Origem: Revista O Cristão – Descanso

Descanso do Coração e da Alma

Existem diferentes tipos de descanso mencionados na Palavra de Deus, e é importante reconhecer a diferença entre eles. Em outros artigos desta edição de O Cristão, já consideramos o que pode ser chamado de “descanso de consciência”, que é o descanso obtido quando aceitamos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador. Esse descanso de consciência deve ser o ponto de partida de qualquer descanso na presença de Deus, pois não podemos ter comunhão com Deus a menos que a questão dos nossos pecados tenha sido resolvida. Lemos em Romanos 8:8 que “os que estão na carne não podem agradar a Deus”. Enquanto nossa vida for caracterizada por aquela velha natureza pecaminosa que a Escritura chama de “carne”, não podemos ter um relacionamento com Deus. É por isso que o Senhor Jesus disse: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Ele estava Se referindo ao descanso de consciência, e, como já observamos, isso deve vir em primeiro lugar em qualquer relacionamento com Deus.

O descanso da consciência é muito precioso e nos leva a um maravilhoso relacionamento com Deus, mas Deus não quer que paremos por aí. O Senhor Jesus é um Salvador que nos acompanha até o fim da jornada! Ele não nos salva da pena dos nossos pecados e depois nos deixa tratar com todas as lutas e dificuldades da vida sozinhos. É por isso que o próximo versículo em Mateus 11 diz assim: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt 11:29).

Onde não há descanso 

Antes de discutirmos os detalhes desse “descanso para a nossa alma”, devemos observar onde NÃO encontraremos descanso. O homem natural, e até mesmo alguns de nós, como crentes no Senhor Jesus, podemos pensar que de alguma forma seja possível organizar nossa vida e circunstâncias para que possamos ter descanso neste mundo. Isso é essencialmente o que Caim tentou fazer depois que “saiu Caim de diante da face do SENHOR” (Gn 4:16), tentando se acomodar o mais confortável possível em um mundo que havia sido corrompido pelo pecado. O homem sem Deus tem tentado fazer isso desde então, mas todos os seus esforços resultaram em decepção. Não há nada neste mundo que possa dar descanso duradouro ao coração e à alma do homem. Qual é então a resposta?

O jugo do Senhor Jesus 

Antes de tudo, devemos estar prontos para tomar sobre nós o jugo do Senhor Jesus. O que isso significa? Significa que a vida aqui na Terra não será fácil, não apenas porque vivemos em um mundo que foi corrompido pelo pecado, mas também porque estamos seguindo Aquele que foi rejeitado por este mundo – o Senhor Jesus. Quando tomamos sobre nós o Seu jugo, aprendemos a andar com Ele e aprendemos como Ele passou por este mundo. Ele não lutou contra as circunstâncias, mas perseverou. Ele perseverou por dois motivos. Perseverou porque reconheceu a vontade de Seu Pai em tudo; Ele podia dizer constantemente: “assim é, Pai, porque assim foi do Teu agrado” (Mt 11:26 – TB). Mas Ele também perseverou porque pôde dizer: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai” (Mt 11:27). Ele aceitou todas as circunstâncias adversas como vindas de Seu Pai, mas também andou em toda a dignidade de Quem Ele era e do que Lhe foi entregue. Pela graça de Deus, podemos aprender a mesma coisa ao tomar esse jugo sobre nós.

Alguém colocou desta forma: “Jesus tinha suportado o ‘fardo’, Jesus tinha suportado o ‘jugo’ Ele mesmo e, portanto, podia dizer: ‘Aprendei de Mim’. Não estou falando sobre o fardo dos nossos pecados; o Senhor Jesus veio também para aprender ‘obediência por aquilo que padeceu’. Jesus foi Aquele que descobriu toda a amargura da rejeição e do desprezo, e ainda assim pôde dizer, ‘assim é, Pai’; portanto, é, ‘aprendei de Mim’”. Aprendemos o maravilhoso descanso que vem ao aceitarmos de Deus tudo em nosso caminho e então levarmos nossas dificuldades a Ele em oração.

Além disso, é o santo que tem plena consciência do que ele é em Cristo e do que Deus fez dele – ele que era apenas um pecador perdido e culpado – que pode se curvar e se humilhar alegremente neste mundo. Isso é o que significa ser “manso e humilde de coração”, pois mansidão não é sinônimo de fraqueza. Não, mansidão é uma humildade voluntária que vem facilmente para aquele que sabe o que ele é em Cristo. Novamente, alguém disse bem: “Um pecador salvo pela graça deve, de fato, ser humilde, mas a humildade que um santo tem por ser um santo e um herdeiro da glória é de um tipo muito mais profundo do que aquele ocasionado pela descoberta do pecado. Nada rebaixará tanto uma alma e a tornará tão disposta a servir a outro no mais humilde dos serviços quanto à consciência de sua posição diante de Deus. Observe o Senhor Jesus Cristo aqui. Ele Se apresenta na possessão consciente de todas as coisas: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai”. E, no entanto, Ele diz: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”. Você consegue juntar as duas coisas? Eu acredito que sim; a alma do santo verdadeiramente instruído discerne a necessária conexão entre elas. O Senhor Jesus, na possessão consciente de todas as coisas, podia permitir-Se humilhar-Se. O que O capacitou a fazer isso, senão Sua real grandeza, porque Deus estava cuidando d’Ele? ‘Aquilo que é verdadeiro n’Ele e em vós’ (ARA). Nada nos capacita a ir lavar os pés dos santos, a nos prostrar para sermos pisados, senão o conhecimento da nossa real grandeza. Podemos então nos permitir sermos humilhados” (Christian Truth, Vol. 7).

Meu fardo é leve 

Em Mateus 11:30, nos é dita a notável verdade de que, de fato, “o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve”. Como isso pode ser possível, em meio à rejeição e talvez a provações de todos os tipos? É por causa da companhia em que estamos. A presença do Senhor em nossa vida e nossa comunhão com Ele nos permitem achar esse jugo suave e o fardo leve. Se nos ocuparmos com as dificuldades em si, o jugo pode parecer pesado. É somente na presença de Cristo que o jugo pode se tornar leve.

As dificuldades do caminho foram diferentes em vários momentos da história da Igreja. Alguns foram chamados ao martírio e ainda são chamados dessa forma, mesmo hoje. No entanto, muitos foram para a morte regozijando-se e triunfando sobre seus inimigos dessa maneira. Como isso poderia ser possível, quando em alguns casos significava deixar para trás entes queridos que, em um sentido natural, dependiam deles para sustento? Novamente, era a companhia de Cristo, Aquele que havia sofrido antes deles e foi vitorioso sobre a morte. Sua presença com eles no jugo, o que quer que esse jugo pudesse envolver, permitia que os Seus alcançassem a vitória. Essa mesma vitória pode ser nossa também, mesmo nestes últimos e difíceis dias da história da Igreja, se estivermos dispostos a ser “manso[s] e humilde[s] de coração” e a estar no jugo com Cristo.

W. J. Prost

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