Origem: Revista O Cristão – Devoção

“Uma Coisa”

“Falta-te uma coisa” (Mc 10:21).

Na história do jovem rico, duas verdades se apresentam de forma proeminente diante de nós. Primeiro, aprendemos que, de muitas maneiras, nossa vida pode ser excelente, e mesmo assim ainda faltar “uma coisa”. Segundo, descobrimos que essa “uma coisa” é a devoção de um coração só para Cristo.

De todas as diferentes pessoas que entraram em contato com nosso Senhor em Seu curso terrenal, talvez nenhum tenha um fim mais triste do que o desse jovem rico. Havia tanta coisa no início de sua história que prometia um futuro brilhante como discípulo de Cristo; no entanto, no final, lemos que ele “retirou-se triste”. Até onde temos registro nas Escrituras, ele nunca mais é encontrado na companhia de Cristo e dos Seus. Portanto, mesmo que no fundo ele fosse um crente, ele perdeu a bênção da companhia de Cristo no meio de Seu povo e falhou como um testemunho para Cristo no mundo.

As boas qualidades 

Esse jovem era marcado por muitas excelências da criatura e muita beleza moral. Ele era um jovem fervoroso, pois lemos que ele veio “correndo” para o Senhor. Ele era reverente, pois “se ajoelhou” em Sua presença. Ele tinha um desejo por bênçãos espirituais, como a vida eterna. Sua vida exterior era irrepreensível, pois ele visivelmente observava a lei desde a juventude. Todas essas qualidades, em seu lugar, são belas e atraentes, e o Senhor não foi indiferente a essas excelências, pois lemos: “E Jesus, olhando para ele, o amou”. No entanto, com todas essas excelências, o Senhor discerniu que faltava “uma coisa”.

Três testes 

Para manifestar aquela “uma coisa” que faltava na vida dele, o Senhor aplica três testes. Assim como o rapaz, também podemos estar vivendo uma vida exteriormente decente e irrepreensível, e ainda assim nosso testemunho de Cristo ser marcado pela falta de “uma coisa”. Será bom, portanto, provar a nós mesmos pelos três testes que o Senhor coloca diante do jovem.

  • Primeiro, ele foi testado por suas posses terrenais.
  • Segundo, ele foi testado pela cruz.
  • Terceiro, ele foi testado por uma Pessoa – o Cristo rejeitado.

Havia algo que lhe foi pedido para renunciar, algo para tomar e alguém para seguir.

O primeiro teste são as posses terrenais. Tomando-as no sentido mais amplo como todas aquelas coisas que seriam uma vantagem para nós enquanto vivemos no mundo, podemos perguntar: “Já pesamos todas essas coisas à luz de Cristo e as consideramos como perda por causa de Cristo?” Já calculamos as vantagens que o nascimento pode conferir, a facilidade e os prazeres mundanos que as riquezas podem proporcionar, a posição, a honra e as dignidades que o intelecto, o gênio ou as realizações podem garantir? Então, sem minimizar essas coisas, já olhamos diretamente para o rosto de Jesus – Aquele que é totalmente desejável – e, vendo que Ele é incomparavelmente maior do que todas essas coisas, já fizemos, no poder da afeição por Cristo, deliberadamente a escolha de que Cristo será nosso grande Objeto, e não essas coisas?

O segundo teste é a cruz. O Senhor diz ao jovem: “toma a cruz” (ACF). Estamos preparados para aceitar o lugar em relação ao mundo em que a cruz nos colocou diante de Deus? Paulo pôde dizer: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6:14). A cruz está entre nós e os nossos pecados, o velho homem e o julgamento, mas será que também vimos que ela está entre nós e o mundo? Se tomarmos a cruz, não apenas o mundo estará condenado para nós, mas seremos totalmente recusados pelo mundo.

O terceiro teste é um Cristo rejeitado, pois o Senhor disse ao rapaz: “Segue-Me”. Estamos preparados para nos identificarmos com Aquele que é odiado e rejeitado pelo mundo; Aquele que nasceu em um estábulo e foi embalado em uma manjedoura, que, em Sua passagem por este mundo, não tinha onde reclinar a cabeça, que morreu de forma infame, morte sobre uma cruz de vergonha, e foi sepultado em um túmulo emprestado; Aquele que em ressurreição ainda se encontrava na companhia de alguns pobres pescadores; Aquele que estava e ainda está fora no lugar de reprovação? Estamos preparados para sair a Ele fora do arraial, levando Seu vitupério?

Assim, os testes naquele dia, como também hoje, são: Podemos renunciar às vantagens terrenais, tomar um lugar fora do mundo e seguir a Cristo, Aquele que é rejeitado? Esses testes chegam até nós como chegaram ao jovem, e a pergunta para cada um é: Que resposta devemos dar?

Como Demas ou Pedro 

Podemos responder a esses testes de duas maneiras. Primeiro, como o jovem a respeito de quem lemos, que “retirou-se triste”, podemos voltar às coisas da Terra. Ele não se afastou com raiva ou ódio de Cristo. Ele não tinha nada contra Cristo, mas o mundo era forte demais para ele. Como Demas de um dia posterior, ele amou o presente século. Segundo, podemos dar uma resposta como Pedro e os discípulos, sobre quem aprendemos que deixaram tudo e seguiram a Cristo (v. 28).

Devoção a Cristo 

Aquela “uma coisa” que faltava ao jovem era devoção de um coração só para Cristo. Então ele “retirou-se”. Os discípulos, com toda sua ignorância, fraqueza e muitas falhas, foram atraídos a Cristo com afeição e, assim, deixaram tudo para segui-Lo.

Quantas vezes desde aquele dia a história desse jovem se repetiu! Existe algo mais triste do que olhar para trás e lembrar quantos jovens começaram bem e pareciam ter um futuro promissor, mas onde estão hoje? Apesar de excelências como seriedade, sinceridade e zelo, eles voltaram atrás, se não para o mundo grosseiro, para o corrupto mundo religioso, e a razão é clara: Faltava-lhes “uma coisa” – a devoção de um coração só para Cristo, aquela que coloca Cristo diante da alma como o primeiro e supremo Objeto da vida. Pode ser que eles tenham colocado a si próprios antes de Cristo, ou a necessidade de almas antes de Cristo, ou o bem dos santos antes de Cristo, ou o serviço antes de Cristo, com o resultado de que, no final, eles voltaram para as coisas da Terra. Não há poder suficiente, no amor pelas almas, no amor pelos santos ou no desejo de servir, para manter os pés no caminho estreito. Somente o próprio Cristo pode nos manter fora no lugar de reprovação, seguindo-O de perto.

H. Smith (adaptado)

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