão, ocupado com o Senhor e Sua glória, tinha o rosto de um anjo. Olhe longa e demoradamente para aquele rosto que irradia a luz de Sua glória, e isso lançará uma sombra sobre tudo aqui embaixo.
Você está deixando tudo isso passar? É sua perda agora e eternamente. Uma vez conhecedores do mistério de Quem Cristo é, as alegrias terrenais se tornam obsoletas, e assim como Sua vinda lança a luz da glória vindoura por um “breve momento”, ela tirará o fardo da nossa cruz e a dor dos espinhos enquanto nos apressamos a encontrá-Lo com um hino nupcial.
