Origem: Revista O Cristão – Oferta pelo pecado e pela culpa

O Devido Espírito de Disciplina

“Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus” (Dt 8:5). Esta abençoada palavra é válida em todos os momentos e em todas as circunstâncias, tanto para a disciplina aplicada individualmente quanto coletivamente. Aplica-se com base no Novo Testamento, seja em 1 Coríntios 5 ou Hebreus 12. Nosso Pai nunca Se afasta desse princípio, nunca usa a vara, a não ser movido pelo perfeito amor. A santidade é o fim e o amor a motivação. Além disso, a verdadeira disciplina é apenas uma das formas da atividade do verdadeiro amor. É bom ter isso em mente. Julgamento correto e ternura de coração são coisas que devem estar combinadas em nós, assim como estão em nosso Deus. Tudo o que é correto deve ser aprendido com os caminhos d’Ele, e nós em sujeição, para que não neutralizemos aquilo que é d’Ele pelo acréscimo daquilo que é nosso. Mesmo “neutralizar” não é uma expressão adequada, pois um dano positivo pode ser produzido ao se fazerem as coisas certas de uma maneira errada.

A forma de disciplina 

A maneira pela qual a disciplina deve ser exercida na assembleia está claramente estabelecida em 1 Coríntios 5, mas devemos olhar por trás dos bastidores para ver o espírito que convém a tal ato. Somente quando chegamos a 2 Coríntios 2 é que aprendemos o que custou ao apóstolo escrever 1 Coríntios 5, sob a inspiração do Espírito Santo. Enquanto os próprios santos não estivessem quebrantados pela tristeza, ele não poderia fazê-los entender o quanto ele próprio havia sofrido. Não é apenas uma questão de os coríntios se humilharem por causa do grosseiro mal imediatamente associado a eles. Existe uma verdade mais profunda e mais ampla – de que aqueles que estão certos devem ensinar aos que estão errados o seu devido lugar, assumindo eles mesmos esse lugar. Paulo – o certo – é o primeiro a entrar na tristeza, com o coração quebrantado, para poder atrair os coríntios para onde ele estava e para que estes, por sua vez, atraíssem o culpado para o mesmo lugar. Paulo interagiu com os santos coríntios; era para que eles agissem em relação ao próprio ofensor, a fim de que a dor que sentiam, mais do que qualquer outra coisa, pudesse ensinar a consciência deste e reconquistar o coração dele para o Senhor. Jamais pode ser apenas um ato de afastamento, embora deva haver isso, devido à santidade do Senhor, mas nesse ato está envolvida uma questão de comer a oferta pelo pecado no lugar santo, confessando o pecado em julgamento próprio e sempre tendo em vista a restauração final da alma. Se separarmos 2 Coríntios 2 e 7 de 1 Coríntios 5, muito dano irá surgir. Os santos se transformarão em um tribunal de justiça, para proferir sentenças a torto e a direito, sem a consciência de que cada sentença os atinge de volta e os leva à punição. Estas são as palavras do Apóstolo, quanto ao que ele sentiu no momento em que escreveu a primeira epístola: “Em muita tribulação e angústia de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas” (2 Co 2:4). Este é o registro do efeito produzido nos santos pelo espírito de sua carta: “Vede quanto cuidado não produziu em vós isto mesmo, o serdes contristados segundo Deus! Sim, que defesa própria, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança!” (2 Co 7:11 – AIBB). A única maneira de mostrar pureza piedosa em algum assunto é pela tristeza piedosa.

Cuidado 

Este é um princípio imutável com Deus. Quando Israel já tinha cruzado o Jordão e visto, na queda de Jericó, como Jeová lidou com o inimigo, eles chegaram depois a Ai, onde foram derrotados. Assim como os coríntios mais tarde, faltou “cuidado” da parte deles, e, por conta de sua indiferença ao mal que estava dentro, foi deixado espaço para Acã tomar do anátema. Observe que não diz “Acã”, mas “os filhos de Israel cometeram uma transgressão” (AIBB). Todos foram envolvidos no feito, e o povo foi julgado antes do próprio culpado. Isso não foi facilmente aceito nem admitido, nem mesmo por Josué. Realmente tristes foram suas palavras na ocasião: “Antes nos tivéssemos contentado em ficar além do Jordão!” (Js 7:7 – ACF). Não gostamos do princípio da disciplina que atinge a maioria antes mesmo que o culpado seja atingido.

Reto aos seus próprios olhos 

Do mesmo modo, no final de Juízes, “não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Jz 21:25). Este é um princípio que leva a um terrível erro. Uma imagem de fundição na casa de Mica e, pior ainda, a conivência de um levita com a adoração de ídolos já eram algo bastante triste. No entanto, só após ser confrontado o absoluto mal da apostasia, que foi o pecado de Sodoma e aquilo que trouxe o dilúvio sobre a Terra (Gn 6:12), é que o senso moral de Israel foi despertado. Então “a congregação se ajuntou, perante o SENHOR em Mizpá, como se fora um só homem” (Jz 20:1 – ACF). E agora que Jeová os reuniu mais uma vez, Ele precisa cumprir o antigo princípio – atingir muitos antes de [atingir] poucos, ao custo de 40.000 deles. Só então conseguiram ver sua ligação com a iniquidade de Benjamim, pois “todos os filhos de Israel, todo o povo, subiram, e vieram a Betel, e choraram, e estiveram ali perante o SENHOR, e jejuaram aquele dia até à tarde, e ofereceram holocaustos e ofertas pacíficas perante o SENHOR” (Jz 20:26). Somente depois dessa dolorosa, porém necessária, provação é que Deus pôde ficar do lado deles e prepará-los para lidar em justiça com “Benjamin, meu irmão”.

Os Cristãos da banda do Jordão que está para o deserto não conseguem ver nem reconhecer esse princípio; eles não estão no lugar onde ele é aplicado. Mas quando nos firmamos na verdade de Éfeso, quer a Igreja tenha sido fiel ou não ao seu chamado, devemos ter em mente que Deus agirá conosco de acordo com o que Ele é e também com o que devemos ser.

Bible Treasury, vol. 12 (adaptado)

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