Origem: Revista O Cristão – Devoção
O Poder da Devoção
O poder da devoção inteligente é o entendimento da perfeita purificação de nossa consciência. Muitos não entendem isso e estão tentando alcançar essa purificação, o que é uma completa inversão da ordem de Deus. Temos uma consciência purificada, não por qualquer coisa que fizemos, mas pelo sangue de Jesus. Ele nos colocou no interior do véu. Estamos dentro do Santo do Santos, com uma consciência perfeitamente purificada, não mais tendo “consciência de pecado”. Mais do que isso, o sacerdócio de Cristo entra para me manter na prática onde o sangue de Cristo me colocou, e a advocacia de Cristo me restaura se eu pecar. “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1). “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9). No momento em que me julgo quanto ao pecado, tenho o direito de saber que ele se foi.
Que lugar maravilhoso para colocar o crente no início de seu curso – na brilhante luz do semblante de Deus! Mas o que devemos fazer? Descansar ali? Não, mas esse é o fundamento sobre o qual se baseia a superestrutura da devoção prática. O legalismo diz que você precisa se esforçar para alcançar esse lugar de aceitação. O evangelho diz: Cristo me colocou ali. O antinomianismo[1] diz: “Eu já tenho, possuo tudo isso em Cristo”, e aí termina. Mas não! O evangelho me coloca ali para correr a bendita carreira que me está proposta, para me tornar semelhante a Cristo.
[1]  N. do T.: Doutrina luterana de João Agrícola (1494-1566) segundo a qual, pela fé e a graça de Deus, anunciadas no Evangelho, os Cristãos são libertados não só da lei de Moisés, mas de todo o legalismo e padrões morais de qualquer cultura. ↑
Cristo fora do arraial
Hebreus 10 me coloca dentro do Santo dos Santos, e Hebreus 13 me leva para fora do arraial. Eu encontro Cristo, no que diz respeito à minha consciência, no “interior do véu”, mas encontro Cristo, no que diz respeito ao meu coração, “fora do arraial”.
Se conheço o conforto que flui por estar no interior do véu, devo buscar me identificar de uma maneira prática com Cristo fora do arraial. Cristo no interior do véu tranquiliza minha consciência; Cristo fora do arraial energiza minha alma para correr de maneira mais devota a corrida que me está proposta. “Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o Santuário [Santos dos Santos – ARA], são queimados fora do arraial. E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:11-13). Não há dois pontos moralmente mais distantes do que o interior do véu e fora do arraial, e ainda assim ambos são trazidos diante de nós aqui. No interior do véu era o lugar onde a glória de Deus habitava; fora do arraial, era o lugar onde a oferta pelo pecado era queimada. É uma bênção ver Jesus preenchendo tudo o que há entre esses dois pontos. O arraial era o local da profissão ostensiva (em figura, o arraial de Israel; no antítipo, a cidade de Jerusalém). Por que Cristo sofreu fora da porta? A fim de mostrar que estava sendo colocada de lado a mera maquinaria da profissão exterior de Israel.
Podemos ter clareza quanto à obra de Cristo ter sido realizada por nós, mas é tranquilidade de consciência tudo que eu quero? Será constatado que o gozo, a paz e a liberdade que fluem de ouvirmos a voz de Cristo no interior do véu dependem muito de ouvirmos Sua voz fora do arraial. Aqueles que mais sabem o que é sofrer com Ele e suportar Seu vitupério conhecerão mais do gozo com Ele no interior do véu. Nossa conduta precisa ser testada por Cristo. O Espírito Santo será entristecido se o santo seguir um caminho contrário ao que Cristo teria seguido, e então a alma estará emagrecida. Como posso estar desfrutando de Cristo se não estou andando em companhia d’Ele? Onde então está Cristo? “Fora do arraial”. “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:11-13). Porque Cristo não é do mundo, a medida da nossa separação do mundo é a medida da separação de Cristo. Quando o coração está cheio de Cristo, ele consegue abandonar o mundo; não há dificuldade em fazer isso nesse caso. Simplesmente dizer “Abandone isso” ou “Abandone aquilo” para alguém que ama o mundo de nada adiantará; o que tenho que fazer é procurar ministrar mais de Cristo a essa alma.
