Origem: Revista O Cristão – Desencorajamento e Encorajamento
Paulo, o Encorajador
Na edição de fevereiro vimos Paulo como o homem representante desta dispensação, relativamente a sua pessoa, seu ministério e seu modo de vida. Vamos olhar novamente para Paulo, mas desta vez para suas circunstâncias difíceis. Talvez em mais de uma esfera, seu modo de responder a elas nos dá um padrão.
Paulo sofreu adversidades de duas maneiras, de um mundo impiedoso e pela condição das coisas na Igreja. Sua vida era de alguém sofredor, ainda assim, triunfante ao invés de sucumbir aos desencorajamentos. Primeiramente vamos considerar seus sofrimentos vindos deste mundo impiedoso.
Sofrendo por causa do mundo, mas não desanimado
A primeira viagem missionária de Paulo foi caracterizada por rejeição e sofrimento, incluindo o incidente em Listra, onde ele foi apedrejado e abandonado para morrer. Mais tarde, em sua segunda viagem missionária com Silas, ele foi espancado e aprisionado em Filipos. Nesta mesma jornada, sua vida foi ameaçada em Éfeso e, mais tarde, ao relatar alguns de seus sofrimentos em 2 Coríntios 11, ele se refere a muitas ocasiões de perseguição que não foram registradas na Escritura. Referindo-se mais tarde ao incidente em Éfeso, ele diz: “fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos” (2 Co 1:8). Por causa de tudo isso, ele podia muito bem ter ficado desanimado. No entanto, ele constantemente diz a seus irmãos para não desmaiar ou desanimar. Em 2 Coríntios 4, ele dá aos crentes duas razões para não desmaiar.
Primeiro, ele aponta para nossos privilégios em Cristo – como somos capazes de “de cara descoberta” contemplar “a glória do Senhor”. Como resultado, somos transformados a mesma imagem “de glória em glória”. Se existem dificuldades na vida Cristã, não são tanto as provações que têm o potencial de nos desencorajar, mas a maneira como vamos de encontro a elas. Se o vaso de barro (nosso eu natural) deve ser quebrado para que a luz resplandeça melhor, é somente para que possamos ter mais da glória de Cristo refletida em nós. O vaso pode estar abatido, perturbado e perseguido, mas as provações não podem tocar a fonte de nossa vida e energia em Cristo pelo poder do Espírito de Deus.
Em segundo lugar, Paulo aponta para o final da caminhada, nos lembrando de que seremos ressuscitados por Jesus e apresentados diante d’Ele. Não apenas isso, mas o que ele chama de nossa “leve tribulação” trabalha para nós “um peso eterno de glória mui excelente”. O que é visto é temporal, mas o que não é visto é eterno.
Em vista disso, que desculpa tem o crente para estar desencorajado? Todo desencorajamento, em última análise, vem da nossa espera de algo do homem, e não receber o que esperamos. Podemos até chegar ao ponto de ficar desanimados porque esperamos que o Senhor faça algo que Ele não faz. Podemos estar sobrecarregados, abatidos, perturbados e até deprimidos, mas não desanimados. A depressão pode resultar do fato de o Cristão ser empurrado para além de seus limites pelas circunstâncias, mas o homem interior, tendo seus olhos em Cristo, encontra força para prosseguir e não desmaiar. Se o vaso (o próprio crente) é quebrado, o tesouro (a revelação da glória de Deus na face de Jesus Cristo) brilha mais intensamente.
Sentindo a condição da Igreja, mas não desanimado
Paulo também sofreu muito por causa da condição da Igreja. Em seus dias, como no nosso, sem dúvida muitos queridos crentes estavam contentes em saber apenas que foram salvos do juízo vindouro, mas Paulo queria mais do que isso. Ele queria apresentar “todo homem perfeito em Jesus Cristo” (Cl 1:28)!
Assim Paulo sentiu intensamente a condição dos santos. Ele pôde dizer: “Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me abrase?” (2 Co 11:29). Ele trabalhou arduamente para corrigir o que estava afetando negativamente o crescimento espiritual deles, seja em má doutrina ou más práticas. Em tudo isso, ele foi muitas vezes incompreendido e até falsamente acusado.
Em Corinto alguns estavam desconsiderando o amado apóstolo e seu ofício, fazendo uma ofensa sobre sua presença corpórea e em seu discurso (2 Co 10:10). Eles queriam influência e procuravam assumir a sua obra. Infelizmente, muitos estavam prontos para seguir a esses homens. Ao responder a isso, ele é compelido a dar conta de seus sofrimentos por Cristo, mostrando que o verdadeiro ministro de Cristo deve estar preparado para sofrer por Ele.
Ministério rejeitado, mas não desencorajado
Mas o golpe final vem no final de sua vida. Seu zelo por sua própria nação resultou em ser preso e enviado para Roma. Depois de passar dois anos em Roma em “sua própria habitação que alugara” (At 28:30), ele provavelmente foi liberto por um curto período de tempo. Então ele foi preso novamente e colocado na prisão.
No momento em que ele escreveu a segunda epístola a Timóteo, ele teve que dizer sobre aqueles entre os quais ele havia trabalhado: “Bem sabes isto: que os que estão na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). Sem dúvida, eles ainda estavam ligados à fé Cristã, mas evidentemente se afastaram do ministério de Paulo quanto ao chamado celestial da Igreja. Ele viu o fruto de seus muitos anos de trabalho gradualmente evaporando enquanto estava na prisão, incapaz de viajar e ajudar na situação. Nós dificilmente podemos pensar em uma situação potencialmente mais desanimadora para um servo do Senhor!
Paulo, o encorajador
Mas Paulo estava desanimado? Não! Ele poderia dizer a Timóteo: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2:1), e mais tarde ele pôde dizer: “Permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado” (2 Tm 3:14). Ele havia feito um depósito ao Senhor e poderia encorajar Timóteo a guardar também o “bom depósito” (2 Tm 1:14) a ele confiado. Ele advertiria Timóteo (e finalmente a nós também!) dos perigos que viriam nos últimos dias, mas em nenhum lugar existe pensamento de desânimo.
Suas circunstâncias também não eram evidentemente as mais confortáveis, pois ele suportou as dificuldades de uma verdadeira prisão. Ele pediu a Timóteo que levasse consigo “a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo” (2 Tm 4:13).
Além disso, ele teve que relatar que “na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam” (2 Tm 4:16). Outros crentes o abandonaram quando ele mais precisava deles. Mas, novamente, como seu Mestre, o pensamento de Paulo era para eles, não para si mesmo, e seu único comentário foi: “Que isto lhes não seja imputado” (2 Tm 4:16).
Embora o Senhor Jesus seja nosso único Exemplo perfeito, com certeza essas coisas são registradas por Paulo como um homem representativo para essa dispensação, a fim de que aprendamos a enfrentar o possível desencorajamento no caminho Cristão. Em vez de ser desencorajado por dificuldades no mundo ou entre nossos irmãos, que possamos ser encorajados da mesma maneira que Paulo era!
