Origem: Revista O Cristão – Direção para um Dia de Ruína
A Caminhada dos Santos Segundo o Espírito
Gostaria de examinar na Escritura o caminho do Cristão no presente momento e nossa responsabilidade em conexão com a presença do Espírito Santo na Terra e como membros do corpo de Cristo. Sabemos que a Igreja professa caiu em ruínas, na qual nós mesmos estamos envolvidos. Mas Deus permitiu que as raízes de todo esse estado fosse expostas nos dias apostólicos, para que pudéssemos ter direção da Sua Palavra sobre tudo isso e Sua direção na cena de confusão que existe ao nosso redor. Não podemos deixar a profissão do Cristianismo e sair para fora dela, nem Deus nos obriga a permanecer em um caminho onde a consciência é violada e a Palavra de Deus desprezada.
A Epístola de 2 Timóteo não foi escrita em um dia em que tudo estava em ordem e a Igreja de Deus caminhava no primeiro frescor de poder e bênção. Antes, foi escrita exatamente quando os dias eram mais sombrios nos tempos apostólicos. A decadência gradual, porém segura, começou imediatamente na Igreja primitiva. O joio foi semeado entre o trigo, pessoas falsas foram introduzidas, vindas de fora e o inimigo começou a semear discórdia vindas de dentro. Parte disso é evidente nas epístolas anteriores de Paulo, mas quando chegamos a 2 Timóteo, essas coisas eram atuais e todos os da Ásia haviam se afastado de Paulo. É então que o Espírito Santo prevê o estado dos “últimos dias”, que estavam chegando. Os “tempos trabalhosos” chegariam, e o estado dos Cristãos nominais se tornaria como o dos pagãos, mas com a diferença de “uma forma de piedade”, enquanto negavam o poder disso. A Igreja professa, que havia sido estabelecida na Terra como “a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15), era agora a esfera em que o erro e o mal existiam sem oposição.
Separação e largueza
Quais eram os princípios de Deus quando a esfera criada por Ele, em qualquer momento da Terra, foi corrompida? Podemos notar que esses princípios eram Seus antes que o mal entrasse em cena e permanecessem inalterados pelas circunstâncias que se seguiram. Eles eram “separação” e “largueza” – separação para Deus porque Ele é santo e largueza de coração porque Ele é gracioso! Vemos isso muitas vezes na história do homem.
O Jardim do Éden era separado do resto da cena, para o homem habitar, e ainda assim, dele fluíam quatro rios para levar suas bênçãos para o resto da Terra. Quando Deus dividiu o mundo em nações em Babel, Deus chamou Abraão para fora delas, separando-o para Si mesmo, porque Ele era santo; todavia, por Ele ser gracioso, prometeu que “em ti serão abençoadas todas as famílias da Terra”. Assim também em Israel: Eles deveriam ser santos para o Senhor, mas deveriam ser o centro do qual a bênção deveria fluir para as nações.
Quando Israel, sob Arão, fez o bezerro de ouro, Moisés orou ao Senhor para poupar o povo ou apagar o seu nome do livro que Ele havia escrito. Mas “tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação” (Êx 33:7). Aqui, novamente, estava a separação a Deus, mas a largueza de coração para Seu povo e para sua verdadeira bênção.
Quando nos voltamos para 2 Timóteo, encontramos esse mesmo princípio aplicado ao nosso caminho. O coração do apóstolo está sobrecarregado com o pecado no qual o povo de Deus estava agora envolvido, mas brilhava no frescor da coragem necessária para elevar alguém acima de tudo. Frequentemente, a alma fica sob o poder e a percepção do mal a tal ponto que fica ocupada com ele, perdendo assim a visão de Deus. Mas, embora consciente do mal, o coração pode voltar-se para Deus e encontrá-Lo superior ao mal; somos chamados a nos separarmos para irmos a Ele.
Recuperação individual
Esse caráter das coisas ocupa a maior parte da epístola. O Espírito de Deus reconhece que não há recuperação eclesiástica para a Igreja de Deus como um todo, mas sempre há recuperação individual pela verdade. Ele estava tratando dos falsos ensinamentos dos “Himeneus” e “Filetos”, e coisas assim, quando acrescenta: “No entanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo esse selo: O Senhor conhece aqueles que são Seus; e todo aquele que profere o nome do Senhor se retire da iniquidade” (2 Tm 2:19 – JND). Quão revigorante é pensar que nenhuma quantidade de corrupção destruiu aquele fundamento seguro de Deus! Mas aqueles ocultos do Senhor devem estar separados do mal para Ele. Que o mal seja moral, doutrinário, intelectual ou religioso, o caminho é o mesmo – “retirar-se da iniquidade” é responsabilidade do santo que profere o nome do Senhor. Somente assim ele “será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2 Tm 2:21).
A palavra “purificar” é encontrada apenas duas vezes na língua original das Escrituras do Novo Testamento. O primeiro lugar é em 1 Coríntios 5:7: “Alimpai-vos (purificai-vos), pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós”. Isso marcou a responsabilidade de toda a Igreja de Deus, mas ela não fez isso como um todo. Agora vem o segundo uso da palavra. O indivíduo, encontrando-se em meio a “uma grande casa”, cheia de vasos para honra e para desonra, deveria se “purificar” desses, se mantendo afastado deles, para ser um vaso de honra para uso do Mestre.
Porém, quando alguém dá esse passo, pode fomentar nele um espírito farisaico, e assim temos: “Busque a justiça, a fé, o amor, a paz, com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro” (2 Tim 2:22 – JND). Ele encontraria outros que, como ele, tinham a graça dada para estarem separados para o Senhor, e ele deveria andar com eles, em santidade de conduta e em coração puro.
O que devemos abandonar, e a que devemos nos apegar
Mas essa separação para o Senhor tem, até agora, apenas um caráter de coisas que se devem abandonar. Queremos algo mais; precisamos de um terreno de ação positiva, onde ganhamos, para nossa alma no meio dessa cena. Aqui, então, vem a verdade imutável da unidade do corpo de Cristo, pois é dentro da esfera da Cristandade que o Espírito Santo mantém essa unidade. Exteriormente, está despedaçada e é absolutamente impossível restaurá-la ao seu estado original, mas sou sempre responsável por me colocar em posição correta diante de Deus. Se, como membro de Cristo, me separo do mal, também encontro outros; nos reunimos como Seus membros para adorar o Pai e lembrar de nosso Senhor. Mas é como membros de Cristo e como agindo na verdade daquele “um só corpo” e em nenhum outro fundamento! Estamos assim em uma largueza de verdade que abraça todos os membros de Cristo na Terra!
A unidade do corpo
Não podemos manter nem quebrar a unidade do corpo – que é mantida pelo próprio Espírito, apesar de todas as falhas do homem. Mas devemos continuar esforçando-nos “diligentemente para guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4:3 – TB). O que é, então, essa unidade? É o poder e o princípio pelo qual os santos são capacitados a caminhar juntos em seu próprio relacionamento no corpo e como membros de Cristo. Posso desfrutar com toda alma verdadeira tudo o que ela desfruta na unidade do Espírito. Se uma luz nova atinge a alma de alguém e ele a recusa, nunca devo comprometer a verdade em favor dele. Tudo isso envolve o corpo de Cristo; é o fundamento da ação, porque o Espírito de Deus a mantém.
Essa unidade também exclui mais completamente a individualidade; ninguém pode tomar um lugar isolado. Se ele é chamado para ficar sozinho em alguma localidade, ele ainda está em terreno comum, em todo o mundo, com todos que estão caminhando em tal verdade. Também exclui a individualidade, quando junto com os outros, pois alguém pode ser tentado a agir independentemente dos outros membros de Cristo. Essa preciosa verdade também nos lança fora de todo sistema humano, mas nos mantém naquela unidade que está de acordo com Deus!
Ora, aqui está o fundamento divino e positivo sob nossos pés para este dia de ruína. Este não é apenas meramente um caminho negativo. É amplo o suficiente para todos, porque abrange tudo em sua largueza, estejam eles presentes ou não. Exclui o mal de seu meio, pois admiti-lo faria com que deixasse de ser a unidade do Espírito. Não é meramente uma unidade de Cristãos, que o homem procura efetuar, às vezes à custa da verdade do corpo de Cristo. Deus atribui unidade a Cristo, não Cristo à unidade! Então deve ser verdade em natureza para Ele de Quem é o corpo; deve ser praticamente santo e verdadeiro (Ap 3:7).
