Origem: Revista O Cristão – A Cruz
A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem” (1 Co 1:18).
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14).
“Pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades” (Ef 2:16).
“Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2:8).
“Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio d’Ele reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:20).
“Olhando para Jesus, Autor e Consumador da fé, O qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz” (Hb 12:2).
“Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pe 2:24).
A cruz não é um objeto de veneração
Por muitos anos alguns usaram de maneira inadequada o símbolo da cruz, mas teremos grande bênção para nossa alma se contemplarmos este grande assunto e ensino da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.
Há um paralelo na história de Israel com o abuso de um símbolo da morte de Cristo. “Este (Ezequias) tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã (ou pedaço de bronze)” (2 Rs 18:4). A serpente de bronze que um dia significou a salvação dos filhos de Israel havia se tornado um objeto idólatra de adoração. Hoje, alguns também exibem prontamente o símbolo do sofrimento e da morte de Cristo, enquanto casualmente difamam o nome do Filho de Deus. Deus não tem nenhum prazer em tal demonstração. Ele deseja ver amor por “nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade” (Ef 6:24).
Fazemos bem em lembrar que Deus não Se esqueceu do valor da figura da serpente de bronze mesmo que o homem tenha corrompido seu significado. O próprio Senhor Jesus Se referiu a essa passagem quando estava falando a Nicodemos: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado” (Jo 3:14). Então, que não negligenciemos a preciosa verdade conectada com a cruz e, ao mesmo tempo, tomando cuidado para não fazer dela um objeto de veneração.
É muito fácil para nós ter uma visão limitada da cruz. Podemos presumir que quando a cruz é mencionada, fala apenas do lugar de sofrimento que nosso Salvador suportou para nos falar de Seu coração e amor em nos salvar dos nossos pecados. Admitidamente, isto é profundo, além do que podemos imaginar, ainda assim há mais para nosso coração e consciência contemplarem. Os fatos da cruz são trazidos diante de nós nos evangelhos, mas a doutrina da cruz, como nos é revelada nas epístolas, nos leva para muito além disso.
Com isto não queremos negar que não haja distinções instrutivas para considerarmos nos evangelhos. Por exemplo, porque no evangelho de João não é mencionado que Simão Cireneu carregou a cruz do Senhor? Ao invés disso, lemos: “E, levando Ele às costas a Sua cruz, saiu” (Jo 19:17). Será que não é porque, de acordo com o evangelho de João, temos o Senhor Jesus apresentado a nós em toda a dignidade do Filho de Deus? Todos os outros devem desaparecer de vista diante da majestade do Eterno. Ele carregou a cruz Sozinho, ou “por Si mesmo” (Hb 1:3). Quando foi dito a Abraão que ele deveria oferecer seu filho Isaque, é dito aos seus moços que ficassem para traz, enquanto o pai e o filho iriam seguir adiante (Gn 22:5-6). De acordo com esse tema, no evangelho de João, o Pai e o Filho permanecem em preciosa comunhão; nenhuma menção é feita ao clamor de abandono ou às horas de trevas Mas devemos passar a considerar algumas coisas significativas sobre a cruz nas várias epístolas.
A sabedoria do homem
Em Corinto, a assembleia estava sendo influenciada pela sabedoria secular, e aqui a cruz coloca de lado o homem e sua sabedoria. Paulo mostra que foi essa sabedoria que levou os homens a crucificarem o Senhor da glória (1 Co 2:6, 8). Calvário significa “caveira” (Lc 23:33). A sabedoria deste mundo nunca nos levará a compreender a mente de Deus, pois o crente entende pelo Espírito de Deus.
Ocasionalmente, ouvimos o versículo: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e Este crucificado” (1 Co 2:2), sendo explicado como se significasse que o único assunto sobre o qual Paulo falou era Cristo morrendo pelos nossos pecados e, portanto, isso seria tudo sobre o que deveríamos falar a respeito. Embora até uma leitura superficial das cartas de Paulo provasse o contrário, devemos observar a expressão “entre vós”, ou seja, vós, Coríntios. (Compare, “a vós, perante os olhos… Jesus Cristo foi já representado como crucificado” Gálatas 3:1, como relacionado às assembleias na Galácia). A força desta passagem é que Paulo não veio a esse povo orgulhoso e educado com uma linha do que iria apelar para seu intelecto. Pelo contrário, ele rejeitou os métodos e aprendizagens do homem e uma aproximação que iria apelar ao homem na carne. A cruz anulou toda essa abordagem (1 Co 2:35).
A religião do homem
Em Gálatas a cruz coloca de lado o homem e sua religião. Os falsos irmãos estavam promovendo coisas como a circuncisão e a observância de dias santos, para promover sua causa e corromper a pureza do evangelho. Paulo contrasta a circuncisão com a cruz. Os judaizantes estavam se gloriando no ritual que figurativamente representava o homem se despojar da carne – enquanto faziam exatamente o oposto do que a figura pretendia ensinar! Além disso, ele contrasta a marca da circuncisão com as marcas ou sinais que ele sofreu ao ser perseguido por Cristo. Paulo era circuncidado, mas sofreu porque se recusou a fazer disso uma marca de posição espiritual. Ele se gloriava na cruz, que o separou no coração e na prática do mundo religioso que se gloriava na carne, e pelo qual ele foi reprovado pelo mundo religioso (“o escândalo da cruz” – Gl 5:11). A cruz não apenas simboliza a morte, mas o escândalo conectado a crucificação.
A parede de separação
Em Efésios, o pensamento principal da cruz é o meio pelo qual a parede de separação foi desfeita e a inimizade entre judeus e gentios foi removida. Cristo é a nossa paz, não aqui entre Deus e o homem, mas entre homem e homem. Agora ambos temos acesso ao Pai (Ef 2:11-22).
Serviço em humildade
Talvez poucos versículos sejam lidos entre nós com a mesma frequência que Filipenses 2:5-11. O assunto aqui não é o sofrimento expiatório, mas temos a cruz trazida diante de nós como o fim do caminho do serviço humilde de nosso bendito Senhor e o padrão para seguirmos como um remédio para problemas de conflito que surgem entre os santos. A cruz era destinada a criminosos. O bendito Senhor Jesus foi contado com os transgressores. Estamos satisfeitos em segui-Lo ali? Jamais poderíamos participar de Seus sofrimentos expiatórios, mas no caminho do serviço humilde, Ele nos permite conhecer, em certa medida, a comunhão de Seus sofrimentos. Temos sido difamados? Mal interpretados? Maltratados? Se for assim, que possamos considerá-Lo e aprender algo daquele caráter de sofrimento pelo qual Ele passou em perfeição.
Bênção e reconciliação
Em Colossenses, a cruz é trazida diante de nós em outro aspecto. É a base sobre a qual a Divindade pode abençoar e reconciliar. Deus não está em guerra com este mundo. É verdade que Ele julgará este mundo em justiça (Atos 17:31), mas neste momento Deus está reconciliando o homem Consigo mesmo. Ele reconciliará todas as coisas nos céus e na Terra (Observe que não diz “debaixo da Terra”, como em Filipenses 2:10, porque ali o assunto é confissão de que Jesus é o Senhor – não reconciliação). A Divindade já reconciliou os crentes. A “a cédula que era contra nós nas suas ordenanças” (a obrigação dos judeus pela lei – Êxodo 24:3, 6-8) foi anulada na cruz; portanto, não era para os judeus nem para os gentios (Gl 2:14 – JND).
Sacrifício e devoção
Os crentes judeus, aos quais se dirige o livro de Hebreus, estavam sofrendo muitas provações. Depois de procurar encorajar esses santos que estavam sofrendo em suas provações únicas, delineando vários exemplos daqueles que viveram pela fé, o escritor desvia os olhos de todos os outros, por mais nobres que fossem, a olharem firmemente para Jesus como o Objeto da fé. Ele suportou. Embora Ele tenha desprezado a afronta, Ele teve que suportar a cruz. Eles suportaram a contradição dos pecadores contra si mesmos? Ele também. Mas eles ainda não haviam resistido até o sangue (isto é, dado sua vida como mártires). Eles podem ser chamados para isso, mas Ele já havia feito isso antes. A cruz é então vista como a medida suprema de sacrifício e devoção a Deus.
O lugar da maldição
Finalmente, em 1 Pedro, temos a cruz referida como “o madeiro” (1 Pe 2:24). Como em Gálatas 3:13, essa expressão conecta a cruz com o que os judeus conheciam por experiência de Deuteronômio 21:22-23. (A crucificação era romana). O madeiro nos traz a morte sob a maldição de uma lei violada, cujo horror jamais conheceremos. Se em Êxodo 15 o madeiro lançado nas águas as tornou doces, devemos lembrar que não havia doçura na cruz. O Senhor Jesus deve provar sua amargura para que possamos beber da doçura resultante. Quando o poeta escreveu a expressão “Rude Cruz”, talvez pretendesse fazer referência a Atos 5:30. A ARC traduz como “o madeiro”; o JND como “a cruz”, mas com uma nota marginal indicando que literalmente a palavra é “madeiro”, sugerindo quão rude era essa morte.
No meio do jardim do Éden, estava a árvore da vida (Gênesis 2:9). Da mesma forma, está no meio do paraíso de Deus (Ap 2:7). No local onde nosso Senhor foi crucificado, havia também um jardim (João 19:41). Embora saibamos de outros evangelhos que outros dois foram crucificados com Ele, somente em João lemos: “E Jesus no meio” (Jo 19:18). Para Ele era um madeiro de morte, mas para nós um madeiro de vida.
Ó cruz de Cristo! Ó madeiro glorioso!
Que lugar pode ser comparado a ti?
