Origem: Revista O Cristão – Desencorajamento e Encorajamento
Desencorajamento e Encorajamento – Causas e Curas
Nota: Cada seção foi extraída de um artigo diferente, sendo todos escritos por J. N. Darby.
Cuidados e provações
Com relação aos nossos cuidados e provações, Cristo não nos tira deles. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”. Ele nos deixa no mundo e sujeitos a tudo o que pode acontecer ao homem, mas, sob a nova natureza, Ele nos ensina a confiar em Deus. Nosso pensamento muitas vezes é que (porque somos Cristãos) nos livramos das provações, ou então, se estivermos nelas, não devemos senti-las. Este não é o pensamento de Deus a nosso respeito.
Quanto mais próximo um homem, pela graça, anda com Deus, mais terno ele se torna quanto às faltas dos outros; quanto mais ele vive como um santo, mais consciente ele é da fidelidade e ternura de Deus e de como ela tem sido aplicada a si mesmo.
Não devemos esperar nunca ser exercitados, perturbados ou rejeitados, como se estivéssemos sem sentimentos. “Deram-Me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre”, O Senhor completamente sentiu tudo isso. Puseram-No a ferros. “Afrontas”, diz Ele, “Me quebrantaram o coração”. Mas há essa diferença entre Cristo em sofrimento e aflição e nós mesmos – com Ele não houve nem sequer um instante um lapso entre a provação e a comunhão com Deus. Este não é o que acontece conosco. Temos primeiro que descobrir que somos fracos e não podemos nos ajudar a nós mesmos, e então nos voltamos e olhamos para Deus.
O Senhor mantém os Seus
É um consolo saber que através de todas as coisas, o Senhor manterá os Seus. Não quero dizer que os trabalhadores e todos os santos não devam ser exercitados quanto a isso, mas que, quando veem o fracasso, eles devem recorrer a isso. Mas nós desejamos ver a eles como um jardim regado. Que gozo é quando os vemos assim! É o poder do Espírito de Deus que os torna unidos e felizes juntos, mas então Ele deve trabalhar no coração de cada um individualmente, para que assim seja, para que eles sejam “como salgueiros junto aos ribeiros das águas”. E há graça suficiente em Cristo para fazer isso. O texto tem sido muitas vezes um consolo para mim: “A Minha graça te basta”, mas então precisamos aprender, e experimentalmente, que não somos nada – todos nós sabemos que é verdade, mas andar no sentido disso é outra coisa. Isso faz distinção entre um santo e outro; somente devemos nos referir a Cristo em graça, ou podemos nos desanimar. Mas um homem que está desanimado não está realmente ali: Ele não encontra força, mas onde ele está procurando por ela? Quando realmente não somos nada, olhamos para Cristo e sabemos que Ele pode fazer tudo e, enquanto disputamos em oração por uma bênção, sabemos que Ele faz e ordena tudo. Mas isto supõe uma justa percepção da nossa própria nulidade e da bendita confiança em Deus, de modo que, conhecendo o Seu amor, podemos deixar tudo com Ele, sabendo que Ele faz tudo e que Ele tornará todas as questões em bênção de alguma maneira.
O coração de Jesus
Eu pensei que ele poderia ser desencorajado e rejeitado por esta aflição. Se for assim, que ele se lembre de que Seus caminhos não são como os nossos caminhos, e que o coração de Jesus, d’Aquele que nos feriu, passou por todas as provações pelas quais Ele nos faz passar; que Ele não pode nos fazer provar nada para o nosso bem sem antes Ele mesmo ter bebido toda a sua amargura. Ele sabe o que está fazendo; Ele sofre tudo o que Ele inflige. É o Seu amor, o Seu conhecimento de tudo que faz com que Ele faça tudo o que Ele faz. Tenhamos plena confiança n’Aquele que, como nós, foi tentado em todas as coisas.
Comunhão
Em conexão com o trabalho que você faz, busque a face do Senhor e apoie-se n’Ele. Quando o corpo não é robusto, corre-se o risco de fazer isso como uma tarefa, como uma obrigação, e o espírito se torna um pouco legalista, ou o indivíduo se cansa e fica desanimado diante de Deus. O trabalho é um favor que nos é concedido. Seja bastante pacífico e feliz na percepção da graça; então vá e derrame essa paz para as almas. Este é o verdadeiro serviço, do qual provavelmente alguém volta muito cansado em seu corpo, mas sustentado e feliz; outro descansa sob as asas de Deus e retoma o serviço até que o verdadeiro descanso venha. Nossa força é renovada como a da águia. Sempre se lembre “A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Busque, acima de tudo, a comunhão pessoal com o Senhor.
A mente de Deus em comunhão
Antes de entrarmos em qualquer serviço particular, antes que qualquer coisa possa ser feita, se não tivermos a certeza de Deus nos guiando por Seus olhos, devemos buscar obtê-la, julgando nosso próprio coração quanto ao que pode estar dificultando. Suponha que eu comecei a fazer algo e me deparo com dificuldades, eu começarei a ficar incerto se esta é a mente de Deus ou não, e, portanto, haverá debilidade e desânimo. Mas, por outro lado, se agindo na inteligência da mente de Deus em comunhão, serei “mais do que vencedor”, o que quer que me encontre pelo caminho.
Castigo
Há uma classe de provações que vêm de fora: Elas não devem ser rejeitadas; elas devem ser suportadas. Cristo passou por elas. Nós não temos, como Ele, resistido até mesmo ao derramamento do nosso sangue, em vez de falhar na fidelidade e obediência. Agora Deus age nessas provações como um Pai. Ele nos castiga. Elas vêm talvez, como no caso de Jó, do inimigo, mas a mão e a sabedoria de Deus estão nelas. Ele castiga aqueles a quem ama. Não devemos, portanto, desprezar o castigo nem ser desencorajados por ele. Não devemos desprezá-lo, pois Ele não castiga sem motivo ou causa (além disso, é Deus Quem o faz), nem devemos ser desencorajados, pois Ele o faz em amor.
A carne em nós
É uma coisa séria nos manter na causa de Deus quando a carne está em nós, e Satanás dispõe do mundo para nos impedir e nos enganar. Mas não desanime, porque Deus opera em você, maior é Aquele que está em nós do que aquele que está no mundo. Você não pode estar em terríveis dificuldades a menos que tenha sido resgatado do Egito. “A Minha graça te basta”, diz Cristo. “O Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” O segredo é a humildade de coração e a percepção de dependência e de olhar para Cristo com confiança, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação (ou chamado). Você sempre deve desconfiar mais de você mesmo e você sempre pode confiar mais em Deus. O verdadeiro conhecimento da redenção traz a pessoa para a paz perfeita, para a dependência verdadeira e constante do Redentor.
Diante de Deus ou do homem?
Pobre Elias! Ele teve uma lição para aprender, que nós mesmos, fracos e pobres como somos, precisamos aprender também. Quando Elias estava diante do Senhor, ele pôde, pelo poder do Senhor, parar ou trazer chuva para a Terra. Mas quando ele se colocou, não agora diante do Senhor, mas diante de Jezabel, ele estava então sem forças, e essa mulher ímpia era capaz de fazer com que ele temesse. Abatido, Elias vai para o deserto, senta-se debaixo de um zimbro e pede ao Senhor que tire sua vida (1 Rs 19:4). Quão pouco ele se lembrava do que o Senhor havia feito por ele; Quão pouco ele entrou na mente de Deus e esperava aquela carruagem de fogo que logo o levaria ao céu (2 Rs 2:11)!
Da mesma forma ocorre conosco. Estamos abatidos, desencorajados e fracos em nós mesmos, assim que deixamos de viver na fé e oração, e então não podemos dizer, como Elias em 1 Reis 18: “O SENHOR… perante cuja face estou”.
Fé
A fé que compreende a bondade de Deus e suspira pelo tempo em que o povo desfrutará de seus privilégios sempre confessa o pecado que obrigou a Deus a privar Seu povo desses privilégios por um tempo. A fé nunca se desanima, como se Deus fosse infiel; Pelo contrário, insiste em que a culpa esteja com o povo e que Deus apenas agiu fielmente ao lidar com eles. O interesse que Daniel sentia em seu povo levou-o à consideração do profeta Jeremias, e então ele suplicou ao Senhor que confirmasse essa bênção que Ele prometera a Jeremias, isto é, que Ele realizaria a libertação de Seu povo do cativeiro.
Um homem verdadeiramente humilde
A fé tem uma confiança constante e inabalável em Cristo. Eu sei o que é tristeza, mas o desânimo eu não sei. Se você está contando com sua própria força, então eu não estou surpreso com o seu desânimo, mas “Eis que não tosquenejará nem dormirá o Guarda de Israel”. Nós devemos ser humilhados – ah! Humilhado até ao pó, mas, por favor, nunca desanimado. “Um homem verdadeiramente humilde não é desencorajado; o homem desanimado não é um homem humilde, pois ele confiou, como homem, em algo além de Deus; a verdadeira nulidade não faz isso”.
Visão de Deus
É muito importante para nós vermos às vezes a Igreja do ponto de vista de cima, no deserto, mas na beleza dos pensamentos de Deus, uma pérola sem preço. No meio do acampamento embaixo, no deserto, que murmurações e reclamações. Quanta indiferença, que motivos carnais teriam sido testemunhados e ouvidos! De cima, daquele que tem a visão de Deus, que tem os olhos abertos, tudo é belo. “estou perplexo a vosso respeito”, diz o apóstolo, e logo depois, “confio de vós, no Senhor”. Temos que nos aproximar d’Ele, e teremos Seus pensamentos de graça, que veem a beleza de Seu povo, de Sua assembleia, através de todo o resto [as murmurações e reclamações], pois é belo. Mas, para isso, alguém teria que ser totalmente desencorajado ou totalmente satisfeito com o mal. Essa visão de Deus remove esses dois pensamentos ao mesmo tempo.
A ruína da Igreja
Podemos encontrar tantas necessidades, um estado tão doloroso da Igreja, que surpreende, embora eu tenha acreditado e ensinado isso em quase quarenta anos, mas isso encoraja. Nunca devemos ficar desanimados, porque o Senhor em Quem confiamos nunca falha, nem pode falhar. É apenas em 2 Timóteo, quando tudo estava em ruína e declínio, que Paulo fala para seu querido filho ser forte na fé. Nunca há um tempo tão bom para isso, porque é necessário, e o Senhor satisfaz as necessidades. Tenho a forte sensação de que tudo está se desintegrando, mas isso nos faz sentir com mais força e clareza que possuímos um reino que não pode ser abalado.
