Origem: Revista O Cristão – O Cuidado Pastoral – João 21
O Rei com Coração de Pastor
“Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os jovens? E disse: Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia e manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa até que ele venha aqui. Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso de semblante, e de boa presença). E disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é” (1 Sm 16:11-12).
Quando Jessé disse: “Ainda falta o menor”, certamente ele pensou que não poderia ser o eleito. O homem não pode entender os caminhos de Deus. Aquele próprio que Deus está prestes a usar é negligenciado ou desprezado pelo homem. “Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é”. Palavras gloriosas! Resposta perfeita aos pensamentos de Jessé e Samuel!
Quão feliz é observar a ocupação de Davi. “Eis que apascenta as ovelhas”. Isso foi posteriormente referido pelo Senhor, quando Ele disse a Davi: “Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o chefe sobre o Meu povo, sobre Israel”. Nada pode ilustrar mais docemente o ofício real do que o trabalho de um pastor. De fato, quando não é executado no espírito de um pastor, falha em seu fim. O rei Davi entendeu totalmente isso, como pode ser visto nessas palavras tocantes: “mas estas ovelhas que fizeram?” O povo era as ovelhas do Senhor, e ele, como pastor do Senhor, o guardava nos montes de Israel, assim como ele tinha guardado as ovelhas do pai nos retiros de Belém. Ele não alterou seu caráter quando saiu do curral para o trono e trocou o cajado pelo cetro. Não; ele ainda era o pastor, e sentia-se responsável por proteger o rebanho do Senhor dos leões e ursos que rondavam o aprisco.
A alusão profética
A alusão profética ao verdadeiro Davi é tocante e bela. “Eu livrarei as Minhas ovelhas, para que não sirvam mais de rapina, e julgarei entre gado miúdo e gado miúdo. E levantarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o Meu servo Davi é que as há de apascentar; Ele lhes servirá de pastor. E Eu, o SENHOR, lhes serei por Deus, e o Meu servo Davi será príncipe no meio delas; Eu, o SENHOR, o disse” (Ez 34:22-24). E, sem dúvida, as palavras de nosso Senhor em João 6 tinham mais ou menos referência ao caráter de Seu pastoreio. “E a vontade do Pai, que Me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que Me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”. Este é um grande princípio de verdade. Independente do Seu amor pessoal pelas ovelhas – tão maravilhosamente atestado em Sua vida e morte – o Senhor Jesus, na passagem memorável acima, Se apresenta como o Responsável perante o Pai para manter todos os membros do amado e precioso rebanho por todas as contrariedades que sofreu em Sua senda. Mesmo na questão da própria morte, Ele os apresentará em glória de ressurreição, no último dia. Tal é o Pastor a Quem a mão do Pai nos encomendou e, oh! Como Ele nos proporcionou durante o tempo e para a eternidade, colocando-nos em tais mãos – as mãos de um Pastor sempre vivo, sempre amoroso e Todo-Poderoso, cujo amor as muitas águas não podem apagar, cujo poder nenhum inimigo pode agir contra. Ele é Aquele que tem na mão as chaves da morte e do Hades e que estabeleceu Sua reivindicação para a guarda do rebanho, ao dar a vida por ele. Verdadeiramente, podemos dizer: “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará”. Como podemos ter falta de algo, enquanto Jesus nos alimenta? Impossível. Nosso tolo coração muitas vezes deseja se alimentar de pastagens nocivas, e nosso Pastor pode ter que provar Seu cuidado gracioso, nos negando o uso de tais, mas uma coisa é certa, que aqueles a quem Jesus alimenta não terão falta de nada.
O caráter do pastor
Há algo no caráter do pastor que parece estar muito em harmonia com a mente divina, na medida em que encontramos o Pai, o Filho e o Espírito, todos agindo nesse caráter. O Salmo 23 pode ser visto principalmente como a experiência de Cristo, deliciando-Se com a certeza do cuidado pastoral de Seu Pai. Então, em João 10, encontramos o Filho apresentado como o Bom Pastor. Por fim, em Atos 20 e 1 Pedro 5, encontramos o Espírito Santo agindo nessa capacidade abençoada, levantando e capacitando para obra os pastores subordinados. É edificante perceber isso. É como nosso Deus Se apresentar a Si mesmo no relacionamento mais agradável, e assim calculado para ganhar nossa confiança e atrair nossas afeições. Bendito seja o Seu nome para sempre! Seus caminhos são todos perfeitos; não há ninguém como Ele.
Só se pode dizer: bendita seja a graça que tomou um para ser o que lidera entre o Seu povo, que manifestou aqueles traços de caráter que foram abençoadamente adaptados à sua obra.
Miscellaneous Writings, 4:34-38
