Origem: Revista O Cristão – Passando a Tocha
Davi Servindo Sua Geração
“Davi, na verdade, havendo servido a sua própria geração pela vontade de Deus, dormiu” (At 13:36 – AIBB).
Davi serviu a sua geração quando o Senhor o tomou “da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses chefe sobre o Meu povo, sobre Israel” (2 Sm 7:8), e fez grande o nome dele na Terra. Foi o tempo da “angústia” de Davi, mas também foi o tempo de sua real grandeza e do seu mais importante serviço para a sua geração. Davi então engrandeceu o Senhor, e o Senhor engrandeceu Davi perante os olhos de todo o Israel. Andando diante do Senhor, Davi podia se permitir parecer vil aos olhos de Mical e de todos os que o desprezavam. Essas duas coisas – exaltação e humilhação – são moralmente opostas. Aqui verdadeiramente está a necessidade de “pés como os das corças” (Sl 18:33 – TB) para pisarmos em nossos lugares altos.
O desejo de edificar a Casa do Senhor
Davi continuou servindo a sua geração quando “o Senhor lhe tinha dado descanso de todos os seus inimigos em redor” (2 Sm 7:1). Naquele tempo, “estando o rei Davi em sua casa”, veio-lhe ao coração o pensamento de que não era adequado que a arca do Senhor morasse dentro de cortinas, enquanto ele morava em uma casa de cedro. Davi conhecia bem o valor da presença do Senhor e procurou assegurá-lo de uma maneira que parecia correta aos seus próprios olhos. Isso também pareceu bem ao julgamento de Natã, o profeta. Contudo, “quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-Lo?” (1 Co 2:16). Tanto o homem segundo o coração de Deus quanto o profeta inspirado são igualmente destituídos do verdadeiro conselho quando não estão andando por fé sob a imediata orientação do Espírito da verdade. O pensamento de Davi era um pensamento piedoso; era a expressão do desejo de descanso, sem conflito, na imediata presença de Deus. “Porquanto tiveste no teu coração o edificar uma casa ao Meu nome, bem fizeste, de ter isso no teu coração. Contudo, tu não edificarás a casa” (2 Cr 6:8-9). Zelo sem conhecimento e piedade sem real dependência de Deus são coisas igualmente perigosas para a obra de Deus. Deus em Sua graça Se agrada de prover “alguma coisa melhor a nosso respeito”. Não era papel de Davi edificar a casa que o seu filho edificou. Muitas almas são atraídas a Davi, enquanto poucas estão interessadas em Salomão. Davi, “em sua angústia”, encontra verdadeira empatia em nosso coração, mais do que “Salomão em toda a sua glória”. Vemos facilmente o que Davi teria perdido se tivesse agido em prol de outra geração, em vez de servir a Deus em sua própria.
Uma mensagem do Senhor
Natã é enviado a Davi com a mensagem do Senhor. A primeira grande verdade anunciada é que a vontade do santo não deve tomar a frente nas coisas de Deus; se isso fosse permitido, o resultado seria a “adoração da vontade”, um dos males mais terríveis na Igreja de Deus. Nossa parte é provar qual seja “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). Já que Deus Se agrada de “andar em tenda e em tabernáculo”, não cabe a ninguém edificar uma casa para Ele. Salomão, segundo a promessa de Deus a Davi, seu pai, edificou uma casa para o Senhor; a casa encheu-se da glória do Senhor e foi chamada pelo Seu nome.
A próxima coisa anunciada por Natã foi o conselho determinado do Senhor, a Seu próprio tempo e maneira, para dar descanso ao Seu povo Israel de uma maneira muito além do desejo que tinham no coração.
O plano do Senhor
O Senhor pode passar sem nós, mas nós não podemos passar sem Ele. Se Ele se agrada de nos usar, é suficiente a honra de sermos servos de tal mestre, mas só servimos realmente a Ele quando fazemos o trabalho de nossa própria geração. No momento em que deixamos de servir por fé, consideramos a esfera do serviço como nossa, esquecendo que a lavoura e o edifício com que estamos ocupados não são nossos, mas d’Ele a quem servimos. Todo o pensamento do apreço de Davi torna-se pequeno comparado com a promessa do Senhor de fazer dele uma casa. O trabalho de Davi de fazer uma casa para o Senhor é agora substituído pelo pensamento mais feliz de Deus fazendo dele uma casa. Somos mais felizes e mais úteis servindo a nossa geração, e isso é feito dando ao Senhor o Seu devido lugar de preeminência. Quando Davi estava ocupado com o plano do Senhor, ele diz: “E isso ainda foi algo pequeno aos Teus olhos, Senhor Deus, mas Tu também falaste da casa de Teu servo para tempos distantes; é esta a maneira do homem, ó Senhor Deus?” (2 Sm 7:19 – KJV). A maneira do homem é se regozijar com a obra de suas mãos, buscando alcançar algo grande para fazer um nome para si. Mas o que Deus faz é para sempre. Davi serviu a sua geração e dormiu, mas a promessa de Deus a Davi, quando ele foi impedido em seu desejo de edificar uma casa para o Senhor, tornou-se o sustentáculo da fé ao longo de toda a triste história de Israel.
Sem se decepcionar
Mas quão diferentes são as últimas palavras de Davi! A lição que ele ensina não é apenas mais feliz, como também mais profunda: “Ainda que a minha casa não seja tal para com Deus, contudo Ele fez comigo um concerto eterno, ordenado em todas as coisas e certo; pois esta é toda a minha salvação e todo o meu desejo, ainda que Ele não a faça crescer” (2 Sm 23:5 – KJV). Essas são palavras finais importantes, e assim sempre será a linha de pensamento daqueles que servem a sua própria geração. Não haverá regozijo em nenhum resultado do seu próprio serviço, pois o único resultado satisfatório será aquilo que o próprio Senhor fez. Nossas expectativas podem não se realizar, mas isso não gera decepção para aqueles cuja expectativa seja do Senhor. Se um resultado palpável presente é o objetivo que propomos a nós mesmos, certamente ficaremos desapontados. Mas se buscamos a honra de Cristo e não há nenhum resultado presente atendendo ao desejo de nosso coração, enquanto estamos profundamente humilhados diante do senso de nossa própria imperfeição, podemos nos consolar com a linguagem do único Servo perfeito: “Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia, o meu direito está perante o SENHOR, e o meu galardão, perante o meu Deus” (Is 49:4).
O Cristão servirá melhor a sua própria geração mantendo o seu próprio terreno e afirmando a bem-aventurança do conhecimento de Cristo justamente no momento em que o homem está engrandecendo a si mesmo. É bom, de fato, poder dizer de Cristo verdadeiramente que Ele é “toda a minha salvação”, e ainda mais abençoado acrescentar que Ele é “todo o meu desejo”, diante de tudo aparentando que Ele não está fazendo nossos desejos “crescerem”.
The Present Testimony (adaptado)