Origem: Revista O Cristão – Deus é Luz

Deus É Luz

As duas expressões que temos em 1 João – “Deus é luz” e “Deus é amor” – são verdades relacionadas. Seguindo a revelação divina do começo ao fim, elas são as duas linhas pelas quais a textura dos conselhos divinos foi tecida. Tudo é luz e amor, pois tudo está servindo à exibição do próprio Deus – perfeito em pureza e perfeito em bondade. Gostaria agora de traçar as expressões da verdade, “DEUS É LUZ”, como elas se mostram nas revelações divinas.

No início, temos a expressão mais forte da santidade e justiça de Deus: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). Aqui o Senhor atribui ao primeiro cometimento do mal nada menos do que separação completa de Si, pois Ele é o Deus vivo. Que forte afirmação, logo de início, da pureza de Deus, da grande verdade de que “Deus é luz, e não há n’Ele treva nenhuma” (1 Jo 1:5)!

Assim Deus Se mostra de imediato, e tudo depois é apenas um abrilhantamento disso. Vemos também que o “amor” terá o seu caminho, mas a “luz” não vai ceder. Em todos os conselhos revelados, em todos os lugares e dispensações, a luz afirma o seu mesmo lugar.

As demandas da luz – Os desejos do amor 

Quando o pecado entra, vemos isto: “Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” é agora dito pelo Senhor Deus à serpente sobre a semente da mulher. Todas as demandas de “luz” serão honradas, e todos os desejos de “amor” serão satisfeitos. Essa é a interpretação dessa primeira promessa de Deus depois que o pecado entrou. O homem será redimido, a cabeça da serpente será pisada, porque “Deus é amor”, mas a pena do pecado persistirá, ou o calcanhar da semente da mulher será ferido, porque “Deus é luz”.

E porque “Deus é luz”, de agora em diante O vemos como um Estranho no lugar em que o pecado e a morte entraram. A habitação do homem tornou-se contaminada, mas Ele visita a Terra para a bênção e orientação de Seu povo, porque Ele é “amor”. Deus não podia descansar em um estrado sujo, e assim descobrimos, quando Ele está prestes a assumir Canaã como Sua morada, que a espada de Josué a livra de seus antigos corruptores. As cidades se tornam malditas ao Senhor. O fruto do gado, dos campos e das árvores são purificados por várias ordenanças. Tudo, conforme os costumes, é assim purificado, antes que o Senhor possa habitar ali.

Santidade ao Senhor 

Assim, quando tudo está estabelecido na terra, “santidade ao Senhor” é lida em todos os lugares. Ele mesmo é retirado para aquele lugar que é chamado de “o lugar santíssimo”, e o caminho para aquele santuário é marcado por testemunhos da santidade implacável do Senhor. Tudo fala de “amor” ao estabelecer um caminho – mas o caráter do caminho nos fala igualmente de “luz”. A menor mancha deve ser removida; o toque de uma sepultura, ou mesmo um osso, embora por acidente, direcionava os adoradores para a água purificadora antes que eles pudessem se aproximar do Senhor (Nm 19). “Amor” forneceu esta água, mas “luz” exigiu que ela fosse usada. E assim, o lugar, as ordenanças que o prepararam, o adorador que as usou – tudo ainda falava que “Deus é luz”.

O testemunho da lei 

Gostaria agora de observar que a lei, que foi estabelecida ao mesmo tempo, deu o mesmo testemunho. Pois, se o homem se aproximar de Deus pela lei, ele ainda deve aprender que “Deus é luz”; portanto, “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro da lei para fazê-las” (Gl 3:10). Se o homem estiver diante d’Ele, como no Monte Sinai, e não à porta do santuário, deve trazer com ele aquela “luz” de santidade que é a única digna da presença divina. Nada menos que isso poderia responder à demanda d’Aquele que é “luz”.

Esse é o forte testemunho da lei para a grande verdade que estamos seguindo através das Escrituras. A voz das palavras do alto do Sinai e a voz do santuário aos seus pés igualmente, embora de maneira diferente, proferiram esta verdade: “Deus é luz”.

Mais tarde, o cativeiro de Israel torna-se o testemunho naqueles dias. O povo não tinha permanecido em “todas as coisas” da lei. A dispersão das tribos nos manifesta que “Deus é luz”, como o exílio de Adão do Éden havia manifestado antes. A iniquidade e as transgressões devem se distanciar de Deus. Se Israel andou nas trevas da natureza corrompida, eles precisavam andar fora da presença de Deus.

Tal foi o testemunho de todos os profetas contra um povo desobediente. E tal, novamente, o testemunho de João Batista, no devido tempo; tudo em sintonia. Ele os chama para o arrependimento e para nunca confiarem no fato de serem “filhos de Abraão”, isto é, do povo de Deus. Mas agora chegamos ao relato de outro testemunho (o mais comovente de todos) – a vida e o ministério do Senhor Jesus Cristo.

A vida e o ministério de Jesus Cristo 

Tudo o que Ele fez foi um reflexo de Deus; tudo, também, foi “luz” e “amor”. Eles estavam mesclando seus raios e formando aquele elemento perfeito em que Ele viveu e Se moveu nesta Terra. Aqui habitava “a plenitude da Divindade corporalmente”, e tudo o que emanava era “luz” ou “amor”. Ele consentiu em ser ferido em Seu próprio calcanhar, por causa da justiça, porque “Deus é luz”, mas Ele Se comprometeu a ferir a cabeça do inimigo, por causa da graça, porque “Deus é amor”. Isso foi manifestado em Sua morte mais particularmente, mas habitualmente, também, em toda a Sua vida antes da morte. Tudo falava de “luz” e de “amor”, ou refletiam “justiça e paz”, “misericórdia e verdade”. Mas quão gloriosamente a cruz de Cristo manifesta a verdade que “Deus é luz” e que “Deus é amor”! Entender a cruz é entender que ela realmente carrega para nós o testemunho como pecadores. Mas em Seu ensino, o Senhor deu o mesmo testemunho. Se olharmos para Sua vida ou Seu ministério, podemos dizer que “Deus é luz, e não há n’Ele treva nenhuma”.

O testemunho do Espírito Santo 

Quando o testemunho de nosso Senhor sobre a “luz” e o “amor” terminou, o Espírito Santo sustentou exatamente o mesmo, embora de uma forma diferente. Seus ensinamentos pelos apóstolos nas epístolas revelam novos mistérios, mas todos afirmam essas verdades. O pensamento de “a doutrina de Cristo” admitir quaisquer trevas ou mal era estranho para a mente do Espírito. “Não sabeis”, diz Paulo, “que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? … que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:3-4). Assim também, ele interpreta a graça que traz a salvação como aquela que ensina a renúncia da impiedade e das concupiscências mundanas, e um viver sóbrio, justo e piedoso neste mundo presente (Tt 2). Embora agora seja a graça e a salvação, e não a lei que é manifestada, é com igual certeza um testemunho de que “Deus é luz”.

Gostaria apenas de acrescentar que a epístola da qual tiramos as palavras “Deus é luz” e “Deus é amor” tece essas duas verdades juntas. Todos os pensamentos do Espírito Santo parecem passar e repassar entre elas. Consequentemente, está escrito: “qualquer que não pratica a justiça e não ama a seu irmão não é de Deus” (1 Jo 3:10). E por qual motivo? Porque “Deus é luz” e “Deus é amor”, portanto, aquele que não faz justiça não pode ser d’Aquele que é “luz”, nem pode aquele que não ama a seu irmão ser d’Aquele que é “amor”.

A morada do Espírito Santo 

Tal, então, é o ensinamento do Espírito Santo. Mas como o Filho, não apenas por Seu ensinamento, mas em Sua vida e Pessoa, deu testemunho desta verdade, assim o faz duplamente o Espírito Santo da mesma maneira. Seu ensino por meio dos apóstolos faz isso, assim como Sua habitação nos santos. Os santos são os templos d’Ele agora. Mas Ele habita nesses templos como um “Espírito Santo”, entristecido por qualquer contradição prática da verdade de que “Deus é luz” (Ef 4:30).

Como tudo isso é perfeito! O Filho e o Espírito Santo, cada um no dia de Sua manifestação, mantêm o mesmo testemunho bendito, tanto por ação quanto por palavra. E temos apenas que acrescentar que a glória, mais tarde, dirá a mesma preciosa e excelente verdade – que “Deus é luz” e que “Deus é amor” – tocando essa nota com uma mão tal que fará com que vibre para sempre. O próprio descanso de todos os que confiaram em Jesus dirá que “Deus é amor”; a entrada para esse descanso e aquilo que o rodeia, dirá que “Deus é luz”. A Terra, que será o estrado na era da glória, deve ser purificada de seus corruptores antes que a glória possa voltar e habitar aqui. E quando for assim purificada, será mantida limpa. “Pela manhã destruirei todos os ímpios da terra”, diz o Senhor da Terra nos dias da sua glória, “para desarraigar da cidade do SENHOR todos os que praticam a iniquidade” (Sl 101:8). E quanto à casa superior – a glória celestial – nada pode se aproximar que possa de alguma forma contaminá-la. “A ela trarão a glória e a honra das nações” (Ap 21:26). Além da esfera que a glória preenche deve desaparecer tudo o que é impuro, tudo o que é a contradição da “luz”, pois as trevas serão então trevas exteriores.

Assim, de fato, desde o jardim do Éden até a glória, temos o testemunho constante, em todos os caminhos de Suas mãos e em todas as revelações de Sua mente, de que “DEUS É LUZ, e não há n’Ele treva nenhuma”.

E. Dennett (adaptado)

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