Origem: Revista O Cristão – O Dia do Senhor

Os Dias da Escritura

A palavra “dia” é usada na Palavra de Deus com diferentes significados que devem ser deduzidos do contexto da passagem. Às vezes, a palavra significa um período literal de 24 horas, às vezes simboliza um ano e outras, uma época ou tempo. Neste artigo, gostaríamos de examinar alguns dos diferentes períodos de tempo na Escritura que são mencionados como “dias”. É importante notar que, quando a Escritura menciona um dia específico nesse contexto, geralmente estão relacionadas à responsabilidade.

O dia do homem 

Esta expressão é encontrada em 1 Coríntios 4:3: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano [do dia do homem – JND]. Embora este dia não seja mencionado em nenhum outro lugar da Palavra de Deus, a verdade relacionada a ele é encontrada em toda a Escritura. Quando Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança e o colocou neste mundo, era com a expectativa que o homem andaria em obediência e dependência d’Ele. Quando o homem exerceu sua própria vontade em desobedecer a Deus, ele começou o período de tempo mencionado como “dia do homem”. Talvez isso tenha se tornado mais pronunciado desde que Cristo foi rejeitado e Satanás foi chamado de deus e príncipe deste mundo.

É o período em que é permitido ao homem, mais ou menos, seguir seu próprio caminho neste mundo, embora Deus venha intervindo de tempos em tempos e cumprindo Seus propósitos, apesar dos planos do homem. É a manifestação do mundo de Caim – o mundo que começou quando Caim saiu da presença do Senhor, construiu uma cidade para si e então se cercou de tudo calculado para fazê-lo o mais feliz possível em um mundo arruinado pelo pecado, mas deixando Deus de fora. O impulso deste mundo está aumentando hoje, mas acabará chegando ao fim.

O dia de Cristo 

O dia de Cristo é mencionado primeiro em Filipenses 1:10, embora seja chamado de “dia de Jesus Cristo” no versículo 6. É mencionado novamente em Filipenses 2:16, e o mesmo período também é conhecido como “o dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:8) e “o dia do Senhor Jesus” (1 Co 5:5; 2 Co 1:14). Paulo também se refere a ele simplesmente como “naquele dia” várias vezes. Da mesma forma, o Senhor Jesus poderia dizer em João 8:56: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia”. Quanto Abraão entendeu das implicações de tudo isso, não sabemos, mas evidentemente esperava a vinda do Messias e “a cidade que tem fundamentos, da qual o Artífice e Construtor é Deus” (Hb 11:10).

O dia de Cristo está conectado com a obra de Deus em Seu povo, com objetivo de exibi-los com Cristo no dia de Seu poder; está, portanto, conectado à responsabilidade. Todas as várias circunstâncias em nossa vida e todas as nossas experiências na escola de Deus estão formando em nós aquilo que será manifestado para a glória de Cristo naquele dia. Naquele dia, cada um será o fruto de Sua obra, tanto Sua obra na cruz por nós como Sua obra em nós durante nossa vida Cristã. Tendo “começado a boa obra” em nós, Ele realmente “a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Fp 1:6). Tudo isso terá como objetivo o tempo em que Cristo “vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que creem” (2 Ts 1:10).

O dia de Cristo é o dia de Sua glória na esfera celestial, assim como o dia do Senhor é o dia de Sua glória na esfera terrenal. No dia de Cristo, Seu povo é visto com Ele. Não apenas haverá a manifestação do que Deus operou em nós por Sua soberania, mas também haverá a manifestação dos galardões – o que foi o resultado do exercício de nossa responsabilidade aqui em baixo neste mundo. Mesmo nisso, sabemos que tudo é de Deus, pois “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2:13). Será nosso gozo naquele dia lançar nossas coroas aos Seus pés e proclamar por toda a eternidade: “Tu és digno”!

O dia do Senhor 

Assim como o dia de Cristo é o lado celestial das coisas, o dia do Senhor nos apresenta o lado terrenal. Este dia é um dia de julgamento, e está conectado com o Senhor Jesus, tomando Seu lugar de direito neste mundo e reinando em justiça. É mencionado pela primeira vez em Isaías 2:12: “Porque o dia do SENHOR dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo”, e é mencionado muitas vezes na Escritura, principalmente nas profecias do Velho Testamento. Ele está primariamente ligado ao julgamento, pois julgamentos terríveis precederão o estabelecimento daquele glorioso reino milenar. Por esse motivo, uma linguagem forte é frequentemente usada para descrevê-lo, tal como: “porque o dia do SENHOR é grande e mui terrível, e quem o poderá suportar?” (Joel 2:11). É referido como o dia do “Filho do Homem” em Lucas 17:24 e virá sobre este mundo como “um ladrão de noite” – inesperado e indesejado.

Mais do que isso, o dia do Senhor incluirá não apenas os julgamentos preparatórios para o estabelecimento do reino de Cristo, mas abrange toda a era do Milênio e também os julgamentos do final do Milênio – o julgamento daqueles que se levantam em rebelião quando Satanás é solto por um pouco de tempo e o julgamento dos iníquos mortos, no grande trono branco. Se o homem corrompeu a criação de Deus e rejeitou Seu Filho, Deus o fará com que Ele seja honrado e glorificado neste mundo – o próprio lugar em que a rejeição ocorreu. “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de Seus pés” (1 Co 15:25).

Devemos lembrar, é claro, que, embora o dia do Senhor seja caracterizado por julgamento, é julgamento apenas sobre aqueles que se opõem ao legítimo Rei de Deus. Deus declarou: “Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o Meu santo monte Sião” (Sl 2:6), e todos os que resistirem a isso serão julgados. Para aqueles que O aguardam e O recebem, o dia do Senhor introduzirá uma bênção sem precedentes e um tempo de paz para este mundo como nunca havia conhecido desde a queda do homem. Realmente será um tempo em que “o Senhor DEUS fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações” (Is 61:11).

O dia de Deus 

O dia de Deus é mencionado apenas uma vez na Escritura: “Aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus” (2 Pe 3:12). (A expressão “naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso” em Apocalipse 16:14 é claramente uma referência a Deus em Seu poder e descreve o dia do Senhor). O dia de Deus traz diante de nós o que às vezes é chamado “o estado eterno”, pois é um estado de coisas que permanece por toda a eternidade, muito depois de o reino milenar ter chegado ao fim. Também é referido em 1 Coríntios 15:28: “Então também o mesmo Filho Se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”. Quando Cristo “houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força” (1 Co 15:24), Ele entregará o reino a Deus, o Pai. Neste momento (no fim do dia do Senhor), Deus destruirá a presente Terra e os céus – “os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão” (2 Pe 3:10). Então chega o dia de Deus, “em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão” (2 Pe 3:12). Por meio dos julgamentos durante o dia do Senhor e a subsequente destruição da Terra e dos céus pelo fogo, o pecado será removido para sempre, inaugurando o dia de Deus.

O dia de Deus (e é Deus em Trindade que está em manifestação aqui) será um tempo de paz, onde o pecado nunca mais levantará a cabeça. Se o dia do Senhor é necessário para a reivindicação pública do caráter santo de Deus, o dia de Deus é para a eterna satisfação de Seu coração. Temos uma descrição desse dia em Apocalipse 21:1‑8, onde há “um novo céu e uma nova Terra” – a nova criação resultante da remoção do pecado para sempre, pela obra de Cristo. Nesse dia será o cumprimento final e visível de João 1:29: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Deus habitará para sempre com os homens, e todas as lágrimas serão para sempre enxugadas.

Não precisam de Sol ou vela;
Nenhuma noite há,
Mas o dia sem fim – o dia de Deus;
E todo coração derrama um eterno cântico.

W. J. Prost

Compartilhar
Rolar para cima