Origem: Revista O Cristão – O Digno Juiz

“Digno és”

Nos primeiros capítulos do livro do Apocalipse, bem como em outras partes do Novo Testamento, lemos sobre o Senhor Jesus em Seu caráter de Juiz. Mesmo no Velho Testamento encontramos referências do mesmo caráter judicial, como, por exemplo, em Salmos 67:4: “Julgarás os povos com equidade, e governarás as nações sobre a Terra”. Aqui, entretanto, o antecedente no verso 3 é “Deus” (Elohim – Deus no plural), pois a completa revelação de Deus não tinha sido dada ainda no Velho Testamento. Pelo nosso ponto de vista privilegiado na completa luz do Cristianismo, sabemos que todas as ações de Deus são em trindade, quer seja na criação, redenção, julgamento, ou em qualquer outro ato. Deus o Pai é o originador dos pensamentos e propósitos, Deus o Filho é Aquele que os coloca em ação, e Deus o Espírito Santo é o poder pelo qual são realzados os Seus propósitos.

Esta é certamente uma das razões pelas quais o Senhor Jesus é o Juiz de todos e a razão pela qual Ele será o único a realizar o julgamento deste mundo. Entretanto, há diversas outras razões, algumas das quais gostaríamos de abordar.

O Filho 

Primeiro de tudo, lemos em João 5:22-23, “O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai”. Já que o Senhor Jesus andou neste mundo como Homem, existe uma tendência para muitos neste mundo, e em particular na nação Judia, de denegri-Lo e negar Sua divindade. Deus o Pai O fará ser honrado como Deus, assim como o Pai é honrado. Por essa razão, todo julgamento foi dado a Ele. Nesse sentido, Ele não toma o lugar do juiz por Si mesmo, embora tenha o direito de fazê-lo como parte de Sua Deidade, antes, Ele o aceita porque o Pai deu a Ele.

O Criador 

Quando chegamos a Apocalipse 4 vemos o trono do julgamento estabelecido com tudo o que fala de conhecimento perfeito, justiça e poder. Mas então os vinte e quatro anciãos se prostram, adoram e exclamam: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas” (Ap 4:11). Como sendo Aquele que criou todas as coisas, o Senhor Jesus tem o direito de julgar aqueles a quem Ele criou. Eles foram criados para o Seu próprio prazer; o homem não deu a Deus esse prazer, mas sim o oposto. Porém quando o Senhor Jesus nasceu neste mundo, os anjos puderam dizer: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade [bom prazer – JND] para com os homens!” (Lc 2:14). Pela primeira vez desde que o pecado entrou neste mundo, o olho de Deus pôde descansar com prazer em algo neste mundo. Agora, como Criador, Ele tem o direito de julgar aquilo que não Lhe deu prazer.

O Filho do Homem 

Mas há outro título dado ao Senhor Jesus, e sobre o qual precisamos parar para observar um pouco, pois é outra razão pela qual Ele é o Juiz. Lemos em João 5:26-27: “O Pai deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem”. Em João 5:25, lemos que “os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão”. Ele é o Filho de Deus desde toda a eternidade, e é como Filho de Deus que Ele ressuscita os mortos, mas Seu título como Filho do Homem data de Sua encarnação – desde que Ele Se tornou homem. É um nome que fala de Sua humilhação e glória subsequente, e é sob esse nome que Ele exerce julgamento. Alguém explicou bem, que “o Filho do Homem é, de acordo com a Palavra, o Herdeiro de todos os conselhos de Deus destinados ao homem como sua porção em glória — tudo o que Deus daria ao homem de acordo com esses conselhos” (Veja Dn 7:13-14 e Sl 8:5-6). Mas, para ser o Herdeiro de tudo o que Deus destinou ao homem, Ele deveria ser um Homem. O Filho do Homem era verdadeiramente da raça dos homens: Uma verdade que é preciosa e consoladora! Nascido de uma mulher, realmente e verdadeiramente um Homem, e participando da carne e do sangue, feito como Seus irmãos (G. V. W.).

O homem em Adão recebeu o lugar de cabeça da criação e falhou miseravelmente naquela esfera de autoridade. Mas Deus será honrado “no Homem” neste mundo, por meio de Seu amado Filho. Aquele que veio em humildade, um dia julgará tudo o que é contrário a Deus e governará em justiça.

Cristo vindicado 

Conectado com Seu título como Filho do Homem é outra razão pela qual o Senhor Jesus deve ser o Juiz de todos – isto é, que Cristo deve ser vindicado no mundo que O expulsou. A natureza santa de Deus deve ser justificada em um mundo de pecado – um mundo que rejeitou o último Mensageiro de Deus, Seu amado Filho. Os julgamentos que precedem o estabelecimento do Milênio, todo o dia milenar e os julgamentos no final daquele glorioso reinado de 1.000 anos compreendem o que a Escritura chama de o Dia do Senhor. É o dia em que o Senhorio de Cristo será reconhecido, em contraste com o tempo presente, quando Suas reivindicações são amplamente rejeitadas. Por essa razão, temos a expressão em 1 Coríntios 15:25: “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de Seus pés”. Ele deve ser o Executor do julgamento, de acordo com os justos tratamentos de Deus para com este mundo.

O direito e o poder como Redentor 

Finalmente, e mais precioso, chegamos a Apocalipse 5, onde encontramos a razão mais exaltada para a dignidade do Senhor Jesus ser o Juiz. Aqui o livro do juízo nos é trazido a cena, e um anjo forte proclama em alta voz: “Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?” (Ap 5:2). Mas “ninguém no Céu, nem na Terra, nem debaixo da Terra, podia abrir o livro” (v. 3). Ninguém tem autoridade ou poder para julgar, até que “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” (v. 5) Se apresente. No entanto, quando Ele aparece, é como “um Cordeiro, como havendo sido morto” (v. 6). Se o homem fracassou e Deus deve julgá-lo, o caráter de Deus em amor é manifestado em prover um caminho de escape que é por meio de Seu amado Filho. É o amor de Deus e Sua glória em redenção que magnificam o pecado do homem, ao mesmo tempo que engrandecem a graça de Deus. Assim vemos que “Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos”, pois és Aquele que foi morto e “compraste [redimiu – KJV] para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação” (v. 9).

Há muitas glórias de Deus e do Senhor Jesus também, mas a glória de Deus na redenção nunca havia sido vista antes da cruz. É somente a partir da cruz que vemos, pela fé, a “iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4:6), e é a glória de Deus em redenção que é demonstrada aqui. Mas Satanás não aceita isto, se em sua medida de poder como “o deus deste século” ele “cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4). Se a suprema glória de Deus – Sua glória em redenção – é desprezada, podemos dizer que é apropriado que Aquele que executou esta redenção seja seu Juiz.

Assim, vemos que Deus foi glorificado por meio de Seu Filho amado e, como resultado, Ele glorificará o mesmo Filho amado, “a Quem constituiu Herdeiro de tudo” (Hb 1: 2). Ele deve ser o Juiz de todos, para desfazer tudo o que Satanás e o homem fizeram para manchar a glória de Deus, bem como para para trazer uma nova criação “em que habita a justiça” (2 Pe 3:13).

W. J. Prost

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