Origem: Revista O Cristão – O Cordeiro de Deus
A Dignidade do Cordeiro
Todas as associações na mente de cada santo de Deus são ricas e benditas quando conectadas com o título de Cristo sendo “o Cordeiro”. Pode-se questionar se aquilo que marca a mente celestial com seu significado peculiar traz plenamente, como deveria, seu lugar e peso na alma. A exclamação enfática de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus!” indica a graça d’Aquele que leva este nome e marca o Seu título para a adoração do nosso coração. Mas este título, que é levado por Aquele mesmo Bendito nas alturas, revelado no livro do Apocalipse, nos traz associados a outras glórias e outras cenas além daquelas que encontramos nas sagradas reflexões de João, quando ele contemplou o bendito Jesus caminhando pelas margens do Jordão.
Este título é quase exclusivamente ligado ao livro do Apocalipse, que pode ser chamado de livro dos “direitos do Cordeiro”. Este título, em sua primeira ocorrência no livro, faz com que o céu, a Terra e toda a criação redimida sejam despertados para louvar, dizendo com grande voz: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças” (Ap 5:12). Só Ele Se tornará o centro do louvor universal.
A vindicação do Cordeiro
Há, sem dúvida, uma diferença marcante na apresentação de “o Cordeiro” como havendo sido morto neste livro e em Sua apresentação com o mesmo título em João 1:29, 36, os outros dois únicos lugares na Escritura nos quais isso ocorre como um título. Em Apocalipse “o Cordeiro” morto não é apresentado tanto como a provisão de amor de Deus para satisfazer a necessidade de um pecador, mas como Ele é mostrado, por Sua rejeição e sofrimento na Terra, como tendo o direito de possuir o poder universal. Somos chamados a contemplar as justas reivindicações deste sofrimento e rejeição desta vitima, como sendo reconhecidas no alto. É verdade que a cruz permanece em todo o seu mistério maravilhoso de amor, mas temos neste livro o levantamento de um véu, mostrando coisas além do testemunho direto do Espírito na Igreja. Primeiro Jesus é mostrado estando na posição para repreender a decadência da Igreja como Sua testemunha no mundo. E então, na parte profética, não é tanto o Espírito aqui em baixo testificando de Cristo, como visto nas alturas, mas pelo contrário, o Espírito de profecia fala do progresso das coisas aqui na Terra em conexão com os conselhos celestiais, que resultam na reivindicação dos direitos do “Cordeiro”. É a bendita realização, no poder desta palavra em Filipenses: “Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus O exaltou soberanamente e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na Terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:8-11). É a recompensa da perfeita obediência de Cristo à vontade do Pai. Portanto, é por todo o tempo em que Cristo como “o Cordeiro”, no meio do trono, está em conexão com a Terra e a criação, em vez de diretamente com a Igreja.
O céu e a Terra O reconhecem
No quinto capítulo esta dignidade do Cordeiro é proclamada, e nenhum feito pode ir além disso. O céu, a Terra e toda a criação redimida reconhecem as reivindicações completas da glória de Cristo como Mediador – “o Cordeiro que foi morto”. Somos levados ao ponto “quando (Ele) houver aniquilado todo império e toda potestade e força”, e quando Ele entregar o reino a Deus, o Pai. “E ouvi a toda criatura que está no céu, e na Terra, e debaixo da Terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Ap 5:13).
No desafio que traz o Cordeiro à cena, há a questão: “Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?” Mas “ninguém no céu, nem na Terra, nem debaixo da Terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele”. Mas há Um, e apenas Um encontrado que poderia aceitar este desafio. “E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a Terra. E veio e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono” (Ap 5:6-7). Na redenção, Cristo obteve um título para ser o Senhor de toda a criação, assim como a bendita Cabeça da Igreja. Como vítima sofredora, mansa e sem oferecer resistência, o céu concede a Ele o título de poder e louvor universal. O tributo do universo precisa ser prestado somente a Ele, que até à morte afirmou a glória de Deus em um mundo de maldade. Na dispensação da plenitude dos tempos, Ele receberá o louvor que Lhe é devido por toda a Sua bondade, mesmo nas misericórdias naturais e temporais que nós, Suas criaturas, desfrutamos nesta vida.
Aqueles que O honram
Felicidade é para o santo, descansar no amor e na graça d’Aquele que está no meio do trono, e mais feliz ainda, é procurar agora sustentar a honra do Seu nome, contando somente com Seu poder, d’Aquele que tem “sete pontas e sete olhos”, pois quão seguramente o Seu poder e graça são dirigidos para sustentar o coração que conta com a Sua bondade em buscar, no mundo maligno, fazer a Sua vontade. Logo esse poder, que agora secretamente sustenta, controla e prevalece em meio à confusão do poder de Satanás, será manifestado abertamente. E quão brevemente esta brilhante cena de glória irromperá em nossas expectativas!
Seus inimigos
Mas há outro lado da cena. Quando o poder divino reivindicar os direitos da Vítima rejeitada na Terra, que assombro encherá o coração daqueles que desprezam Seu nome e, finalmente, irão ser encontrados em ordem de batalha para resistir às Suas reivindicações. “Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis” (Ap 17:14). Mas antes desta hora chegar, que quadro de assombro para o mundo é apresentado quando o Cordeiro abrir o sexto selo! “E os reis da Terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo servo, e todo livre se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos do rosto d’Aquele que está assentado sobre o trono e da ira do Cordeiro, porque é vindo o grande Dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?” (Ap 6:15-17).
Não haverá mais maldição
O cântico do céu é: “Digno é o Cordeiro, que foi morto” (Ap 5:6-13), e o Livro do Apocalipse é cheio de referências tanto ao poder quanto à glória d’Aquele que é chamado de “o Cordeiro”. E, finalmente, não haverá mais maldição, porque o trono de Deus e o do Cordeiro estarão lá (Ap 22:3-5). Estes são apenas breves menções do maravilhoso caráter e reivindicações d’Aquele que no céu é visto como “o Cordeiro”. A Vítima sofredora aqui na Terra está prestes a ser trazida em plena investidura da glória do céu; não haverá lugar para quem se recuse a se curvar em honra ao Seu nome.
As bodas do Cordeiro
Embora o assunto principal deste livro seja a apresentação e consumação das reivindicações de Cristo à honra e ao poder universais como o Cordeiro sofredor, há algo que brilha, como se fosse incidentalmente, na reivindicação de Sua glória. Longe da cena de conflito e diante do Cordeiro que vem assentado num “cavalo branco”, lá é visto nos átrios pacíficos do céu as “bodas do Cordeiro”, e é dito “a Sua esposa se aprontou”. Sua glória não pode ser declarada sem que estejamos com Ele nesta cena. “Para que também com Ele sejamos glorificados” é a palavra da Escritura! O gozo deve começar no alto antes que a glória seja manifestada aqui abaixo. Do céu surge o Cordeiro para remir a herança e apoderar-Se de Sua glória, e “quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, também vós vos manifestareis com Ele em glória” (Cl 3:4).
Como isso ensina o coração de quem conhece o noivado da Igreja com Cristo, e quão pouco tem a ver com todos os objetivos dos homens! Quão pouca razão temos para cobiçar a sabedoria, o poder ou a glória do mundo, enquanto outro senhor e príncipe é o seu dono! Ainda não é a Terra no poder da redenção e dando sua honra voluntária ao Cordeiro, mas é o mundo que fez do Cordeiro uma vítima sofredora e ainda retém sua oposição às Suas reivindicações.
Present Testimony (adaptado)
