Origem: Revista O Cristão – Os Mistérios

De Cima para Baixo ou de Baixo para Cima?

Com o início do século XXI, parece que o mundo, para usar uma expressão comum, trocou de marcha. Enquanto a tecnologia continua a se desenvolver, os problemas e dificuldades neste mundo estão se tornando maiores, não menores. Como resultado, o homem está tentando, por assim dizer, erguer-se por suas próprias pernas e inventar soluções para problemas que em muitos casos estão além da capacidade dele. O conselho que foi considerado bom o suficiente para o século passado agora é considerado obsoleto, e novos conceitos e novas abordagens para os problemas estão sendo propostos. A Internet, por exemplo, mudou radicalmente não apenas nossa maneira de fazer negócios, mas, em última análise, toda a nossa maneira de viver. No entanto, essas abordagens às vezes invadem o reino moral e espiritual e, como sempre, os pensamentos do homem são o oposto dos pensamentos de Deus.

Em particular, o proeminente autor americano Michael Shermer fez comentários recentemente em seu último livro, A mente do mercado, no sentido de que precisamos reconhecer que quase tudo que é importante na natureza e na sociedade “acontece de baixo para cima, não de cima para baixo”. Firme defensor da teoria da evolução, ele afirma calmamente que “a vida é uma propriedade emergente auto-organizada de moléculas orgânicas, que surge de baixo para cima”. Shermer é o fundador da revista Skeptic, chefe da Sociedade de Céticos e colaborador da Scientific American. Entre outras coisas, ele também escreveu um livro sobre as chamadas origens evolutivas da moralidade e “como ser bom sem Deus”. Com uma forte ênfase na lógica, ele menospreza tudo o que não pode ser verificado pela razão.

Coisas além da razão 

Ao falar sobre o homem natural e sua maneira de operar neste mundo, pode haver um certo grau de verdade na teoria de Shermer de que as coisas geralmente acontecem “de baixo para cima, não de cima para baixo”. Por exemplo, geralmente é verdade que quem trabalha mais obtém o máximo neste mundo. Contudo, raciocinar dessa maneira nas coisas morais e espirituais é deixar Deus de fora e, finalmente, tornar o homem e sua mente o limite de tudo em que acreditamos. Como alguém já disse: “Não há nada na Bíblia contrário à razão, mas há muitas coisas que estão além da razão”. Negar a existência do que está além da razão faz o homem voltar-se para si mesmo e, por fim, afastar-se de Deus.

Com o crente, tudo começa com Deus e termina com Deus (Ap 1:8). Portanto, não é “de baixo para cima”, mas “de cima para baixo”. A Bíblia começa com as palavras: “No princípio Deus”, e se o homem raciocina (e é Deus Quem deu ao homem seus poderes de raciocínio), ele deve necessariamente começar com Deus e raciocinar a partir de Deus até o homem. Começar pelo homem sempre desonrará a Deus e acabará privando o homem da bênção que Deus deseja dar a ele. Se o homem pensa que pode “ser bom sem Deus”, descobrirá que não tem base para a moralidade que deseja. Com um coração pecador e sua mente cegada por Satanás, ele sempre será arrastado para baixo, nunca levantado. Mas se o homem começa com Deus, seu raciocínio estará no caminho certo e é mais provável que suas deduções sejam corretas.

O propósito de Deus 

Isso é verdade no sentido mais elevado quando consideramos o que Deus está fazendo hoje, em conexão com o mistério de Cristo e a Igreja. O homem natural que começa por si mesmo nunca conhecerá os propósitos de Deus em Cristo, ou as bênçãos que Deus tem para ele. De fato, é o objetivo do “deus deste século”, Satanás, cegar “os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4). Observe que a cegueira se refere principalmente à glória de Cristo, não à necessidade do homem como pecador (embora seja verdadeiro). A revelação da glória de Cristo e de todos os propósitos de Deus n’Ele nunca pode vir de baixo para cima; deve vir de Deus, de “cima para baixo”. Então, ao entender essa revelação, descobrimos que Deus, em Sua bondade e graça, também propôs que sejamos levados à bênção com Cristo e participemos de tudo o que Ele herdará. Foi Deus Quem determinou “congregar em Cristo todas as coisas” e que também determinou que obteríamos uma herança n’Ele (Ef 1:10-11).

É por essa razão que Paulo, ao pregar o evangelho, começa com os propósitos de Deus em Cristo, não com a necessidade do homem – de cima para baixo! A necessidade do homem é atendida, é verdade, mas quando os propósitos de Deus têm precedência, Deus é muito mais glorificado e o homem é muito mais abençoado do que quando o homem começa consigo mesmo. Isso é verdade para os incrédulos, mas também é verdade até para o crente que não está procurando se rebelar contra Deus.

Nossa vida diária 

Se esse princípio é verdadeiro quanto à nossa posição atual diante de Deus, associado a Cristo como Seu corpo e noiva, é verdade também em nossa vida cotidiana. Vivendo neste mundo, somos propensos a ser governados pelos pensamentos do homem e podemos ser tentados a pensar primeiro em nós mesmos e em nossas necessidades, em vez de começar com Deus. Vendo as muitas necessidades deste mundo, podemos, talvez até com motivos corretos, procurar atender a essas necessidades em nossa própria sabedoria, em vez de começar com Deus, que não é apenas mais sábio que o homem, mas que ama sua criatura mais do que nós. Certamente a sabedoria de Deus, que propôs a glória de Cristo em uma eternidade passada, também é a sabedoria “a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória” (1 Co 2:7). É um privilégio abençoado para nós, neste tempo da graça de Deus e quando todos os Seus conselhos são exibidos, ter “iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da Sua vocação, e quais as riquezas da glória da Sua herança nos santos” (Ef 1:18). Tudo isso deve vir de cima para baixo, não de baixo para cima!

O que suscitou o pensamento maravilhoso;
Ou quem o sugeriu?
Que nós, a Igreja, para a glória trazidos,
Tenhamos sido abençoados com o Filho.

Ó Deus! Ó Deus! O pensamento era Teu
(Teu somente poderia ser);
Fruto da sabedoria, amor divino,
Peculiar a Ti:

W. J. Prost

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