Origem: Revista O Cristão – Primogênito
O Direito de Primogenitura
Rúben era o primogênito de Israel (1 Crônicas 5:1). Como tal, ele tinha um lugar de proeminência, pois o primogênito tem precedência sobre toda a família, e por meio dele a principal linha ancestral é normalmente traçada. Mas Rúben é colocado de lado, e a proeminência natural da primogenitura apenas o rebaixou ainda mais quando ele a perdeu. A ordem da natureza não é a ordem de Deus, e nada pode suprir os desvios da natureza, a não ser a misericórdia soberana de Deus. Sempre foi assim desde que o homem caiu. Essa misericórdia é vista nos caminhos governamentais de Deus, mas, muito mais em Seus caminhos de graça! Sob a graça, como um princípio fundamental, primeiro é “o natural; depois, o espiritual” (1 Co 15:46 – ARA). Deus deu a primogenitura a José. No entanto, mesmo aqui, mostrando a soberania da graça, a genealogia não deve ser considerada segundo a primogenitura.
A genealogia
A genealogia é a do Governante Supremo. Na sabedoria de Deus, o direito de primogenitura e o governo supremo são separados por um breve espaço. O direito de primogenitura era de Cristo quando Ele veio ao mundo, mas se Ele tivesse assumido o governo supremo naquele momento, o que só poderia ter sido em juízo, onde estariam a cruz, a redenção e a glória de Sua graça? Ele veio inicialmente “para ser cortado e não ter nada” (Dn 9:26 – JND), pois havia uma questão mais profunda antes que Ele pudesse aparecer como Governante Supremo de acordo com os conselhos de Deus. Foi necessária uma figura distinta, tal como José, para expor a verdade de que o Governante Supremo, a Quem pertencia o direito de primogenitura, deveria aparecer como Aquele cujo direito de primogenitura foi negado. Ele, o Primogênito, possuindo todos os direitos no céu e na Terra, foi expulso e rejeitado por Seu próprio povo, como José por seus irmãos.
Esses são os propósitos do amor de Deus e são prefigurados desde o princípio. Desde que o pecado entrou, Deus em todos os Seus antigos tratamentos e caminhos declara quão grande é o Seu amor e como ele poderia ser com justiça manifestado aos pecadores. Sacrifício e derramamento de sangue, desde os primórdios, e tudo o que foi ordenado sob a lei, apontam para a cruz, sem a qual nada além de perdição eterna seria possível para o homem.
A cruz é antes da coroa
José como governante do Egito é figura do futuro governo e reinado de Cristo. O poder e a força do Governante e Conquistador Supremo foram preditos na mesma palavra que anunciou Seus sofrimentos, pois no Éden o Senhor Deus disse à serpente: “Ele esmagará a tua cabeça, e tu esmagarás o Seu calcanhar” (Gn 3:15 – JND). O triunfo no Mar Vermelho, as vitórias de Josué, de Davi e a glória de Salomão apresentam uma imagem vívida do futuro reinado do Governante Supremo e como a cabeça da serpente será esmagada. Mas a vitória final deve vir depois do sofrimento. O esmagamento do calcanhar da Semente vem antes do esmagamento da cabeça da serpente. A cruz é antes da coroa; o trono é erguido na sombra da cruz, e as glórias de cada um brilham ainda mais.
O direito de primogenitura
A primeira menção do direito de primogenitura é em conexão com alguém (Esaú) que o desprezou, e Hebreus 12:15-16 faz alusão a ele como um aviso aos crentes. Todos na Igreja de Deus são primogênitos, mas podemos, se tivermos uma mentalidade mundana aqui, perder o gozo e até mesmo o conhecimento de nossos privilégios. Esaú, que vendeu seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, é chamado de profano; para nós é como se um Cristão trocasse sua posição e caráter celestiais por algum desejado bem terrenal, por um presente conforto neste mundo ou para escapar do vitupério de Cristo.
O “direito de primogenitura” era um dos marcos de Deus para o suporte e manutenção da devida autoridade e ordem entre os homens. Esaú o desprezou e o vendeu. Rúben o perdeu. Jacó o obteve tirando vantagem das necessidades de Esaú, mas aquela compra foi uma forma vazia e sem valor. Isaque era o depositário do direito de primogenitura, não para fazer com ela o que quisesse, mas de acordo com a vontade de Deus. Isaque não estava enganado quanto à Palavra de Deus; ele sabia que o mais velho deveria servir ao mais novo, mas sua vontade própria o cegou quanto à vontade de Deus e quanto à personalidade de Jacó. Este é o exemplo mais marcante da mão soberana de Deus: a vontade do homem aparentemente bem-sucedida, mas Deus realizando a Sua.
Para José, o direito de primogenitura é um presente imediato de Deus, sem nenhuma tentativa injusta de obtê-lo. Mas seus irmãos se ressentiram da ideia de José ser o principal entre eles, então o venderam como escravo para o Egito. Foi lá que os privilégios e a autoridade do direito de primogenitura foram vistos nele. Os meios que eles usaram para impedir foram os meios de Deus para realizar o Seu propósito.
Assim será no dia vindouro. José assume posição como primogênito na família, mas não da maneira natural. E o nosso José não é o primeiro homem, mas o Segundo, não o primeiro Adão, mas o Último. No entanto, Ele é o Primogênito, e quando Ele aparecer, Israel, como os feixes de trigo, as primícias da Terra, fará reverência a Ele.
A visão de Jacó a respeito do sonho profético de José parece estar limitada à sua própria família, mas o sonho vai muito além da família de Jacó ou da nação de Israel. Naquele dia resplandecente, Israel como a primeira das nações na Terra será como o Sol, a Lua e as estrelas, as fontes de poder e autoridade para os gentios subjugados. Cristo governará de Sião, e Israel, a nação escolhida, será príncipe na Terra, os canais de suas bênçãos no Milênio.
A realeza de Judá
Que verdades maravilhosas estão envolvidas nos sonhos de José! Era a vontade de Deus, então, dar a primogenitura a José e a realeza a Judá. Portanto, lemos: “Judá prevaleceu sobre seus irmãos, e dele veio o Príncipe” (1 Cr 5:2 – TB). Por um breve espaço, ambas são vistas em José, mas então lemos: “Judá prevaleceu” (TB). Que maneira graciosa de declarar o propósito predeterminado de Deus! Judá prevalecer é simplesmente a vontade de Deus. Portanto, ele prevaleceu, mas não por sua bondade. Rúben era um homem imoral, mas não era violento. Simeão e Levi eram violentos, mas não eram imorais. Mas Judá era as duas coisas, pois foi ele quem sugeriu vender José para o Egito, e os detalhes sujos de sua vida familiar estão registrados na Palavra de Deus. No entanto, parece ter havido total arrependimento, e a graça de Deus lhe deu o lugar de honra.
Entre os sonhos de José e sua realização, houve um período de sofrimento; ele foi expulso, odiado por seus irmãos, vendido como escravo aos gentios, mas acabou governando sobre eles antes que seus irmãos se curvassem a ele. Passa diante de nosso coração Alguém maior que José, que suportou maior ódio dos Seus e foi, por eles, entregue aos gentios para ser crucificado. Ele agora é adorado por aqueles tomados dentre os gentios, e esses se inclinam perante Ele (Atos 15:14), enquanto o Judeu ainda está na terra da fome.