Origem: Revista O Cristão – A Trindade

Deus Totalmente Revelado

Como outro já disse, é um pensamento solene, mas abençoado, que Deus agora foi totalmente revelado. Certamente o homem não pode ter nenhum relacionamento com Deus, a menos que Deus decida Se revelar. Em consequência, quanto maior a revelação de Deus, mais próximo e mais abençoado é o relacionamento com Ele, mas também maior é a condenação se essa revelação for rejeitada. No Velho Testamento, Deus falou “muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas” (Hb 1:1), mas foi sempre e apenas uma revelação parcial de Deus. Deus agora “Falou-nos na Pessoa do Filho” (Hb 1:2 – JND) e escolheu Se revelar completamente por meio d’Ele, pois foi do agrado da Divindade (JND) que toda a Sua plenitude habitasse e Se manifestasse em Cristo.

O homem em relacionamento 

Esse fato maravilhoso é ao mesmo tempo um privilégio admirável, mas também leva o homem a uma séria responsabilidade. Pensar que Deus, que é infinito e, portanto, incapaz de ser conhecido por Suas criaturas finitas, escolheu Se revelar no Filho, por esse Filho Se tornar Homem e vir ao mundo! Mais do que isso, essa revelação tinha como objetivo a bênção suprema do homem e ser estabelecido num relacionamento com Deus que nenhuma mente humana jamais poderia ter pensado ser possível. Para aqueles que aceitam Cristo como a revelação de Deus, a bênção é tal que toda a eternidade não será suficiente para a manifestação e o desfrute dela.

Por outro lado, a revelação completa de Deus serviu apenas para trazer à tona a depravação total da raça humana e a oposição do homem em relação a Deus, conforme revelado em Cristo. Tendo Se revelado completamente, e também no amor e na graça, Deus (falamos com reverência) não pode fazer nada além. Se o homem rejeita o amor e a graça, bem como a verdade (e tudo isso foi revelado e plenamente exibido em Cristo), Deus deve então agir em juízo, embora seja Sua “estranha obra” (Is 28:21).

Para o crente, há maravilhosas bênçãos associadas ao pleno conhecimento de Deus – bênçãos peculiares ao Cristianismo neste tempo da graça de Deus. Gostaríamos de mencionar algumas delas, embora esteja além do escopo deste artigo entrar em detalhes sobre essas bênçãos.

Deus como nosso Pai 

Antes de tudo, somos levados ao conhecimento de Deus como nosso Pai. No Velho Testamento, Deus foi revelado como Deus Todo-Poderoso e como Jeová – como Deus Todo-Poderoso para os patriarcas e como Jeová para Israel. Nenhum deles representou plenamente o caráter de Deus para o homem, mas agora Ele foi revelado à Igreja como Pai. É em conexão com a revelação de Deus como Pai que temos a vida eterna, pois enquanto os do Velho Testamento certamente tiveram uma nova vida, a expressão “vida eterna” nunca foi aplicada a ela. Cristo veio para revelar o Pai, e como Filho, Ele foi o Único capaz de revelá-Lo. Mais do que isso, já que por Sua obra (de Cristo) na cruz, Ele nos trouxe para o mesmo relacionamento abençoado com o Pai. Ele pôde dizer a Maria Madalena: “Subo para Meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Antes disso, o Senhor Jesus havia falado de “Meu Pai”, “o Pai” e até “vosso Pai”, mas nessa última expressão sempre havia o pensamento de “vosso Pai celestial”. Agora somos livres para chamar Deus de nosso Pai e desfrutar desse relacionamento em toda a proximidade em que Cristo nos trouxe. Não pode haver nada mais íntimo do que isso.

Mas essa revelação de Deus como Pai foi feita pelo Filho, que Se tornou Homem para fazer isso. “O Pai enviou Seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4:14). Enquanto a Pessoa do Filho é um mistério divino e permanecerá assim, mesmo assim Ele revelou completamente o Pai. Como Homem, Ele andou por este mundo em companhia de homens, experimentando toda a tristeza que o pecado trouxe a eles. Ele então morreu por nós como Homem e, tendo ressuscitado dentre os mortos, continuará sendo Homem por toda a eternidade, a fim de desfrutar de nossa companhia. Bem, o escritor do hino pode dizer:

O que suscitou o pensamento maravilhoso;
Ou quem o sugeriu?
Que nós, a Igreja, para a glória trazidos,
Tenhamos sido abençoados com o Filho.

A revelação divina 

A revelação de Deus na Trindade ocasionou muita controvérsia, não apenas entre os incrédulos, mas até mesmo entre os Cristãos. Tudo isso, em última análise, decorre da antiga determinação do homem de se agarrar, em coisas divinas, àquilo que está além de seu entendimento. Quando ele não pode entender, ele as reduz a algo que ele possa entender. Ao fazer isso, ele invariavelmente corrompe a verdade de Deus e cai no erro. Quando Deus é revelado como o Pai e o Filho, o homem comete o erro de raciocinar a partir das relações humanas para tentar entender as divinas; ao fazer isso, sempre desonra a Deus e corrompe seu próprio desfrute daquilo que Deus deu. Nas relações humanas, um pai deve existir antes de seu filho, e o filho deve ser procriado pelo pai. Mas nos relacionamentos divinos, Pai e Filho coexistiram por toda a eternidade – algo que a mente natural não pode entender. Em vez de questionar ou tentar entender, devemos nos curvar em admiração e adoração! Se começamos com relacionamentos divinos e depois seguimos para o que é humano, Deus é glorificado e o homem é muito mais abençoado.

Além disso, há a revelação do relacionamento, pois o homem foi formado à imagem e semelhança de Deus. Ao conhecer as relações divinas, podemos entender melhor as relações humanas, embora sejam necessariamente inferiores, devido à diferença entre finito e infinito. Mas o gozo de Deus como Pai e Cristo como Filho nos faz perceber que os relacionamentos humanos são padronizados, embora não iguais aos divinos. Traz uma dimensão em nossa vida espiritual que não existia antes e traz um prazer que não podia ser conhecido quando Deus não era totalmente revelado.

A habitação do Espírito Santo 

Finalmente, somos habitados pelo Espírito Santo, e Ele está presente aqui na Terra, habitando em cada crente individualmente e entre os crentes coletivamente como a casa de Deus. Sua vinda é referida como “a promessa do Pai” (At 1:4), e o Senhor Jesus poderia falar do “o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome” (Jo 14:26). Toda a Trindade está envolvida na bênção do crente. É pelo Espírito de Deus que estamos em associação direta com Cristo – um Cristo ressuscitado em glória. O Espírito de Deus era conhecido no Velho Testamento, pois está registrado que Ele vinha sobre indivíduos de tempos em tempos, capacitando-os para que trouxessem a mente de Deus e escrevessem as Escrituras Sagradas. No entanto, como consequência da glorificação de Cristo à direita de Deus, o Espírito desceu para tomar Seu lugar neste mundo até que a Igreja seja chamada para casa.

Viver durante esse tempo em que o Espírito de Deus está aqui na Terra é um tremendo privilégio. Ele está aqui como o Paracleto – aquele que Se encarrega e cuida de todos os nossos assuntos. Ele nos leva a toda a verdade, revela as coisas de Cristo para nós e nos leva a desfrutar de Cristo em nosso coração. Seu objetivo final é nos tornar cada vez mais semelhantes a Cristo, para sermos “transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3:18). Ele lidera e guia, tanto individual como coletivamente, em nossa vida, para a glória de Deus e nossa bênção, seja em adoração ou em serviço. Este é um privilégio que não era conhecido antes do dia de Pentecostes, nem será conhecido na Terra novamente depois que a Igreja for chamada para o lar.

Bem, podemos dizer, junto com outro escritor de hinos:

Seja abençoada nossa porção
Glorificando a Trindade;
Pelo evangelho do alto,
Pela palavra que “Deus é amor”.

W. J. Prost

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