Origem: Revista O Cristão – Fracasso no Testemunho

Desânimo e Encorajamento: Causas e Curas

Cada seção sob um novo subtítulo foi extraída de diferentes artigos, todos escritos por J. N. Darby.

Preocupações e provações 

Com relação a nossas preocupações e provações, Cristo não nos tira delas. “Não peço que os tires do mundo” (Jo 17:15). Enquanto Ele nos deixa no mundo, Ele nos deixa sujeitos a tudo o que é passível de acontecer ao homem, porém, na nova natureza, Ele nos ensina a nos apoiarmos em Deus. O pensamento que muitas vezes temos é o de que, porque somos Cristãos, devemos ficar longe das provações, ou então, se estamos nelas, não deveríamos senti-las. Este não é o pensamento de Deus em relação a nós.

Quanto mais perto um homem anda com Deus, pela graça, mais terno ele se torna em relação às falhas dos outros; quanto mais tempo ele vive como santo, mais consciente da fidelidade e ternura de Deus e de como ela tem sido aplicada a ele próprio.

Não devemos esperar que nunca seremos exercitados, atribulados ou abatidos, como se estivéssemos sem sensibilidade. “Deram-me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre” (Sl 69:21). O Senhor sentiu tudo completamente. “O opróbrio”, diz Ele, “partiu-Me o coração” (Sl 69:20 – ARA). Mas existe uma diferença entre Cristo, em Seu sofrimento e aflição, e nós – com Ele nunca se passou um instante entre a provação e a comunhão com Deus. Não é esse o caso conosco. Temos primeiro que descobrir que somos fracos e que não podemos ajudar a nós mesmos, e então nos voltamos e olhamos para Deus.

O Senhor guarda os Seus 

É um consolo saber que em tudo o Senhor guardará os Seus. Não estou querendo dizer que os obreiros e todos os santos não devam estar exercitados em relação a isso, mas que, ao verem o fracasso, eles têm isso para recorrer. Desejamos vê-los como um jardim regado, e que alegria é quando os vemos assim! É o poder do Espírito de Deus que os faz unidos e felizes juntos, contudo Ele deve trabalhar no coração de cada um, para que seja assim, para que eles possam ser como “salgueiros junto aos ribeiros das águas”. E há graça o bastante em Cristo para fazê-lo. Este texto, com frequência, tem sido um conforto para mim, “A minha graça te basta” (2 Co 12:9), no entanto devemos aprender, e por experiência, que não somos nada. Todos sabemos que isso é verdade, mas devemos aprender a andar no sentido que isso tem. Isso faz a diferença entre um santo e outro, apenas devemos buscar a Cristo em graça, ou podemos ficar desanimados. Mas um homem que está desanimado realmente não se deu conta: ele não encontra força, mas onde ele está procurando por isso? Quando realmente não somos nada, olhamos para Cristo e sabemos que Ele pode fazer tudo, e, enquanto lutamos em oração por uma bênção, sabemos que Ele faz e ordena tudo. Mas isso pressupõe um justo senso de nossa própria nulidade e bendita confiança em Deus, de modo que, conhecendo Seu amor, podemos deixar tudo com Ele, sabendo que, em todo caso, Ele faz tudo e que fará tudo resultar em bênção.

O coração de Jesus 

Eu pensei que ela (uma irmã que estava passando por verdadeiras dificuldades na vida) pudesse estar desanimada e abatida com essa aflição. Se for esse o caso, que ela se lembre de que os caminhos d’Ele não são como os nossos caminhos e de que o próprio coração de Jesus, d’Aquele que nos fere, passou por todas as provações pelas quais Ele nos faz passar – de que Ele não pode nos fazer provar nada para o nosso bem sem que Ele mesmo tenha bebido todo o seu amargor até a última gota. Ele sabe o que está fazendo; Ele sofre tudo o que Ele inflige. É o Seu amor, o Seu conhecimento de tudo, que O faz fazer tudo o que Ele faz. Tenhamos plena confiança n’Ele que foi tentado em todas as coisas semelhante a nós.

Comunhão 

Em relação à sua obra, busque a face do Senhor e apoie-se n’Ele. Quando o corpo não é robusto, corremos o risco de fazê-la como uma tarefa, como uma obrigação, e o espírito torna-se um pouco legalista, ou nos rendemos ao cansaço e desanimamos diante de Deus. A obra é um favor que nos é concedido. Esteja completamente em paz e feliz no sentido da graça; depois vá e derrame essa paz para as almas. Este é um verdadeiro serviço, do qual pode ser que voltemos muito cansados fisicamente, mas sustentados e felizes; descansamos debaixo das asas de Deus e retomamos o serviço até chegar o verdadeiro descanso. Nossa força se renova como a da águia. Lembre-se sempre: “A minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9). Busque, acima de tudo, comunhão pessoal com o Senhor.

A mente de Deus em comunhão 

Antes de iniciarmos em qualquer serviço em particular, antes que qualquer coisa possa ser feita, se não temos a certeza de que Deus nos está guiando com Seus olhos, devemos procurar obtê-la, julgando nosso próprio coração quanto ao que possa estar atrapalhando. Suponha que eu comece a fazer uma coisa e encontre dificuldades; começarei a ficar inseguro se é, ou não, a mente de Deus, e, com isso, haverá fraqueza e desânimo. Mas, por outro lado, se eu agir no conhecimento da mente de Deus, em comunhão, serei “mais do que vencedor”, seja o que for que venha ao meu encontro pelo caminho.

Castigo 

Existe uma classe de provações que vêm de fora: elas não devem ser rejeitadas; devem ser suportadas. Cristo passou por elas. Nós não resistimos, como Ele, até ao ponto de derramar nosso sangue e não falhar em fidelidade e obediência. Agora, Deus age nessas provações como um pai; Ele nos castiga. Talvez elas venham, como no caso de Jó, do inimigo, mas a mão e a sabedoria de Deus estão nelas. Ele castiga àqueles a quem ama. Não devemos, portanto, desprezar o castigo nem desanimar por conta dele. Não devemos desprezá-lo, pois Ele não castiga sem motivo ou causa (além disso, é Deus quem o faz), nem devemos desanimar, pois Ele faz isso em amor.

A carne em nós 

É algo sério manter a causa de Deus, quando se tem a carne em nós e Satanás dispondo do mundo para nos atrapalhar e enganar. Mas não desanime, pois Deus trabalha em você; maior é Aquele que está em nós do que aquele que está no mundo. Você não pode estar em dificuldades no deserto a menos que tenha sido resgatado do Egito. “A Minha graça te basta”, diz Cristo. “O Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” O segredo é humildade de coração e o senso de dependência e de olhar com confiança para Cristo, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação. Nunca é demais desconfiar de si próprio e confiar em Deus. O verdadeiro conhecimento da redenção leva a pessoa a uma perfeita paz, a uma verdadeira e constante dependência do Redentor.

Diante de Deus ou do homem? 

Pobre Elias! Ele tinha uma lição a aprender, que nós mesmos, fracos e pobres como somos, precisamos igualmente aprender. Quando Elias estava diante do Senhor, ele pôde, pelo poder do Senhor, parar ou enviar chuva para a Terra. Mas quando estava, agora não diante do Senhor, mas diante de Jezabel, ele então ficou sem forças, e essa mulher ímpia conseguiu fazê-lo temer. Abatido, Elias, então, vai para o deserto, senta-se debaixo de um zimbro e pede para o Senhor lhe tirar a vida (1 Rs 19:4). Quão pouco ele se lembrava do que o Senhor havia feito por ele; quão pouco ele entrou na mente de Deus e quão pouco esperava aquela carruagem de fogo que em breve o levaria para o céu (2 Rs 2:11)!

Assim é conosco. Ficamos abatidos, desanimados e fracos em nós mesmos assim que deixamos de viver em fé e oração, e em tal momento não conseguimos dizer, como Elias em 1 Reis 18, “O SENHOR […] perante cuja face estou” (v. 15).

 

A fé que compreende a bondade de Deus, e suspira pelo tempo em que o povo desfrutará de seus privilégios, sempre confessa o pecado que obrigou Deus a privar o Seu povo, por um tempo, desses privilégios. A fé nunca desanima, como se Deus fosse infiel; ao contrário, ela insiste que a culpa é do povo e que Deus apenas agiu fielmente ao lidar assim com eles. O interesse que Daniel sentiu pelo seu povo o levou a considerar o profeta Jeremias, e então ele roga ao Senhor que confirme esta bênção que Ele havia prometido por Jeremias, isto é, de que Ele realizaria a libertação de Seu povo do cativeiro.

Um homem verdadeiramente humilde 

A fé tem uma confiança constante e inabalável em Cristo. Tristeza eu sei o que é, mas desânimo eu não sei. Se você está contando com sua própria força, então não me surpreende o seu desânimo, mas “não dormitará nem dormirá Aquele que guarda a Israel” (Sl 121:4 – TB). Devemos estar humilhados – ah, humilhados no pó, se preferir, mas nunca desanimados. Um homem verdadeiramente humilde não fica desanimado; o homem desanimado não é um homem humilde, pois confiou, como homem, em algo além de Deus; o verdadeiro nada é incapaz.

Como Deus vê 

É muito importante nós, às vezes, vermos a Igreja de cima, no deserto, mas na beleza dos pensamentos de Deus, uma pérola que não tem preço. No meio do arraial aqui embaixo, no deserto, que murmurações e queixas; quanta indiferença, que motivos carnais seriam testemunhados e ouvidos! De cima, para aquele que tem a visão de Deus, e que tem os olhos abertos, tudo é belo. “Estou perplexo a vosso respeito” (Gl 4:20), diz o apóstolo, e imediatamente depois, “confio de vós, no Senhor” (Gl 5:10). Devemos subir até Ele, e teremos Seus pensamentos de graça, que vê a beleza de Seu povo, de Sua assembleia, através de tudo o mais [as murmurações e as queixas], pois é belo. Não fosse por isso, ficar-se-ia completamente desanimado ou satisfeito com o mal. Essa visão de Deus remove esses dois pensamentos de uma só vez.

A ruína da Igreja 

Encontram-se tantas faltas (necessidades), um estado tão triste da Igreja, que surpreende, mesmo eu tendo crido nisso e o ensinado por quase 40 anos, mas também encoraja. Nunca devemos ficar desanimados, porque o Senhor em quem confiamos nunca falha nem pode falhar. Em 2 Timóteo, quando tudo estava em ruína e declínio, Paulo espera que seu querido filho esteja forte na fé: nunca há um momento tão bom para isso, porque é necessário, e o Senhor atende à necessidade. Eu tenho a forte sensação de que tudo está se desintegrando, mas isso faz com que se sinta mais forte e claramente que possuímos um reino que não pode ser abalado.

J. N. Darby (trechos de seus escritos)

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