Origem: Revista O Cristão – Daniel

Daniel, um Judeu Piedoso em um Mundo Gentio

Qualquer que seja o estado das coisas na Terra, Deus nunca Se deixa sem uma testemunha. Ele pode punir Seu povo por causa da infidelidade e pecados deles, e Ele pode permitir que eles sejam levados em cativeiro; contudo, no meio das trevas pelas quais estão cercados, Ele reacenderá a tocha de Sua verdade, em testemunho para Si mesmo e como encorajamento para aqueles que se apegam a Ele. Ele fará com que Seu povo, a quem Ele castigou, saiba que eles ainda são os objetos de Seu cuidado e amor e que seus opressores, por mais que pareçam exaltados e poderosos, estão sujeitos e devem prestar contas a Ele.

O propósito de Deus e o de Nabucodonosor 

Ao permitir que Nabucodonosor levasse Daniel e seus amigos como cativos, Deus estava cumprindo Seu próprio propósito, mas Nabucodonosor, tendo obtido poder sobre eles, procurou fazê-los servir à sua vontade. A consequência foi que imediatamente surgiu um conflito entre os pensamentos de Deus e os pensamentos do rei da Babilônia. Nabucodonosor queria adornar seu palácio com os seus cativos “em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus” (Dn 1:4). O mundo está sempre pronto para fazer do povo de Deus seus servos e obter luz de seu conhecimento, mas não pode tolerá-los se forem fiéis a Deus, obedientes à Sua Palavra e separados do mal. O rei, portanto, gostaria que esses cativos fossem alimentados com sua própria comida e bebessem de seu próprio vinho, para que, depois de três anos, eles pudessem estar em sua presença (v. 5). Ele gostaria que deixassem de ser Judeus, se tornassem caldeus e misturassem com sua nova religião a luz que haviam recebido dos oráculos de Deus. Essa é a origem da filosofia, mesmo nos tempos Cristãos – aquela filosofia contra a qual Paulo sinceramente nos adverte como sendo “os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2:8).

É em conexão com este comando de Nabucodonosor que Daniel, Hananias, Misael e Azarias são trazidos à proeminência (v. 6). Seus próprios nomes, quando entendidos, proclamavam a Quem pertenciam e o caráter de seu Deus: Daniel significa “juiz de Deus”; Hananias, “a quem Jeová gentilmente deu”; Misael, “quem (é) como Deus”; Azarias, “a quem Jeová ajuda”. O príncipe dos eunucos, sentindo instintivamente que tais nomes não se adequariam à corte de seu mestre, deu a eles outros, todos os quais estavam mais ou menos relacionados aos ídolos de Babilônia (v. 7).

O propósito do coração de Daniel 

A questão agora levantada para Daniel e seus companheiros era se, por causa do favor e do progresso do mundo, eles cederiam ao comando do rei. A resposta já foi decidida: “E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar” (v. 8). Como Judeu, obediente à Palavra de Deus, era impossível para Daniel comer a comida dos gentios. Tanto a gordura como o sangue desses animais, permitidos na Babilônia, eram proibidos, e era apenas dos animais e dos pássaros limpos que um Judeu podia participar. A menos que, portanto, Daniel e seus companheiros estivessem preparados para renunciar à fé e renunciar à palavra de seu Deus, eles não poderiam aceitar a provisão real. E há outra instrução – se uma aplicação puder ser feita para nós mesmos. A comida do mundo, isto é, aquilo do que o homem se alimenta em sua condição alienada de Deus como sua força e sustento, é sempre destrutivo para a vida espiritual do Cristão. Se o Cristão deseja ser um verdadeiro nazireu e seguir o caminho da santa separação para Deus, ele deve sempre se afastar do vinho – as alegrias da Terra. O apóstolo escreve assim: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). Na atitude de Daniel, temos então um exemplo para todos os crentes, e quanto mais de perto for seguido, mais eles desfrutarão do favor consciente e das bênçãos de Deus e, como moralmente mortos para as coisas daqui, eles perceberão mais plenamente sua verdadeira porção em Cristo.

Favor diante dos homens 

Lemos que “Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos” (v. 9). “Sendo os caminhos do homem agradáveis ao SENHOR, até a seus inimigos faz que tenham paz com ele”, e, portanto, foi que o príncipe dos eunucos, apesar do medo do rei, concedeu através de Melzar o pedido de Daniel de que ele e seus companheiros poderiam ser testados por dez dias com legumes para comer e água para beber, em vez da comida e do vinho do rei. Deus estava com eles e, no final dos dez dias, “apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos de carne do que todos os jovens que comiam das iguarias do rei” (v. 15). Mesmo Melzar não podia negar que eles haviam florescido em seu regime simples e, a partir de então, ele lhes deu legumes.

Existem muitas pessoas de Deus que podem caminhar no caminho estreito do discipulado dedicado, desde que desfrutem da comunhão dos santos e no meio de felizes influências espirituais. Mas, às vezes, é visto que tais pessoas, quando estão em um círculo mundano, tendem a aderir às práticas e hábitos dessa sociedade e, assim, a perder sua distinção de andar, mesmo que seu testemunho não seja completamente extinto. Portanto, é muito encorajador ver o espetáculo apresentado por esses quatro jovens Judeus. Eles, sendo privados de todos os privilégios do templo, sendo cativos à mercê de um monarca pagão, testados com todo tipo de tentação sedutora, mantiveram o lugar dos nazireus de verdadeira separação através da obediência à Palavra de Deus. Sem dúvida, foi a fé e a energia de Daniel que agiram sobre seus companheiros e os levaram a segui-lo no caminho da vontade de Deus, mas, se assim for, os outros estavam dispostos a segui-los, e os quatro apresentam uma prova impressionante da suficiência total da graça de Deus para sustentar Seus servos nas circunstâncias mais desfavoráveis que poderiam ser imaginadas.

Conhecimento dado por Deus 

A declaração significativa segue: “Quanto a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos” (v. 17). “O segredo do SENHOR é com aqueles que O temem; e Ele lhes mostrará a Sua aliança” (Sl 25:14). Este princípio é sempre verdadeiro e é visto em todas as dispensações. É claro que Deus deu sabedoria a esses quatro rapazes por causa de sua separação no coração e na vida dos males profanadores ao redor. De fato, é sempre verdade que, quanto mais próximo estamos de modo prático do Senhor, mais plenamente Ele nos comunica com Sua mente, mas note também que é “em todas as letras [o aprendizado – JND] e sabedoria”. Os estudantes Cristãos dos dias modernos são frequentemente levados a pensar que, para adquirir “aprendizado e sabedoria” humanos, eles dependem de seu próprio esforço e capacidade. A consequência é que os anos de sua vida estudantil são frequentemente marcados por declínio espiritual, se não por declarado retrocesso. O exemplo desses quatro rapazes pode muito bem ensinar outra lição.

No final do versículo, Daniel é selecionado dentre seus companheiros, pois nos é dito, sem dúvida em vista de seu trabalho e missão especiais, que ele tinha entendimento em todas as visões e sonhos. Nisto vemos que em todas as circunstâncias pelas quais Deus guia Seu povo, Ele esta formando-os como vasos para Seu serviço. No lado humano, foi uma calamidade que caíra sobre Daniel; do lado de Deus, essa aparente calamidade era apenas o Seu caminho de formar Daniel para sua missão de levar Seu testemunho à corte do poderoso monarca gentio. Os próximos três versículos (versículos 18 a 20) apresentam o resultado do treinamento diante do rei ao qual todos esses jovens selecionados foram submetidos. Eles foram trazidos à presença real, e o próprio Nabucodonosor examinou os estudantes de sua escola: “E o rei falou com eles; e entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; portanto ficaram assistindo diante do rei. E em toda a matéria de sabedoria e de discernimento, sobre o que o rei lhes perguntou, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos astrólogos que havia em todo o seu reino” (vs. 19-20). Cada um deles pode ter adotado a linguagem do salmista: “Tu, pelos Teus mandamentos, me fazes mais sábio do que os meus inimigos; pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque os Teus testemunhos são a minha meditação. Entendo mais do que os antigos; porque guardo os Teus preceitos” (Sl 119:98‑100). Quem dera que essa lição fosse acolhida no coração por todos os Cristãos de hoje!

E. Dennett (adaptado)

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