Origem: Revista O Cristão – Descanso

A Promessa de um Descanso

Hebreus 4

É um pensamento animador para o Cristão, em meio à turbulência e confusão da vida, que há uma promessa de “descanso” (um descanso eterno diante dele), que ainda resta um descanso para o povo de Deus! Isso animou o coração e aliviou os passos de Calebe, enquanto ele sofria pela infidelidade de seus irmãos e era obrigado a retornar das fronteiras de seu descanso na Canaã terrenal (Nm 14) para vagar por 40 anos no deserto. Animou seu coração saber que, não importa o que viesse, fossem adversidades e provações pelo caminho, seu descanso seria certo; que Canaã, cujos cachos de uvas temporãs ele havia provado e cuja terra de montes e vales ele havia percorrido por 40 dias (Nm 13), estava diante dele. Ele tinha a garantia de que, quando o trabalho e a labuta no deserto terminassem, ele entraria em seu descanso e desfrutaria o que sua alma ansiava, durante seus 40 anos de peregrinação (Js 14)!

Animou o coração de Paulo, cuja alma se banqueteou por um momento com as delícias de sua Canaã celestial, quando foi arrebatado ao terceiro céu e ouviu “palavras inefáveis” (2 Co 12). Animou seu coração saber que, além dos trabalhos, provações e abnegações de sua jornada no deserto, restava ainda aquele “repouso para o povo de Deus” – um descanso que seria de Deus! E é uma perspectiva animadora para os crentes agora terem esta “promessa de entrar no descanso de Deus” (ARA) diante de si, quando o trabalho, a provação e a fadiga das circunstâncias do deserto terminarem. É uma perspectiva maravilhosa que o próprio Deus tenha deixado de ser “um Trabalhador”, o que o nosso pecado O tornou!

Descanso futuro 

Veja que a “promessa de descanso” que nos é “dada” neste capítulo não é um descanso que já veio e do qual estamos em possessão agora. O crente já possui descanso de consciência agora, por causa da obra consumada de Cristo. Mas aqui o crente é mencionado como alguém que se esforça para alcançar esse descanso em Deus. O crente ainda não entrou nesse descanso; isso ainda permanece algo futuro. Paulo tinha acabado de falar, no capítulo 3, de Jesus como o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão de fé, e o pensamento análogo surge em sua mente a respeito dos filhos de Israel sob a liderança de Moisés e Arão – Moisés, sendo o mensageiro ou apóstolo de Deus e Arão, Seu sumo sacerdote, durante toda a jornada pelo deserto até o descanso em Canaã. Tudo isso é uma figura marcante e impressionante daqueles sob a “vocação celestial”, que professam o nome de Cristo e estão seguindo adiante por uma jornada no deserto neste mundo. Cristo, como um “Filho sobre a Sua própria casa”, desde a cruz, está nos conduzindo ao descanso que resta ao povo de Deus. E temos razão para buscar instrução nessas coisas; elas servem como advertências, motivos e fundamentos para nos exortarmos. “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 10:11).

Que cuidado e amor revelam por parte do Senhor essas solenes advertências contra “a incredulidade e o pecado” da natureza e da carne entre nós que professamos o nome de Cristo! Somos avisados para que aquilo que fez com que muitos israelitas caíssem no deserto também não impeça alguém de entrar no reino celestial! Mas observe isto: Ele nunca levanta a menor sombra de dúvida de que o verdadeiro crente finalmente o alcançará. Ele diz: “Nós, porém, que cremos, entramos no descanso” (ARA). É tão certo para o crente como se ele já estivesse lá. Mas Ele impõe isso a todo coração que professa o Seu nome: “Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás” (Hb 4:1).

“Pareça que algum de vós fica para trás” 

Ora, o que significa, “pareça que algum de vós fica para trás”? Isso é dito para que não nos esqueçamos de que somos redimidos para esse descanso de Deus e para que não nos afundemos nos caminhos do mundo ao nosso redor. Significa nos estabelecermos como se este fosse o nosso mundo, em vez de sermos como “estrangeiros e peregrinos” e não termos “pousada certa”. Esquecer isso é praticamente como olhar para trás, ansiando pelas “panelas de carne” do Egito e esquecendo nossa “vocação celestial”. É abrir a porta do nosso coração para as incursões da “desobediência” e, assim, praticamente nos “apartar do Deus vivo”; é nos colocar no caminho de sermos “endurecidos pelo engano do pecado”. Falo àqueles que têm professado o nome de Cristo; não me dirijo ao seu verdadeiro estado diante de Deus. Mas pergunto: “Há algo em seus caminhos nos quais você nega, na prática, sua vocação celestial?” Nosso lugar é nos apressarmos em avançar por um mundo contaminado que não é o nosso descanso. Acaso você está se apegando aos planos e projetos de amor ao dinheiro, de desenvolvimento próprio e egoístas deste presente século mau? Ou você já ouviu uma voz no íntimo da sua alma dizendo: “Levantai-vos, e ide-vos, porque este não é lugar de descanso; por causa da imundícia que traz destruição, sim, destruição enorme” (Mq 2:10)? Acaso as concupiscências da carne, as concupiscências dos olhos, a soberba da vida e as vaidades do mundo estão enchendo o seu coração, de modo que, em seus caminhos práticos, você “pareça que fica para trás” da sua profissão de fé? Você ouviu as boas novas de um descanso celestial, como Israel ouviu as boas novas de um descanso terrenal dos lábios dos espias, que enviaram para espiar a terra (Nm 13). A palavra em seus ouvidos tem sido como a que soou nos deles – uma palavra sem proveito, porque não estava “misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hb 4:2)? Ou você está entesourando em seu coração o pensamento deste descanso de Deus e considerando “como escória” todas as coisas que o atrapalhariam no caminho? Quantas vezes o mundo se apega aos caminhos, pensamentos e desejos daqueles que fazem a mais bela profissão de fé, sem oferecer nada tangível para mostrar ao observador que sua cidadania está de fato no céu! Assim, eles parecem como quem “fica para trás”. Quantas vezes o “eu” é retratado, ao invés do nome de Cristo!

Deus ainda trabalha 

Mas alguém poderia dizer: “Deus descansou na criação quando terminou Sua obra (Gn 2:2-3); e como é que o ‘descanso de Deus’ parece ser falado aqui como ainda por vir?” (Gn 2:3) Certamente, respondo, Deus descansou de todas as Suas obras que havia criado e feito, mas a Sua criatura, o homem, não entrou no Seu descanso com Ele, nem Ele mesmo o desfrutou por muito tempo. O pecado entrou no Seu descanso e o desfez (Gn 3), e, em vez de descansar onde o pecado estava, Deus tornou-Se novamente um “Trabalhador” para tirá-lo! O homem tornou-se um trabalhador e um árduo trabalhador em um mundo contaminado pelo pecado. Sua sentença foi: “No suor do teu rosto comerás o teu pão”. E sobre o Senhor Deus, lemos: “E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” (Gn 3:19-21). Ou, como o Senhor Jesus expressa em João 5:17: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também”. O Pai (o nome de Deus em graça) tornou-Se um Trabalhador quando o pecado entrou; o Filho foi um Trabalhador, e o Espírito Santo é um Trabalhador, porque Deus não pode descansar onde há pecado.

Resta um descanso para o povo de Deus 

Como diz a epístola aos Hebreus, se um homem tivesse entrado nesse descanso, ele não estaria trabalhando – ele teria cessado de suas obras, assim como Deus cessou na criação, naquele momento, de Suas próprias obras. “Esforcemo-nos [ou usemos de toda diligência], pois, por entrar naquele descanso [de Deus], a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (ARA). O crente prossegue laboriosamente pelo deserto com plena consciência da graça na qual está firme. Sua própria posição como crente o constituiu um “trabalhador”. Sua posição como pecador excluía tal pensamento, pois a salvação é para aquele “que não trabalha, mas crê n’Aquele que justifica o ímpio” (Rm 4:5 – AIBB). A obra do Cristão é uma “obra da fé”, e seu trabalho é um “trabalho do amor” (1 Ts 1:3 – AAIB).

O descanso que resta é uma certeza gloriosa, e, com o coração animado e passos jubilosos, o crente segue labutando em sua carreira, com o descanso de Deus em vista. O coração do crente é animado quando descobre que a Palavra detecta tudo aquilo que o impediria ou o faria tropeçar no caminho. Sua confiança também é sustentada pelo Grande Sumo Sacerdote, que já percorreu Ele próprio o caminho, e assim ele finalmente entra no descanso que resta para o povo de Deus!

Words of Truth, Vol. 1 (adaptado)

F. G. Patterson

Compartilhar
Rolar para cima