Origem: Revista O Cristão – Neemias

As Dez Portas de Jerusalém

Quando o remanescente de Judá retornou a Jerusalém do seu cativeiro na Babilônia, eles eram poucos em número e tinham muitos inimigos, mas eles determinaram, no temor do Senhor, reparar as ruínas dos muros da cidade. Esta foi uma grande obra, mas foi “serviço de seu Senhor” (Ne 3:5), e Ele havia despertado seus corações para fazê-lo. Nenhuma parte do muro foi esquecida. Todos as portas foram reparadas e, quando construíram cada uma em seu lugar, eles tinham tudo à vista. Uma lição importante é ensinada aqui: Nada menos que todo o círculo da verdade e obra de Deus deve ocupar nossos pensamentos. Podemos não ser capazes de fazer grandes coisas, mas o que fazemos deve ser feito com todos os interesses de Deus em vista.

A Porta das Ovelhas 

A primeira das portas a ser reparada foi a Porta das Ovelhas (ARA), e por esta porta todos devemos começar. Feliz aquela alma que ouviu a voz do pastor e pode dizer: “O Senhor é o meu pastor”. Ele veio em busca das ovelhas. Ele foi o Bom Pastor que deu a vida por elas (Jo 10:11). Em meio a todo o universo que Ele trouxe à existência pelo Seu poder, há um grupo que Ele chama de “Seu”, e você e eu, por meio da graça, fazemos parte deste rebanho. Ele deu a vida por nós e é por isso que devemos começar na Porta das Ovelhas. Observe também que não havia fechaduras e ferrolhos nesta porta, pois estava sempre aberta, assim como o caminho para Cristo.

A Porta do Peixe 

“E a Porta do Peixe edificaram os filhos de Hassenaá” (Ne 3:3).

Esta parece ser a porta do evangelho. Quando somos estabelecidos na preciosa verdade de que somos ovelhas de Cristo, temos o privilégio de sair e pescar as almas. Deus realmente nos quer neste trabalho abençoado: O coração do Senhor foi colocado sobre esta obra, pois Ele disse aos Seus discípulos: “Vinde após Mim, e Eu farei que sejais pescadores de homens” (Mc 1:17).

Todos podemos ser de alguma utilidade neste serviço. Se não podemos pregar, podemos orar por aqueles que o fazem. Que possamos nos manter em contato com essa obra do Espírito de Deus e assim ajudar a construir “a Porta dos Peixes”. Mantê-la reparada e aberta para que as almas possam ser “adicionadas ao Senhor” diariamente.

Há uma nota importante e relacionada a isso: “os seus nobres não meteram o seu pescoço ao serviço de seu Senhor” (Ne 3:5). É um privilégio maravilhoso estar associado a Ele de alguma maneira; não sejamos como estes homens de posição que não põem os seus pescoços na obra do seu Senhor.

A Porta Velha 

“E a Porta Velha repararam-na Joiada” (Ne 3:6).

A Porta Velha nos lembra da passagem: “perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para a vossa alma” (Jr 6:16). Há muitos santos de Deus que precisam ter a Porta Velha reparada, para serem edificados naquilo que foi estabelecido desde o princípio em Cristo. Que Deus possa remover o entulho e nos capacitar para edificarmos nossa alma na verdade que existe nos Seus propósitos eternos que são antes dos mundos. O homem muda, Deus não muda. Ele estabeleceu toda a bendita verdade na morte, ressurreição e ascensão de Seu amado Filho, e aqueles que por Sua graça são edificados n’Aquele que é desde o princípio são aptos a ajudar outros nos caminhos antigos.

A Porta do Vale 

“A Porta do Vale, reparou-a Hanum” (Ne 3:13).

Podemos sentir nossa falta de poder, e quão frágeis são os desejos do nosso coração por Cristo, mas será que nos lembramos de que essas coisas só podem ser conquistadas no caminho do vale da humilhação? É um momento maravilhoso quando estamos dispostos a ser guiados pelo vale e termos parte com Deus ali. Sempre deve haver uma descida antes da subida, o vale antes da montanha, a cruz antes da coroa, a tristeza antes do reinado. Este é sempre o caminho de Deus, para que possamos estar “sempre levando no corpo a mortificação [o morrer – ARA] de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nosso corpo” (2 Co 4:10 – TB).

A Porta do Monturo 

“E a Porta do Monturo, reparou-a Malquias, filho de Recabe” (Ne 3:14).

Paulo sabia algo sobre esse lugar; ele aceitou a cruz e, em sua experiência prática, tinha que dizer: “somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e como a escória de todos” (1 Co 4:13). Podemos nos afastar dessa porta, mas o que diremos quando pensamos no caminho que foi trilhado pelo Filho de Deus? Ele, o Filho Eterno, o Infinito, foi expulso, rejeitado, desprezado e cuspido! Ele não tem outro lugar para nós aqui. “Basta ao discípulo ser como seu Mestre” (Mt 10:25).

A Porta da Fonte 

“E a Porta da Fonte reparou-a Salum, filho de Col-Hozé” (Ne 3:15).

Se sabemos algo sobre o que é ser um rejeitado, há o portão da fonte – a fonte de João 4:14, saltando para a vida eterna. Esta porta, como nos mostra o restante de Neemias 3:15, está intimamente ligada ao jardim do rei junto ao tanque de Siloé e aos “degraus que descem da Cidade de Davi”, das quais Ele, o Enviado, desceu quando Ele deixou de lado a glória Messiânica, para que Ele pudesse abrir o caminho para os Seus no jardim de Seu próprio deleite – o amor do Pai (Jo 14:1).

Pode ser que nossa porção seja tirada aqui, mas no poder do Espírito podemos ter a antecipação das alegrias eternas. “Porque em Ti está o manancial da vida” (Sl 36:9).

A Porta das Águas 

“A Porta das Águas, para o Oriente” (Ne 3:26).

Se existe a fonte de águas a jorrar de João 4:14, deve haver também as águas correntes de João 7:38. Se a fonte dentro de nós se eleva a Deus, haverá também o fluxo de correntes de água viva para as almas sedentas em volta. Quão grande privilégio de ser canais daquilo de que Cristo é a fonte! “E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os que n’Ele cressem” (Jo 7:39). Graças a Deus, Seu Espírito ainda está conosco, e Ele não está menos ocupado com todos os interesses de Deus do que estava no início da Igreja.

A Porta dos Cavalos 

“Desde a Porta dos Cavalos, repararam os sacerdotes, cada um defronte da sua casa” (Ne 3:28).

O cavalo é usado na Escritura como o símbolo do poder, e o poder, seja para gozo, adoração, serviço ou perseverança, está sempre conectado com o Espírito de Deus. Ele é Quem nos recorda as palavras de nosso Senhor, nos conduz às profundezas de Deus e, desvendando o futuro, mostra-nos as coisas que estão por vir para que possamos abundar na esperança pelo poder do Espírito Santo e assim reparar a Porta Oriental.

A Porta Oriental 

“Depois deles, reparou Semaías, filho de Secanias, guarda da Porta Oriental” (Ne 3:29).

A Porta Oriental é o portão do nascer do Sol. Estamos esperando para ver a Estrela da Manhã surgir? Que possamos ser como homens que esperam pelo seu Senhor. É menos brilhante em nossa alma do que quando ela veio pela primeira vez a nós? Deveria ter se tornado mais brilhante, pois estamos mais perto do momento em que O veremos como Ele é. “Amém. Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).

Há apenas uma porta a mais – dez ao todo – pois o muro em Neemias está conectado conosco em nossa responsabilidade aqui, e dez na Escritura significa isso. Há doze portas na cidade celestial do Apocalipse, pois tudo é perfeito – a verdadeira administração da vontade de Deus com os homens.

A Porta de Mifcade 

“Depois dele, reparou Malquias, filho de um ourives defronte da Porta de Mifcade” (Ne 3:31).

Essa palavra, “Mifcade”, é traduzida em 2 Samuel 24:9 por “número” e em Ezequiel 43:21, “lugar ordenado”. Amados santos, esse momento feliz está prestes a nascer quando Deus estabelecerá o número de Seus eleitos no lugar ordenado, logo o Senhor cumprirá Sua própria palavra por nós: “virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:3).

Que Deus nos conceda manter diante de nossa alma todo o círculo da verdade com que o Espírito de Deus está ocupado, e que Ele conceda que nosso coração se regozije em levar a sério qualquer parte daquela obra que recaia sobre nossas mãos.

Há apenas uma palavra para nossas irmãs em conexão com a construção do muro. Vocês encontrarão no versículo 12 que as filhas de um desses homens participaram da obra: “E, ao seu lado, reparou Salum ele e suas filhas”. Eu acho que isso é muito precioso; todas têm algum trabalho a fazer, algo para construir de Cristo na alma de outro, por mais oculto que possa ser o seu lugar. Você tem a oportunidade de transmitir aquilo que se tem tornado precioso para sua própria alma, para aqueles com quem você entra em contato. O que quer que você mesma, querida irmã, tenha recebido de Cristo, passe-o adiante para que Seu nome seja glorificado.

J. T. Mawson (adaptado)

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